Coração artificial ajudará pacientes na fila à espera de transplante



Aparelho desenvolvido pela equipe do Dante Pazzanese será testado em doentes até o fim deste ano

Se tudo der certo, no começo de 2009 pessoas com problemas cardíacos poderão beneficiar-se do coração artificial auxiliar que está sendo desenvolvido no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Embora sem definição de custo até o momento, os pesquisadores garantem que o equipamento nacional será bem mais barato do que os comercializados no exterior (em média US$ 150 mil dólares). 

O dispositivo é indicado aos pacientes com doença arterial coronária, que leva ao infarto do miocárdio. Nessa situação, quando o coração não funciona bem, o doente precisa de transplante. Porém, como não há doadores suficientes, a saída tem sido aguardar durante meses na fila de espera.

O Pazzanese criou o coração artificial auxiliar para trabalhar junto com o natural, avariado, enquanto não se consegue doador para o transplante. O órgão artificial também será empregado quando um doente fizer cirurgia cardíaca e não resistir ao procedimento. “Esse dispositivo poderá ser usado logo após a operação, para permitir a sustentação do paciente até que o coração recupere sua capacidade de manter a circulação”, explica o diretor do Pazzanese, o médico Leopoldo Soares Piegas.

Antes de começar a salvar seres humanos, o coração artificial precisa ser testado em bezerros, que possuem sistema circulatório semelhante ao dos humanos.Carneiros e bezerros – “Até agora, dominamos 80% das técnicas que garantem a eficácia do uso do equipamento. Falta melhorar as técnicas de acompanhamento no pós-operatório, para evitar coagulação do vaso sangüíneo dentro do aparelho sintético implantado nos bezerros”, informa o engenheiro mecânico Aron Andrade, do setor de Bioengenharia do Pazzanese, um dos pesquisadores do projeto.

Há nove anos foram realizados os primeiros experimentos em carneiros. Em 2002, o coração artificial auxiliar começou a ser testado em bezerros. “Nessa época, os bovinos morriam até mesmo durante a cirurgia”, lembra o pesquisador.

De lá para cá ocorreram 21 ensaios com 21 bezerros. Ao longo do tempo, as técnicas cirúrgicas e o acompanhamento pré e pós-operatório foram aperfeiçoados. Nos testes mais recentes, bezerros sobreviveram duas semanas.

O setor de Bioengenharia do Pazzanese, que atua nessa pesquisa, é integrado por profissionais de diversas áreas – engenheiros mecânicos e eletrônicos, tecnólogos em saúde, torneiros e técnicos mecânicos, veterinários, cirurgiões cardíacos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Coração de silicone – Quando o bezerro se submete a uma cirurgia para a abertura do tórax, o sistema é implantado no coração, que passa a ser controlado por um dispositivo externo. A equipe de Bioengenharia analisa os órgãos (rins, pulmões, cérebro, artérias e coração) mortos, o que leva ao aperfeiçoamento gradual das técnicas adotadas. 

A meta da equipe é aprimorar o aparelho e os procedimentos de tal forma que os animais permaneçam vivos 30 dias. Quando isso for possível, provavelmente até o final do ano, o próximo passo será a avaliação clínica do dispositivo em seres humanos.

Andrade diz que o coração artificial pode permanecer no organismo, junto com o coração natural, até cinco anos. Esse aparelho sintético contém um tipo de borracha semelhante a silicone, mesmo produto utilizado em dispositivos importados.

Há várias vantagens em relação a aparelhos estrangeiros que substituem o coração natural. A cirurgia é mais simples, a recuperação é mais fácil e é possível manter o controle da freqüência cardíaca e da pressão arterial. “Se o equipamento parar por algum problema mecânico, o coração natural não pára. No outro, como substitui o coração, a pessoa morreria. Nosso equipamento oferece mais segurança”, sustenta Andrade.

O projeto tem apoio da Secretaria de Estado da Saúde, Fundação Adib Jatene, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Pazzanese, tradicional centro de pequisa

O Dante Pazzanese faz pesquisa com protótipos de coração artificial desde os anos 1980, quando o cardiologista Adib Jatene era diretor da instituição. Naquela época, porém, os experimentos não tiveram sucesso.

Outras instituições tentaram criar dispositivos semelhantes, mas a equipe garante que “não existe no Brasil projeto em nível tão adiantado como o nosso”.

O Dante Pazzanese é um instituto de cardiologia da Secretaria de Estado da Saúde. Seus ambulatórios recebem mais de 20 mil pessoas por mês. Realiza 200 cirurgias mensalmente, a maioria cardíaca. Também faz transplantes de coração, rim e fígado.

Tem tradição de pesquisa e ensino desde sua fundação, em 1954. A unidade já ofereceu formação em cardiologia clínica e cirúrgica a mais de 1,3 mil médicos, do Brasil e do exterior. Mensalmente, dezenas de médicos residentes são treinados no hospital.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



01/23/2008


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