Crise na equipe de João Paulo



Crise na equipe de João Paulo Prefeito fica irritado com a informação de que uma verba do BNDES, a fundo perdido, ainda não chegou à PCR por falta de projeto para atendimento a meninos de rua O prefeito do Recife, João Paulo (PT), enfrenta a primeira crise de seu secretariado. Ele ficou irritado, ontem, quando leu no JC a notícia de que a secretária de Políticas Sociais, Ana Farias, ainda não havia apresentado projeto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para captar uma verba de R$ 1 milhão, a fundo perdido, oferecida pelo banco para viabilizar programas de atendimento a meninos e meninas de rua da cidade. Diante da repercussão negativa, o prefeito chamou Ana Farias para uma conversa, logo pela manhã. Fontes ligadas ao PT chegaram a cogitar a saída da secretaria, tamanho o mal-estar. Mas, segundo a própria Ana Farias, depois dessa conversa o clima de constrangimento foi superado. “A manchete do jornal criou, sim, constrangimento. Estamos com um pessoal trabalhando nisso, em fase de elaboração do projeto. Temos um prazo até setembro. Fica parecendo que a gente não está fazendo nada. Cria um empasse negativo. Conversei com o prefeito, disse o que tinha acontecido e pronto”, argumentou. João Paulo não quis se pronunciar. Segundo informações de bastidores, a demora para a conclusão do projeto não foi “bem digerida” pelo prefeito e alguns auxiliares porque, desde o fim do ano passado, técnicos do BNDES já haviam procurado o seu staff para falar sobre a verba. João Paulo, então, confiou o projeto à equipe de Ana Farias, até porque a própria secretária tem experiência em captação de recursos, uma vez que coordenou a ONG Casa da Mulher do Nordeste. Mas as explicações dadas pela secretária ao prefeito se basearam justamente nessa experiência. Ana Farias afirmou que projeto desse porte tem uma negociação demorada. Segundo ela, mesmo que os documentos tivessem sido enviados, provavelmente, os recursos ainda não teriam sido liberados. “O BNDES só financia projetos desse porto depois que firmarmos parcerias. E ainda temos que consultar vários conselhos tutelares”, disse. Independentemente das explicações, a demora da PCR em captar a verba poderá prejudicar as parcerias que a Legião Assistêncial do Recife vem fazendo junto a empresas privadas para a manutenção de seus abrigos de meninos de rua. “Já temos convênios firmados, mas pode ser que isso venha a criar problemas nas futuras negociações”, admitiu a presidente da LAR e primeira-dama do município, Luzia Jeanne. Atualmente a Prefeitura gasta R$ 109,7 mil, por mês, para manter cinco abrigos onde estão aproximadamente 125 crianças e adolescentes. Telefonemas complicam filho de Maluf SÃO PAULO – As ligações telefônicas de familiares de Paulo Maluf para o Citibank de Genebra, na Suíça, foram feitas a partir de um telefone que pertence ao filho mais velho do ex-prefeito, Flávio Maluf. O fato de ser o dono da linha telefônica, entretanto, não prova necessariamente que Flávio Maluf tenha sido o autor das ligações. Além dele, sua mulher, Jacqueline, seus irmãos, Lina, Lígia e Octávio, o ex-prefeito e sua mulher, Sylvia, seriam beneficiários de contas abertas no Citibank de Genebra e posteriormente transferidas para o mesmo banco na Ilha de Jersey, no Canal da Mancha. Os promotores que analisam os extratos telefônicos de Maluf e seus familiares estão fazendo a checagem preliminar dos destinos das ligações pela Internet. Alguns sites de companhias telefônicas européias permitem que se saiba o nome do dono da linha telefônica com a digitação do número do telefone contatado. No Brasil, é preciso saber o nome do dono da linha para conseguir informações com as operadoras. Numa segunda fase, os promotores vão ligar para os números de telefone que não se repetem para confirmar a propriedade das linhas. Como a quebra de sigilo telefônico é retroativa a 1993, há números que foram alterados e não são reconhecidos pelos sites. POR ENGANO – Um dia após a divulgação da existência de ligações de familiares de Paulo Maluf para o Citibank de Genebra, o ex-prefeito admitiu ontem que parentes seus