Cristovam defende Congresso e explica declaração polêmica sobre plebiscito



O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) explicou, nesta terça-feira (7), os termos de uma entrevista em que mencionou a possibilidade de plebiscito para se decidir sobre o fechamento do Congresso Nacional. Segundo o parlamentar, ele disse a uma rádio de Pernambuco que, a permanecer "a falta de sintonia e o divórcio entre o Congresso e o povo", havia a possibilidade de alguém propor um plebiscito com esse objetivo. A declaração ganhou maior repercussão depois que o senador mencionou a entrevista em pronunciamento no Plenário na segunda-feira (6).

- Eu não disse que estava propondo o plebiscito para decidir sobre o funcionamento ou não do Congresso - afirmou Cristovam, em resposta a críticas que recebeu da imprensa e de cidadãos, inclusive pelo correio eletrônico.

Apesar da polêmica que causou a menção da possível consulta popular, o senador preferiu encarar o episódio como positivo, por ter provocado um debate em torno da crise de credibilidade que afeta o Legislativo.

- Gostei de ter recebido críticas, mesmo quando me chamaram de estúpido, porque é um sinal de que há muitos brasileiros que reagem à ideia do fechamento do Congresso, embora existam muitos que achem que o Congresso não serve para nada - ponderou o senador, depois de ler trechos de diversas mensagens que lhe foram enviadas.

Do jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador recebeu um e-mail taxando de "sandice" a ideia do plebiscito. Já um cidadão de codinome José Manuel Mané defendeu o Congresso "com todas as suas prerrogativas" e considerou a simples referência ao plebiscito um "desserviço à democracia". Na opinião de Raimunda Beleza, "ainda existem homens honestos dentro do Parlamento".

- Eu não agi de forma planejada, mas acabei recebendo estas mensagens de teor diferente das que vinha recebendo, com muitas críticas ao Legislativo - disse o parlamentar.

De todo modo, o senador disse considerar esta mais uma oportunidade para que os congressistas reflitam sobre como estão agindo e a que distância se encontram das necessidades do povo. Cristovam chamou a atenção dos seus colegas para a responsabilidade que têm como integrantes da elite política do país.

Ele pediu que observassem o quanto o Congresso, abalado por denúncias de irregularidades administrativas, vê diminuir ainda mais o seu poder, já enfraquecido pelas medidas provisórias baixadas pelo Executivo e pelas decisões com força de lei emanadas do Poder Judiciário.

- Temos mordomias, sim, aqui no Congresso, no Executivo e muito mais no Judiciário. Mas existem também mordomias no setor privado, como provam as mansões construídas por aqueles que pagam salário mínimo aos seus empregados e aproveitam a contabilidade para recolher menos impostos - assinalou o parlamentar.

No que toca ao Congresso, ele condenou "todos" pelas más práticas, incluindo o pouco tempo dedicado à atividade parlamentar por excelência - o debate em Plenário.

- Nós trabalhamos muito pouco aqui em Brasília, em média de dois a três dias por semana. Eu mesmo, que sou do Distrito Federal, passo muitos dias fazendo conferências em diversas partes do país - admitiu.

A imagem de um Congresso inoperante é que fortalece, no entender de Cristovam, fantasias sobre a chamada "democracia direta", um sistema que dispensaria, no todo ou em parte, a representação parlamentar. O problema desse sistema, em tese possível com os novos meios de comunicação, é que não haveria espaço para a reflexão detida sobre os diversos temas, conforme observou o senador.

Cristovam foi aparteado por alguns colegas. A senadora Patrícia Saboya (PDT-CE) pediu que se reforçasse "o discurso em torno do fortalecimento do Legislativo", separando-se a instituição da ação individual de parlamentares. Walter Pereira (PMDB-MS) convidou os congressistas "a uma autocrítica", com base nos protestos da sociedade.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse acreditar que o pronunciamento de Cristovam teve a intenção clara de mostrar o valor do Congresso, apesar das falhas, e o caráter de "imprescindível" atribuído à instituição pelo povo brasileiro. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) disse temer um voto emocional, no caso de um plebiscito como esse, da mesma forma que se daria numa consulta sobre pena de morte. Ela relembrou o dito popular para avaliar o que seria o fechamento do Congresso: "ruim com ele; pior sem ele".



07/04/2009

Agência Senado


Artigos Relacionados


Cristovam defende economista que fez declaração 'infeliz' sobre PNE

Renan defende plebiscito, mas diz que decisão final é do Congresso

Cristovam: população precisa de informações para decidir sobre questões do plebiscito

Cristovam alerta para possibilidade de manipulação de plebiscito sobre reforma política

Cristovam alerta para risco de 'manipulação' em plebiscito sobre reforma política

Mensagem presidencial sobre plebiscito chega ao Congresso nesta terça