Cúpula Social celebra mudança política e condena desigualdade



A abertura da 10ª Cúpula Social do Mercosul, na noite de terça-feira (14), em Foz do Iguaçu (PR), foi marcada, ao mesmo tempo, por elogios à guinada à esquerda dos governos da região e pela denúncia dos fortes contrastes sociais que permanecem entre os países do bloco e de toda a América Latina.

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Mais de 700 integrantes de movimentos sociais provenientes de diversos países da região se encontram na cidade onde se realiza o evento, para o qual foram convidados todos os integrantes do Parlamento do Mercosul e onde, a partir de quinta-feira, se realiza a Cúpula do Mercosul.

Primeira expositora do painel de abertura, a filósofa brasileira Marilena Chauí, da Universidade de São Paulo, disse que era importante estar ali, no auditório lotado de militantes sociais do Cine Barrageiro, local de eventos do complexo da Hidrelétrica de Itaipu, porque o tema era a democracia no continente.

- A ditadura foi continental e levou prisão, tortura e morte para toda a região. Agora, o continente se reúne para debater o oposto disso: inclusão, liberdade e cidadania - comparou Chauí, antes de fazer uma ampla defesa dos movimentos sociais como "portadores da democracia", por promoverem a constante luta por direitos da sociedade.

Por contar ainda com a "pior distribuição de riqueza do mundo", alertou em seguida o professor emérito Aldo Ferrer, da Universidade de Buenos Aires, a América Latina tem o duplo desafio de promover a inclusão social e a integração regional. Ele recordou que os países da região têm em comum um "espaço extraordinário", rico em recursos naturais, mas ainda necessitam fortalecer a sua presença no cenário global e realizar reformas que permitam o "incorporar a fronteira do conhecimento".

- Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar a maneira como estamos no mundo - sugeriu.

A primeira década do século 21, observou o historiador uruguaio Gerardo Caetano, da Universidade da República, estabelece um "rearranjo do poder internacional", com o declínio da União Europeia, principal investidora na região, e a ascensão da China. Assim como Ferrer, lembrou a existência nos países sul-americanos de grandes reservas de água doce e de minerais estratégicos. Ele considerou "uma honra para o Mercosul" a rejeição da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelos Estados Unidos, mas alertou para novos riscos.

- Estamos nos umbrais de um novo colonialismo. A China não compra de nós nenhum produto manufaturado. E não há país que se tenha desenvolvido vendendo apenas commodities - ressaltou.

Da mesma forma como Caetano, o sociólogo brasileiro Emir Sader, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, elogiou a rejeição da Alca e a "mudança radical" ocorrida na América do Sul, a seu ver, depois da chegada ao poder na Venezuela do presidente Hugo Chávez. "Estamos concluindo uma década extraordinária", celebrou, após enumerar as eleições de líderes como Luiz Inácio Lula da Silva e o boliviano Evo Morales.

Em sua opinião, os países da região conseguiram sair mais cedo da crise mundial porque diversificaram seu comércio internacional, ao contrário do México, ainda atrelado aos Estados Unidos.

- Nossas prioridades comuns são a integração regional, sem o tratado de livre comércio com os Estados Unidos, e a prioridade às políticas sociais, e não ao ajuste fiscal - recomendou.



15/12/2010

Agência Senado


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