CRE decide, em protesto, devolver carta de embaixador da Venezuela



Um convidado ausente - o embaixador da Venezuela Julio Garcia Montoya - foi o principal personagem do último debate sobre a adesão daquele país ao Mercosul, promovido nesta quinta-feira (9) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). O presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), decidiu enviar de volta ao embaixador a carta por meio da qual este explica a sua ausência, considerada hostil e desrespeitosa em relação ao Senado pela maioria dos integrantes da comissão.

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Na carta enviada por fax a Azeredo, Montoya considera "pelo menos inconveniente para a consolidação dos interesses do Estado brasileiro" que se limite a discussão a respeito do ingresso de seu país no bloco ao "jogo de interesses de particularíssima condição política". Segundo o embaixador, se ainda existem dúvidas sobre o tema, estas seriam "de caráter ideológico e até pessoal". Por isso, concluiu, a sua presença no debate não faria nenhuma diferença.

O documento foi lido por Azeredo logo no início da reunião da comissão, em que se realizaria o primeiro dos dois painéis da última audiência pública a respeito do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. O embaixador participaria do segundo painel, a ser realizado algumas horas mais tarde, mas decidiu não comparecer, conforme informou ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O senador havia conversado com o embaixador por causa da presença, no primeiro painel, de dois representantes da oposição na Venezuela - o ex-prefeito da cidade de Chacao Leopoldo López e o escritor Gustavo Tovar-Arroyo.

Logo após a leitura da carta, o senador Fernando Collor (PTB-AL) apresentou requerimento de voto de censura ao embaixador da Venezuela. Na opinião do senador, a carta enviada por Montoya não havia sido "nem diplomática, nem civilizada".

- Quem é ele para julgar conveniente ou inconveniente ao Estado brasileiro o ingresso da Venezuela? Esta é uma intromissão indevida - protestou Collor.

Em seguida, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que não havia nada de pessoal ou ideológico na análise do pedido de ingresso da Venezuela no Mercosul. Para ele, o embaixador agiu de forma "politicamente inábil". O relator do protocolo de adesão, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), informou ter dito a Montoya que não havia restrição ideológica a seu país, mas sim um cuidado técnico com o tema. O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) também considerou "descortês" a atitude do embaixador.

O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) adiantou que não votaria a favor do requerimento, pois preferia manter o diálogo com o embaixador. Uma solução conciliatória foi então sugerida pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Em vez de votar o requerimento, a comissão enviaria de volta a carta, por meio do Ministério das Relações Exteriores. A sugestão recebeu o apoio de Suplicy, de Azeredo e do senador Romero Jucá (PMDB-RR). O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) apoiou a iniciativa de Collor, enquanto o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) defendeu o embaixador, sob o argumento de que ele mesmo também protestaria contra a presença dos dois opositores venezuelanos.

O requerimento foi colocado em votação, a pedido de Collor. Foram 5 votos contra o requerimento e 4 a favor. Após a divulgação do resultado, Azeredo anunciou que enviaria de volta a carta ao embaixador da Venezuela.

Marcos Magalhães /Agência Senado



09/07/2009

Agência Senado


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