Cristovam aponta o que faltou completar após a Campanha da Legalidade




O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse nesta segunda-feira (5) que Campanha da Legalidade, resistência liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, marcou a primeira vez que um movimento civil se impôs e impediu um golpe militar. Esse movimento completou 50 anos.

Cristovam lembrou que a Campanha da Legalidade surgiu em defesa da Constituição federal, para garantir que fosse empossado o vice-presidente da República, João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, ambos eleitos pelo voto direto. Mas, para ele, há outro aspecto da legalidade que ficou esquecido: dar continuidade às propostas de reformas que o Brasil precisava.

O senador disse que, por exemplo, fazia parte da "legalidade" a continuidade do trabalho de Paulo Freire pela erradicação do analfabetismo. Ele salientou que hoje, 50 anos depois, o número absoluto de analfabetos no Brasil é maior do que era em 1961.

- Não é possível que não percebamos a falta de ética de uma população, de uma sociedade, de uma nação que é a sétima economia do mundo, ter uma das maiores populações de adultos analfabetos. A legalidade não foi vitoriosa nesse aspecto - lamentou.

Cristovam disse que também fazia parte da "legalidade" o início de uma reorientação da economia idealizada em 1930, com protecionismo exagerado, direcionando-a para a competição internacional. Ele assinalou que essa etapa não foi cumprida porque mudou a definição de "competitividade", que migrou dos preços para os produtos novos que ganham mercado.

- Estamos ficando para trás nisso. Nós somos um país que tem uma capacidade baixíssima de competir no mundo no que se refere a novos produtos. Nós conseguimos concorrer ainda no que se refere aos preços, apesar do custo Brasil. Mesmo assim, a gente consegue competitividade, mas para produzir soja, não para produzir iPads. A "legalidade" da modernização econômica, da inovação, não foi cumprida - afirmou.

Outro ponto da "legalidade" não cumprido e apontado por Cristovam é a reforma agrária. Ele ressaltou que, naquele tempo, os latifúndios eram improdutivos, ao contrário de hoje, mas ainda existe uma população de sem-terra que migra para as cidades por não ter garantia de um pedaço de terra e apoio para produzir.

- Não completamos ainda a 'legalidade' na maneira de casar bem o sistema financeiro com o sistema produtivo, de foram que arrecade recursos para dinamizar a economia. Hoje, ele é capaz de arrecadar recursos para financiar o consumo e não a produção; temos uma poupança baixíssima nos investimentos - ressaltou.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) disse, em aparte, que o consumo exerce algum fascínio antes de obter os bens materiais, mas depois vem a insatisfação, ao contrário da sabedoria. Ele concordou com Cristovam que é impossível chegar à justiça através do consumo e do lucro.



05/09/2011

Agência Senado


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