Crise mundial: debatedores alertam para perda de competitividade do país



A perda da competitividade é o maior problema que o Brasil enfrenta hoje. A avaliação foi feita pelo presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, em audiência pública realizada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta segunda-feira (28). A realização da audiência atendeu a requerimento do senador Fernando Collor (PTB-AL), presidente da comissão.

Para Rubens Barbosa, a perda de competitividade é preocupante, por ser sistêmica e afetar a economia inteira. Ele assinalou que câmbio sobrevalorizado, altas taxas de juros, impostos e encargos trabalhistas elevados e infraestrutura inadequada inibem a competitividade do país.

Rubens Barbosa também manifestou preocupação com o processo de desindustrialização do Brasil. O representante da Fiesp disse que a indústria representava 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro na década de 80 e, hoje, responde apenas por 14%. Lembrou, ainda, que as exportações do Brasil são, principalmente, de produtos primários, como petróleo e soja – o que demonstraria a falta de competitividade das indústrias nacionais.

– Estamos perdendo mercado nas exportações. No mercado interno, a indústria está perdendo espaço para os produtos importados – lamentou Barbosa, pedindo urgência ao Congresso Nacional na reforma tributária.

Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a falta de competitividade é caracterizada pela falta de inovação. O senador disse que a resolução de um problema na economia parece sempre criar outro. Ele deu o exemplo do câmbio, que muito baixo pode provocar inflação, e da taxa de juros, que pode provocar saída de investidores, se estiver muito baixa. Daí, disse o senador, a importância da criatividade e da inovação no incremento da competitividade.

- É preciso administrar o crescimento e quebrar paradigmas – declarou o senador.

Mundo pós-ocidental

Rubens Barbosa também alertou para o fato de que o mundo vive um novo momento, com a crise econômica da Europa comprometendo o crescimento dos Estados Unidos e do Brasil. Ele acrescentou que, com a possibilidade de saída da Grécia da Zona do Euro, a crise é também política. Na visão de Barbosa, o mundo hoje é pós-ocidental, com foco na Ásia, principalmente por conta do crescimento econômico da China.

Para o representante da Fiesp, a percepção externa sobre o Brasil também está passando por mudanças. Rubens Barbosa disse que muitos economistas internacionais têm apontado a necessidade de ajustes na política econômica do país. Ele pediu ajustes também na política externa e se disse pessimista com a economia do mundo e do Brasil.

- É responsabilidade nossa. Temos de enfrentar nossas fraquezas e nossos desafios – afirmou.

Para o embaixador e ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira, o momento é mesmo de incerteza. Ele, porém, discordou de Barbosa que o mundo seja pós-ocidental, com a crise econômica. Para ele, o mundo é pluralista.

- O mundo não será multipolar, mas será um mundo sem polos. Não vamos nos tornar budistas e deixar de ser cristãos e ocidentais – declarou Marcílio Marques Moreira.

Medidas

Marcílio Marques Moreira acrescentou que “a história está aberta”, mas é preciso buscar cenários possíveis. Ele disse que é importante compreender que uma transição está em curso, com novos atores econômicos mundiais. Criticou o que chamou de “curto-prazismo” e fez ressalvas às medidas do governo para incentivar o consumo, que podem gerar resultados mais imediatos, e não o investimento, com resultados que podem ser mais demorados.

- É preciso recuperar a visão de longo prazo – alertou.

Para a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais e ex-ministra do Trabalho, Dorothea Werneck, é preciso aguardar um tempo para ver a reação das medidas do governo ante à crise internacional. A redução dos juros e a alta do câmbio podem, segundo a secretária, provocar uma necessidade de espera nos investidores internacionais.

De acordo com a ex-ministra, uma certa “perplexidade” diante da crise mundial da economia é normal. Ela lembrou que a saída para a crise de 1929 só foi encontrada em 1937, com as medidas propostas pelo economista britânico John Maynard Keynes. Dorothea disse, ainda, que é importante o Brasil não ficar procurando culpados externos pela crise. Ela pediu medidas práticas para o crescimento da economia. Segundo Dorothea, medidas como baixar a carga tributária e melhorar a estrutura são consenso. Para ela, o problema é o debate político do “como fazer”.

- Por que não colocar o federalismo em prática e passar a melhoria de estrutura para os estados? - sugeriu.



28/05/2012

Agência Senado


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