CPI da Segurança: Diógenes aponta conspiração contra governo do Estado e PT



 
Em depoimento na CPI da Segurança Pública nesta segunda-feira (5/11), o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, classificou as denúncias que ligam o Clube, o governo do Estado e o PT ao jogo do bicho como “uma conspiração tenebrosa”.

Diógenes Oliveira confirmou o encontro com o ex-chefe de Polícia Luís Fernando Tubino, ocorrido, segundo ele, há mais de dois anos, mas garantiu que nunca arrecadou nenhum centavo decorrente de atividade ilícita. “Não sou bicheiro, não sou amigo de nenhum bicheiro e repudio energicamente todas as afirmações neste sentido”, observou.

Ele disse ainda que não foi o autor da gravação e que somente ele e Tubino participaram da conversa.
O diretor do Clube de Seguros revelou que conheceu o delegado Luís Fernando Tubino quando, juntamente com o ex-tesoureiro do PT Dirceu Lopes, o procurou para organizar o desconto em folha para o partido das contribuições financeiras dos cargos de confiança.

Segundo Diógenes, ao freqüentar o Mercado Público de Porto Alegre foi abordado por alguns apontadores do jogo do bicho, que reclamaram que estariam sendo perseguidos por integrantes da Polícia. “São pessoas humildes que, na maioria das vezes, têm nesta atividade seu principal ganha pão. Acabei sensibilizado pelas queixas e, como já conhecia Tubino, o convidei para um encontro na minha casa dando um falso carteiraço”, relatou. Ele ressaltou que, em nenhum momento, o governador Olívio Dutra o autorizou a procurar o ex-chefe de Polícia. “Não recebi mandato do governador ou do PT, nem ao menos os consultei. Também não os informei da conversa depois”.

Diógenes de Oliveira defendeu a legalização de todos os jogos no Brasil e identificou aqueles que querem manter o jogo do bicho na clandestinidade como “hipócritas”.

A manipulação: Para o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, a entidade que dirige está sendo vítima de “um linchamento moral”, promovido pelos setores que usaram a revolta do ex-tesoureiro do PT, Jairo Carneiro, para difamar o governo e o PT.

Na opinião de Diógenes, o grupo RBS está à frente desta tentativa de “manipular e distorcer os fatos”. O empresário lembrou que os três jornalistas do Diário Gaúcho, pertencente ao grupo RBS, estão respondendo criminalmente pela entrevista. “Jairo telefonou para o diretor de seguros do Clube da Cidadania, Daniel Verçosa, a pedido dos jornalistas que, inclusive, solicitaram que ele gravasse a conversa em seu próprio telefone, o que Jairo recusou porque, segundo seu depoimento à CPI, ‘sentiu-se muito sujo’ ”.

Entendendo que a entrevista com Jairo Carneiro faz parte “de uma conspiração macabra que visa decretar o impedimento do atual governo do Estado”, Diógenes de Oliveira fez uma cronologia dos “episódios sórdidos” que compõem o caso:
No início de maio deste ano, o jornal Diário Gaúcho começa a publicar matérias sistemáticas sobre o jogo do bicho. Dia 18/5, delegados convocados pela CPI afirmam que o ex-chefe de Polícia Luís Fernando Tubino teria orientado a não-repressão a esta atividade, dizendo que o dinheiro iria para obras sociais do governo estadual. Logo após, é feita a entrevista com o ex-tesoureiro do PT, gravada sem o consentimento do mesmo. Dia 22/5, Jairo procura Daniel Verçosa por solicitação dos jornalistas do Diário Gaúcho. Passam 40 dias sem que o Diário Gaúcho encontre provas que respaldem a publicação da entrevista com Jairo Carneiro. A fita é repassada pelos jornalistas ao relator da CPI, Vieira da Cunha (PDT). O deputado entrega a fita para Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e não comunica os integrantes da CPI da existência ou do conteúdo da fita. Krischke é chamado pela CPI e refere-se ao depoimento do capitão Airton Cardoso, na CPI do Crime Organizado, que relatou o suposto desvio de R$ 600 mil que seriam utilizados para compra de um bingo. Cardoso, genro de um banqueiro do jogo do bicho ligado ao chamado ‘grupo da sorte’, diz que os valores receberam outro destino. Krischke diz que há notícias que estes recursos foram desviados para o PT, através do Clube de Seguros da Cidadania, para compra da sede e para campanha eleitoral de Olívio Dutra e anuncia a existência de uma testemunha-bomba que pode atestar estas afirmações. Jairo Carneiro é convocado, nega todas as declarações e assume que agiu movido pelo ressentimento em função da sua expulsão do PT.