podem ter se comunicado com a cidade da Suíça, ainda que por engano. “Pode ser que alguém da minha família tenha ligado para alugar um carro, para reservar um hotel. Pelo Bradesco, aqui, você reserva um hotel. A ligação não foi para tratar de conta, porque eu não tenho conta na Suíça. Quem sabe (alguém) até telefonou, pegou por acaso o número por engano e desligou”, declarou ele, que também disse não se lembrar de ter feito ligações para Jersey. O ex-prefeito prometeu ontem que irá processar os promotores que atuam no caso, sob o argumento de que o Ministério Público Estadual não está fornecendo as informações sobre as quebras de sigilo aos advogados da família. De acordo com informações de um assessor de Paulo Maluf, Flávio Maluf não obteve informações sobre a quebra de sigilo nem sobre os supostos telefonemas que teriam partido de um aparelho seu. LUCIANA AZEVEDO A CAMINHO DO PT A suplente de vereadora e secretária-adjunta de Planejamento da Prefeitura do Recife, Luciana Azevedo, está deixando o PPS e se filiando ao Partido dos Trabalhadores. O convite à pós-comunista foi feito ontem pelo prefeito João Paulo (PT). Segundo justificou, a opção pelo PT é um “caminho natural” de sua trajetória política e coerente com o momento atual vivido pelos petistas. Luciana destacou a maturidade que o partido vem conquistando na experiência de ser Governo na capital pernambucana, cada vez mais, revelando-se capaz de administrar o País. “O PPS foi uma opção que facilitava o embate eleitoral de 2000. Agora, eu estou seguindo o meu roteiro natural”, afirmou Luciana. Governistas sobem e Ciro volta à segunda posição As candidaturas de Roseana Sarney e José Serra ganham força. Pela primeira vez, o ministro da Saúde atinge um percentual de dois dígitos. Ciro Gomes se recupera e ocupa a segunda colocação em todos os cenários BRASÍLIA – Os candidatos governistas começam a reagir na corrida presidencial do próximo ano. Pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), feita pelo Instituto Sensus, constatou que o ministro da Saúde, José Serra, do PSDB, e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do PFL, estão crescendo e, quando incluídos no rol dos potenciais candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, roubam votos de todos os demais concorrentes. Na primeira simulação apresentada, o candidato governista é Serra. Nessa situação, a intenção de votos dada a Lula caiu de 34,2%, em julho, para 32,9%, em agosto. Ciro Gomes sobe de 11,8% para 14,9%; Itamar Franco cai de 13,8% para 11,5%; Serra pula de 7,1% para 10% (primeira vez que alcança dois dígitos na pesquisa); e Anthony Garotinho cai de 13,4% para 8,8%. Numa segunda lista, a governadora do Maranhão é incluída. Nesse caso, Lula cai para 30,1%; Ciro sobe para 14,4%; Roseana aparece virtualmente empatada com Ciro com 14,1%; Itamar cai para 12,5%; e Garotinho cai um pouco mais, para 8,4%. Quando os dois governistas – Serra e Roseana – entram na listagem, todos os demais concorrentes perdem espaço. Pela pesquisa, Lula vai a 27,9%; Ciro fica com 13,9%; Itamar com 11,7%; Roseana com 11,2%; Garotinho com 8,4%, empatado com Serra, também com 8,4%. De acordo com a pesquisa, o ministro Paulo Renato e o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), possíveis candidatos do PSDB à Presidência, ainda não conseguiram um bom desempenho entre os eleitores. O levantamento foi realizado entre os dias 17 e 23 de agosto, com dois mil entrevistados em 195 municípios de 24 Estados do País. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais. PERFIL – A pesquisa também levantou o perfil do candidato ideal à Presidência. Ele tem as seguintes características: não é político, mas um empreendedor, e deve demonstrar capacidade de combater a violência e a criminalidade no País. Este perfil foi traçado de acordo com os resultados da pesquisa elaborada pela Sensus. Dos dois mil entrevistados, 66,1% disseram que gostariam de votar num candidato que não fosse um político, mas um bom administrador. Apenas 18,5% afirmaram que gostariam de votar num político tradicional, com características dos nomes que tem sido cogitados