Cuidados adequados na primeira infância formam adultos voltados para a paz, dizem especialistas
Especialistas internacionais e nacionais defenderam em audiência pública, nesta quarta-feira (19), a importância de promover cuidados e estímulos adequados na primeira infância para garantir a formação de adultos voltados para a promoção da paz. A audiência integra a 1ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, que promove palestras até esta quinta-feira (20), e foi realizada em conjunto pelas Comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE), de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
Na audiência pública, o diretor da Pediatria do Hospital de Santa Maria de Lisboa (Portugal), João Carlos Campos Gomes-Pedro, falou sobre as pesquisas que realiza nos últimos 20 anos em maternidades a respeito da interação entre mães e filhos. Disse que estudou, por exemplo, a importância do acompanhamento médico no período pré-natal, os aspectos da amamentação, o valor da presença dos pais nas consultas de saúde, bem como a necessidade do contato físico dos pais com o recém-nascido.
Gomes-Pedro destacou que os primeiros meses representam o período de maior aprendizagem na vida de um ser humano e também um momento de regulação de uma das relações mais significativas da existência de um indivíduo: a do bebê com a mãe.
- A promoção da Semana de Valorização da Primeira Infância pelo Senado Federal brasileiro é um exemplo para o mundo. Trata-se de um momento em que senadores podem privilegiar uma intervenção decisiva em prol da criança, fazendo girar o ciclo da paz logo no despertar da vida - afirmou o pediatra.
O médico destacou ainda que muito do que o adulto é no presente é resultado do que essa pessoa foi quando bebê. Ele contou que seus estudos sobre o desenvolvimento infantil o fizeram perceber que uma educação voltada para o respeito e a tolerância representa uma intervenção pela paz na formação de adultos.
- A vacina do amor pode ser a mais contagiosa epidemia do mundo, que favorece a vida em vez de favorecer a morte e o desespero - destacou.
O psicanalista Victor Ricardo Guerra Flora, da Associação Psicanalítica do Uruguai, opinou durante o debate que educar significa conduzir ao exterior, tornar o indivíduo independente. Destacou ser importante promover nas crianças a capacidade da intersubjetividade, ou seja, a habilidade de estabelecer vínculos com o outro.
- Sentir-se compreendido pelo outro é uma forma de prevenção da violência - afirmou o psicanalista.
Outro convidado da audiência, o professor Vital Didonet, membro da Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê (Abebê), defendeu a necessidade de criação de um plano de Estado para a primeira infância. O professor reconheceu que as políticas públicas no Brasil têm avançado bastante nesse sentido, mas lembrou que uma quantidade imensa de crianças não usufrui ainda de todos os seus direitos. Como exemplo, lembrou do direito a brincar.
- Temos que cuidar da criança hoje. Porque hoje ela é criança. Amanhã será um adulto - disse.
O senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), na presidência da reunião, destacou que as abordagens apresentadas na audiência foram riquíssimas e importantes não só para trazer mais subsídios ao Senado para lidar com as especificidades da primeira infância, como também para todos os ouvintes individualmente, como cidadãos e cidadãs.
19/11/2008
Agência Senado
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