“Tive a oportunidade de ouvir a entrevista. Ao ser questionado pelos jornalistas sobre a origem dos recursos que custearam a compra da sede e a campanha eleitoral, Jairo responde que eu tinha admitido que vinha de bicheiros e que entrariam no caixa em seis parcelas de 100 mil. A armação é óbvia, o nexo estabelecido entre todos estes episódios torna transparente esta trama sinistra”, constatou Diógenes de Oliveira.

A denúncia: Diógenes Oliveira denunciou à CPI que o grupo RBS possuiu duas empresas nas Ilhas Caymann, conhecido paraíso fiscal, onde tem feito empréstimos milionários que, na sua opinião, são um forte indício de lavagem de dinheiro. A primeira delas é a Caboparbs Ltda, com sede em George Town. A outra chama-se RBS Par Ltda, cuja sede também fica em George Town. Segundo Diógenes Oliveira, através destas duas empresas, o Grupo RBS realizou uma monumental movimentação financeira nos últimos cinco anos.

O presidente do Clube da Cidadania relatou aos deputados detalhes de 19 operações financeiras, entre empréstimos em bancos estrangeiros, emissão de notas no mercado internacional, operações de câmbio e emissão de “bonds” envolvendo as empresas Caboparbs, RBS PAR, RBS Participações SA, Net Sul Comunicações SA, Teleparbs Participações, Zero Hora Editora Jornalística e Televisão Gaúcha SA.

Segundo o depoente, uma das formas mais comuns de lavagem de dinheiro consiste em remessa de recursos ao exterior pelas conhecidas contas CC5, acompanhadas de operações de financiamento com bancos estrangeiros. “Outra forma muito conhecida de lavanderia consiste em uma empresa, através do mercado negro de dólares, mandar seu dinheiro do caixa 2 para um paraíso fiscal. Esse dinheiro retorna ao país de origem na forma de empréstimo e isso, obviamente, agrava a dívida externa brasileira, comprometendo a soberania nacional”, relatou.

Além de encaminhar o assunto ao Ministério Público Federal, que está investigando suspeita de lavagem de dinheiro no Rio Grande do Sul, através da remessas de recursos via contas CC5, Diógenes de Oliveira entregou a CPI um relatório das 19 operações financeiras realizadas por empresas ligadas ao Grupo RBS. “Esta CPI está investigando o Clube da Cidadania, tostão por tostão. Esperamos que proceda a mesma investigação em relação aos milhões e milhões de dólares que transitam de forma obscura por paraísos fiscais”, enfatizou.

O Clube: Diógenes de Oliveira explicou que o Clube de Seguros da Cidadania foi concebido em 97 e começou a operar em 98 como um órgão estipulador de seguros. Ele assegurou que todas as denúncias de que a entidade arrecadava recursos públicos são falsas e que a própria Justiça Eleitoral considerou improcedentes as acusações feitas no ano passado pelo então candidato à prefeitura de Porto Alegre, Alceu Collares. Ele admitiu que pode ter ocorrido erros na contabilidade do Clube, mas que isso é secundário, frente ao fato de todas as testemunhas terem confirmado a realização das doações. “Não houve, portanto, arrecadação de recursos de fontes ilegais”, ressaltou.



11/05/2001


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