como possíveis candidatos à corrida eleitoral de 2002. Maioria defende o fim da imunidade parlamentar BRASÍLIA – A maioria dos entrevistados pela Sensus, para a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), avalia que a imunidade parlamentar, que impede processos e julgamentos de deputados e senadores quando cometem crimes de qualquer natureza, deve ser extinta. Dos dois mil entrevistados pelo instituto, 65,9% afirmaram que a imunidade parlamentar não deve existir. Para 14,1%, a imunidade deve ser mantida tanto para atividades políticas quanto crimes comuns cometidos pelos parlamentares. Apenas 9,5% disseram que a imunidade deve valer apenas para atividades políticas. “O resultado da pesquisa mostra que a sociedade pede uma profunda mudança no código de conduta dos parlamentares”, afirmou o presidente da CNT, Clésio Andrade. “O Aécio (Aécio Neves, presidente da Câmara dos Deputados) está no caminho certo ao propor um Código de Ética”, completou. Apesar dessa posição, 35% dos entrevistados consideram que a situação moral da vida pública brasileira continua a mesma de anos anteriores e que nada será alterado. Para 28,7%, está havendo, sim, uma moralização. Já para 29,4%, nenhuma alteração está em andamento e a situação agora é pior do que em anos anteriores. CÓDIGO – Hoje, Aécio reúne-se com a Mesa Diretora para tirar dúvidas a respeito do Código. Ele acredita que a aprovação do projeto é um grande avanço na agenda ética. “A minha expectativa é de que, na semana que vem, a Câmara tenha seu Código de Ética e Decoro, que vai estabelecer uma conduta clara, transparente e rígida dos agentes políticos.” Jáder depõe hoje no Conselho de Ética BRASÍLIA – O ex-gerente do Banco do Estado do Pará (Banpará) Marcílio Guerreiro de Figueiredo voltou atrás e agora está disposto a contar aos integrantes da comissão de inquérito do Conselho de Ética tudo que sabe sobre os desvios ocorridos no banco, nos anos 80. Depois de anunciar que entraria com habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar o depoimento, ele disse, ontem, que aceitará falar, em Belém. Ontem, o presidente licenciado do Senado, Jáder Barbalho (PMDB-PA), confirmou que comparecerá hoje, às 10h, no depoimento aos senadores da comissão especial do Conselho de Ética. Anteontem à noite, Guerreiro recebeu em sua casa agentes da Polícia Federal, que atenderam a um pedido do senador Romeu Tuma (PFL-SP) para localizá-lo. Os policiais informaram que os custos com passagens para Brasília e hospedagem seriam pagos pelo Senado. O ex-gerente disse que preferia depor em Belém, para fugir do assédio da imprensa. Um dos únicos personagens punidos no caso, ele foi responsável pela emissão de cinco cheques administrativos usados em aplicações do então governador do Pará e hoje senador, Jáder Barbalho (PMDB-PA), no Itaú, no Rio. PESQUISA – Se depender da população, o senador Jáder Barbalho é culpado das acusações que vem sofrendo nos últimos meses e deve ser cassado e processado pela Justiça comum. A conclusão pode ser tirada pela avaliação dos resultados da pesquisa elaborada pela Sensus para a Confederação Nacional do Transporte. De acordo com os resultados, 55,3% dos dois mil entrevistados disseram que tomaram conhecimento das denúncias contra o presidente licenciado do Senado Federal. Deste total, 86,3% afirmaram que Barbalho é culpado das acusações e 81,4% disseram que ele deve ter seu mandato cassado e ser processado pela Justiça comum. Colunistas PINGA FOGO – INALDO SAMPAIO Sequelas da 1ª greve A prisão por indisciplina do capitão Alberto Feitosa, presidente da Associação dos oficiais, subtenetes e sargentos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, ainda é sequela da primeira greve (ou motim, como queiram) que a corporação fez em 97. Para usar uma expressão de Sílvio Pessoa, procurador-geral do Estado, aquele foi um episódio “mal resolvido” porque não se puniu adequadamente os seus cabeças, entre os quais estava o próprio capitão Feitosa. Era previsível, portanto, que mais cedo ou mais tarde surgiriam novos casos de indisciplina e quebra de hierarquia, sendo que o mais inesperado de todos