Cristovam: Brasil é vítima de "corrupção subterrânea e discreta'
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) fez, na noite desta terça-feira (28), pronunciamento em que procurou chamar a atenção para o caráter "corrupto" de certas práticas sociais e políticas no Brasil. Como num círculo vicioso, o parlamentar explicou a degradação decorrente do analfabetismo, por exemplo, como fruto das ações da classe dirigente e da sociedade, o que dilui e disfarça a responsabilidade do país pelas mazelas que ele próprio produz.
- A corrupção não é só a dos políticos, nem só a das passagens de avião. Há uma corrupção que tem de ser assumida por todos os brasileiros. Hoje temos mais de 14 milhões de analfabetos. Isso é uma corrupção nas prioridades do país ao longo de décadas e séculos - argumentou o senador.
Cristovam observou que com R$ 500 milhões por ano, em quatro anos seria possível erradicar o analfabetismo, empregando 60 mil alfabetizadores jovens atualmente "desempregados e perdidos". Além disso, seria possível, com a mesma verba, premiar os alfabetizados com R$ 100, ao final do curso.
O senador mostrou-se indignado, igualmente, pela existência no Brasil de 30 milhões de "analfabetos funcionais" - pessoas que sabem ler e até escrever palavras isoladamente ou em pequeno número, mas não compreendem um texto de maior envergadura.
- A gente não vê a imprensa denunciar com vigor esse crime que nós cometemos - protestou Cristovam, acrescentando que a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) realizará na próxima semana uma audiência pública em que o analfabetismo será tratado como privação de um direito humano.
Mais grave que esse tipo de corrupção, no entender do senador, é o fato de que a cada minuto do ano letivo (200 dias) 60 crianças abandonam a escola, num total de 400 mil alunos a cada três meses, mesmo número de africanos jogados ao mar durante todo o período da escravidão.
O senador mencionou, ainda, a corrupção da falta de moradia para 50 milhões de pessoas; a dos jovens que abandonam os estudos; a das crianças que só frequentam as aulas durante duas horas por dia para comer a merenda escolar; e a dos doentes esperando para serem atendidos nas filas dos hospitais.
- O Brasil rouba os cérebros e os minutos de vida de seus cidadãos - disse Cristovam, lembrando que o país tem um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 2,9 trilhões, mas destina recursos para palácios governamentais suntuosos, esquecendo-se de prioridades como a nutrição infantil.
Por fim, o senador elegeu o que ele considera as duas mais importantes formas de corrupção: a substituição da escola, que seria uma escada para a ascensão social, pela rede de proteção de programas como o Bolsa-Família, e a omissão do Congresso em sua tarefa de mudar o país.
28/04/2009
Agência Senado
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