Debate na CCT destaca a relação entre custo de equipamentos e sucesso do rádio digital no país
A implantação da tecnologia de rádio digital no país pode ser condenada ao fracasso se faltarem esforços para a redução dos custos dos equipamentos, sejam os de transmissão ou os receptores. O alerta foi feito nesta quinta-feira (12) por participantes de audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), dedicada ao exame do processo de implantação da rádio digital no Brasil.
- Uma emissora não vai gastar trinta mil dólares para substituir um sistema de transmissão que, apesar de tudo, já está funcionando - afirmou o professor Lúcio Martins da Silva, da faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB).
O sistema de rádio digital assegura padrão de áudio que, no caso das emissoras de ondas curtas, será comparável aos de um compact disc (CD). Além de quase imune a interferências, o sistema poderá, por interatividade, associar novos dados e informações aos serviços. Apesar disso, Lúcio Martins manifestou dúvida sobre a disposição do consumidor em assumir os custos da nova tecnologia.
No caso das emissoras de rádio, o problema dos custos dos transmissores poderia ser superado por meio de um programa oficial de financiamento, como sugeriu o diretor executivo do grupo RF/Televo, Jakson Alexandre Sosa. De acordo com o empresário, a adesão ao sistema digital é mesmo um grande desafio para a maioria das empresas desse segmento. Ele disse que o país tem hoje quase 9 mil emissoras, em grande parte de pequeno alcance, situadas no interior, e que mal conseguem pagar as contas de energia das operações.
Com respeito aos equipamentos de recepção, o diretor do RF/Televo mostrou-se mais otimista. Segundo ele, o mercado nacional já oferece hoje equipamentos ao redor de R$ 200,00, mas esse custo ainda pode cair bem mais. Como solução, indicou mais investimentos em pesquisa e inovação, por meio da associação de esforços entre o setor público, centros acadêmicos e a indústria nacional - o RF/Televo é um dos grupos que produzem, no país, transmissores e receptores de radiocomunicação.
Padrão digital
Lúcio Martins, em sua exposição, apresentou ainda as opções existentes para o futuro sistema de transmissão de rádio digital do pais. De acordo com o professor, há quatro padrões disponíveis: o IBOC,dois de origem européia (DAB, o primeiro a ser desenvolvido, e o DRM) e o japonês (ISDB-T). Disse que todos apresentam qualidades e defeitos, mas defendeu, como critério de escolha, a adição de padrão que permita às emissoras transmitir, de forma simultânea, pelo sistema digital e pelo atual padrão analógico.
O empresário Jakson Sosa salientou, ainda, o custo da tecnologia a ser escolhida, pois acredita que os custos dos royalties podem favorecer ou inviabilizar o projeto. Além disso, cobrou esforços para que o sistema de rádio digital ocorra, em escala comercial, no mesmo momento de entrada da televisão digital - em fase experimental, as transmissões começam no final desse ano, em São Paulo.Também destacou a importância da produção de conteúdos de maior qualidade para alimentar o novo sistema.
A audiência foi proposta pelo presidente da CCT, Wellington Salgado (PMDB-MG). No debate, o senador Augusto Botelho (PT-RR), manifestou a expectativa de que o novo padrão possa contribuir para a democratização do sistema de radiodifusão do país, na sua opinião ainda muito concentrado e controlado, no interior, por líderes políticos, em alguns casos tendo à frente os chamados "laranjas". O senador Romeu Tuma (DEM-SP) apoiou a manifestação do colega do PT, enquanto o senador Valter Pereira (PMDB-RS) pediu aos expositores esclarecimentos sobre formas de coibir a atuação das "rádios piratas".
12/07/2007
Agência Senado
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