CPI DO ROUBO DE CARGAS OUVE EX-INTEGRANTES DE QUADRILHAS E ESTENDE INVESTIGAÇÕES
Encapuzado, temendo represálias, o ex-caminhoneiro Jorge Méres depôs na CPI mista que investiga o roubo de cargas, nesta terça-feira (dia 8), e apontou o empresário William Sozza como o chefe da principal quadrilha que opera com extravio de cargas nas rodovias do país. Sozza, foragido da polícia, conforme o depoente seria o mentor de uma organização criminosa com base em Campinas (SP), que detém o controle de várias empresas, opera em 14 estados da federação e estende sua influência a países vizinhos. De acordo com Jorge Méres, que trabalhou de 1988 a 1995 como caminhoneiro das transportadoras de Sozza, chegando a ser seu motorista particular, grande parte das mercadorias tidas como roubadas nas rodovias do país são, na verdade, extraviadas, em golpes aplicados contra companhias seguradoras. O ex-caminhoneiro, que recebia os pagamentos da organização criminosa, encontra-se atualmente no programa de proteção a testemunhas, acusando a quadrilha de Sozza de ter assassinado sua esposa, Débora Rodrigues da Silva, em 1994. Ele já auxiliou os trabalhos da CPI do Narcotráfico e prometeu entregar um organograma com todo o esquema da quadrilha. Méres forneceu nomes de empresários, empresas fantasmas, receptadores, policiais, corretores de seguros e até juízes segundo ele comprometidos com o roubo de cargas e a lavagem de dinheiro. Respondendo ao senador Geraldo Cândido (PT-RJ), Jorge Méres acrescentou que Sozza possui inúmeros testas-de-ferro, espalhados por vários estados do país, e que o contato no Rio de Janeiro seria o traficante Fernandinho Beira-Mar, o bandido mais procurado pela polícia carioca. Méres revelou ainda que Sozza tinha como parceiros traficantes bolivianos, que compravam as carretas roubadas nas estradas brasileiras. As empresas que compravam as mercadorias roubadas serão investigadas pela CPI.Para o senador Moreira Mendes (PFL-RO), várias dessas empresas podem ter realizado negócios com William Sozza de boa fé. Mesmo assim, deverão sofrer investigações. O senador acredita que finalmente a CPI do Roubo de Cargas poderá encontrar o "fio da meada", complementando o trabalho da CPI do Narcotráfico.A CPI do Roubo de Cargas ouviu também o ex-caminhoneiro Ananias Elisário da Silva, acusado de participar de praticar cerca de 80 latrocínios - roubo seguido de assassinato - em estradas de todo o país. Preso há 5 anos em Céu Azul (GO), ele admitiu apenas um assassinato, em Teresina (PI), e um atropelamento na cidade de Marambaia (PA). Recusando-se a responder a inúmeras perguntas e a colaborar com as investigações, Ananias, que depôs algemado, disse que era autônomo e que apenas comprava mercadorias sem nota fiscal. A CPI decidiu convocar as pessoas que mantinham contatos profissionais com Ananias Elisário.O presidente da CPI, senador Romeu Tuma, garantiu que a CPI continuará seus trabalhos de investigação nas próximas semanas, realizando diligências em São Paulo. Ele considerou proveitoso o depoimento de Jorge Méres, e disponibilizou um disque-denúncias. Quem tiver informações sobre o roubo de cargas em todo o país, pode ligar gratuitamente para o número 0800-612211.
08/08/2000
Agência Senado
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