MARINA DEFENDE ÍNDIO QUE LEU CARTA DE PROTESTO



A senadora Marina Silva defendeu nesta sexta-feira o índio pataxó Matalauê, que leu uma carta de protesto durante a missa dos 500 anos de evangelização do Brasil, realizada no dia 26 de abril em Porto Seguro. A atitude do índio foi considerada desrespeitosa pelo bispo de Eunápolis (BA), D. José Edson Santana, para quem Matalauê não agiu por conta própria, mas incitado por pessoas de fora da diocese, o que foi interpretado por Marina Silva como crítica aos membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Ainda na mesma cerimônia, Santana pediu desculpas ao cardeal italiano Angelo Sodano, que oficiava a cerimônia.
- Não há motivo para vergonha nem para pedido de desculpas, já que o índio apenas descreveu como foram cometidos os pecados contra seu povo nesses 500 anos - disse a senadora. Ela leu na íntegra a carta do Pataxó, que entrou na igreja acompanhado de 40 índios levando nas mãos uma faixa preta em sinal de luto.
"Vocês têm que ter respeito porque essa terra pertence a nós. Quando chegaram aqui, essa terra já era nossa. O que vocês fazem com a gente? Mais de seis milhões de índios foram reduzidos a apenas 350 mil", disse Matalauê em seu discurso. O ritmo das frases e a escolha da linguagem levaram a senadora à convicção de que o índios não dependeram de ninguém para realizar o ato.
A senadora lembrou que o Papa já havia pedido perdão pelos "pecados" cometidos pela Igreja Católica durante o processo de colonização do território brasileiro. A própria Confederação Nacional dos Bispos do Brasil já havia também feito um pedido de perdão em razão dos massacres de índios e negros.
- Pedir perdão depois da confissão de um pecado está de acordo com a homilia da Igreja - disse a senadora. Ela citou passagens da bíblia como recurso para justificar a manifestação dos índios. Uma delas foi o episódio em que Jesus Cristo expulsa os mercadores do templo, chamando-os de "ladrões", palavra bem mais dura do que as utilizadas pelo índio Pataxó.
A senadora denunciou a forma "preconceituosa" com que estão sendo tratados os índios da Bahia, impedidos até de registrar seus filhos com nomes de seu repertório. Matalauê, por exemplo, oficialmente se chama Jerry Adriani. Marina Silva, que têm duas filhas registradas como nomes índios (Amoara e Mayara) observou que muitos nomes inventados "e até feios" são aceitos pelos cartórios.

28/04/2000

Agência Senado


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