eles foi a segunda “greve”, um ano atrás, que levou uma parte da tropa a se amotinar na Praça da República, em frente ao Palácio das Princesas, sede do Poder Executivo estadual, para exigir do Governo do Estado melhoria salarial. Novamente cabeça do movimento, o capitão Feitosa - que foi candidato a deputado pelo PMDB em 1978 - não só comandou esta nova insubordinação como saiu dela consagrado. Isto lhe deu a força interna necessária para, mesmo após ter sido preso por indisciplina, enviar uma carta ao secretário de Defesa Social ratificando que existe na tropa “uma forte insatisfação e descrédito na forma de quem gerencia diretamente (Cel.Iran) os rumos da PM”. Casa em ordem Foi na época em que o coronel Jorge Luiz de Moura (foto) comandava a PM (governo Arraes) que foi constituída a Associação dos oficiais, subtenentes e sargentos da Polícia Militar de PE. O então comandante, de estilo durão, não só não reconheceu a existência da entidade como negou-se a receber a sua diretoria. Certamente estava prevendo que aquela Associação iria transformar-se em sindicato, como de fato se transformou, o que é proibido pela Constituição. Uma boa ajuda A pedido de Sérgio Guerra (projetos especiais), o PSDB de Arcoverde (Israel Guerra) vai fechar com Roberto Magalhães para a Câmara Federal. Ele vai se confrontar com Inocêncio Oliveira, que é o candidato da prefeita Rosa Barros (PFL), como também com Joel de Holanda (PFL) que é filho de lá e integra o grupo político de Marco Maciel. Tucano-liberal Político de perfil urbano, Joaquim Francisco (PFL) teria o apoio de apenas dois prefeitos, caso se candidate à reeleição: Valdecírio Cavalcanti (Macaparana) e Nivaldo Lúcio (Correntes). Este último, todavia, está na lista do PSDB como “tucano roxo” e eleitor de Romário Dias (estadual) e Sérgio Guerra (federal) “pro que der e vier”. Liberato critica André por faltar a um ato político O vereador Liberato Costa Júnior (PMDB) foi à sede regional do PTB, no último dia 24, para um ato em homenagem a Getúlio Vargas. Como não viu o presidente André Campos por lá, baixou-lhe o sarrafo ontem na Câmara. Mais US$ 90 milhões no caixa de Pernambuco Jarbas pode se queixar de tudo, menos de dinheiro para administrar. Além do R$ 1,8 bi da venda da Celpe, a AL deu-lhe autorização para tomar emprestado ao BID US$ 90 milhões. O dinheiro será investido no Promata. Cadê o dinheiro? O presidente do Sinpol Henrique Leite enviou ofício a Maurício Romão (administração) cobrando o repasse da contribuição sindical (R$ 100.897,90) que é descontada em folha dos seus associados. 80% desse dinheiro, segundo ele, destina-se ao pagamento do plano de saúde (CAMED) dos policiais. Livre pra voar Já que João Paulo (PT), por dever de ofício, está impedido de participar de manifestações de protesto contra o governo FHC, a 1ª dama Luzia Jeanne irá substituí-lo. Amanhã, às 14h, ela estará na praça Osvaldo Cruz para participar de um ato público promovido por sindicatos de servidores públicos federais. Depois de assistir, no Teatro Apolo, à exibição do vídeo de Adriana Ferraz sobre o atentado a Costa e Silva no Aeroporto dos Guararapes, o ex-deputado Fernando Lyra comentou: “Nós, brasileiros, deveríamos seguir o exemplo dos judeus. Mostrar os crimes da ditadura todos os dias, tal qual eles fazem com o holocausto”. A CPI da EMTU vai ouvir hoje às 14h30 o presidente do Sindkombi Amauri Soares. Segundo o presidente Clóvis Corrêa (sem partido), ele tem muito a dizer à comissão sobre a “máfia” do vale-transporte, que pôs o sistema no vermelho. Na sexta, dia 31, ela vai ouvir Alfredo Bezerra Leite (Setrans). A Assembléia Legislativa promove hoje às 16h uma sessão especial para comemorar os 22 anos da Lei da anistia. A sugestão foi do deputado João Braga (PV), que vai aproveitar o seu discurso para prestar uma homenagem à ex-deputada Cristina Tavares, ao lado de quem fundou em Pernambuco a secção estadual do PSDB. Candidata ao Senado pelo Maranhão e não à presidência da República como gostaria Bornhausen, a governadora Roseana Sarney concorda com Marco Maciel: “Há uma discriminação violenta contra o PFL”. Essa mesma opinião foi externada pelo vice-presidente numa de suas últimas visitas a Pernambuco. Editorial Brasileiro não lê O brasileiro não tem o hábito da leitura. Esse é o resultado da pesquisa Retrato da leitura no Brasil, feita sob encomenda da Câmara Brasileira do Livro, Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Associação Brasileira de Celulose e Papel e Associação Brasileira dos Editores de Livros. Motivos apontados pelos pesquisados para não freqüentar livrarias nem livros e outras publicações: falta de tempo, de dinheiro, de hábito e de vontade. Que o brasileiro lê pouco e menos ainda compra livros já se sabia, mas as entidades representativas do setor livreiro e editorial queriam uma avaliação científica a respeito. Outros objetivos delas foram fundamentar as ações do mercado para começar a reverter essa situação vexatória, e fornecer aos órgãos governamentais informações para motivá-los a criar uma política do livro no País. O que não será fácil, pois o nosso governo não apóia eficazmente, e até atrapalha, outros setores culturais, como os de produção de filmes, audiovisuais em geral, discos etc. Agora mesmo, uma comitiva de deputados americanos está aqui fazendo pesadas pressões contra a proteção oficial (muito pouca), no Brasil, à indústra cinematográfica nacional. Somente os Estados Unidos teriam o direito de proteger as produções de Hollywood (inclusive as baboseiras), sua indústria fonográfica, seu aço, os limões e laranjas da Califórnia e da Flórida. Coisa de país desenvolvido. E não podemos criticá-los por isso; temos é que defender também os nossos produtos, sem aquela de que “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”, como pregava o chanceler do marechal-presidente Castelo Branco, general Juracy Magalhães. Os deputados americanos falam inglês, naturalmente, o que é um perigo: nossos deslumbrados tecnocratas podem ficar ainda mais embasbacados e cair na deles. No Brasil, temos uma livraria para cada grupo de 84,4 mil habitantes; enquanto, na vizinha Argentina, essa proporção é de uma para 6.200. Diga-se de passagem que, apesar de estar mergulhada em crise financeira grave, esse país fez sua revolução do ensino no início do século. É preciso observar que, enquanto a língua é um atributo humano universal, a escrita e conseqüentemente a leitura situam-se no campo da tecnologia, e surgiram muitíssimo depois do início da formação de idiomas. Constituem o fundamento de sucessivas revoluções nos tempos mais recentes, como a da criação da imprensa, no século 15, do surgimento da opinião pública, da divulgação do ensino e acesso democrático à educação. Note-se também que a atual revolução digital, olhada por alguns apressados como o ocaso do livro, também é filha do alfabeto, da escrita, da leitura. Para estar inserido ativamente no mundo moderno, impõe-se o domínio da leitura. Daí o atraso crônico de países com grandes contingentes de analfabetos e semi-alfabetizados, como o Brasil. Daí também a conclusão de que só sairemos desse atraso com as novas gerações lendo mais, tendo motivação para isso e dinheiro para comprar livros. Saudamos como passo importante nesse sentido iniciativas como a da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, que promete investir R$ 500 mil para que as escolas da sua rede, com cerca de um milhão de alunos, possam adquirir livros para suas bibliotecas na 3ª Feira do Livro de Pernambuco (marcada para os dias 19 a 28 de outubro), com desconto de 30% concedido pelas editoras participantes. Iniciativas como essa vão se tornando mais comuns, o que é um alento para a incorporação do hábito da leitura às novas gerações. O que não é difícil. Em famílias cujos pais têm livros em casa e o costume de comprá-los e ler, as crianças também são motivadas a ler. Em alguns Estados americanos, como o de Connecticut, alunos das séries correspondentes ao nosso 1º grau têm que levar para casa, todo fim de semana, um livro para ler e, na 2ª feira, falar sobre o que leram. Isso num país em que o computador pessoal está ao alcance de quase toda a população. Topo da página

08/29/2001


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