Debatedores defendem políticas públicas para o 'Brasil rural'



Tendo como ponto de partida o projeto do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) que busca redefinir os critérios de ruralidade, especialistas ouvidos pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) em audiência nesta sexta-feira (22) esperam que a consciência do tamanho do Brasil rural estimule políticas públicas mais favoráveis e realistas para o setor. Os debatedores chamaram a atenção para o tamanho da população no campo - maior do que as estatísticas oficiais apontam - e a expressiva importância da agropecuária na economia brasileira.

Victor Villalobos, diretor-geral do IICA, defendeu um lugar central nas políticas de Estado em face do potencial agrícola do Brasil, ressaltando que conhecimento e inovação serão determinantes para fazer frente à demanda crescente por alimentos. No mesmo sentido, a embaixadora do México em Brasília, Beatriz Paredes, considerou importante mudar o paradigma cultural e investir em educação no campo de modo a combater o êxodo rural.

- Construir uma nova ruralidade é indispensável para o mundo. Ainda mais para o Brasil, pois o Brasil

continuará sendo um país agrícola - afirmou.

Representando o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, Andrea Lorena Butto Zarzar reivindicou uma "visão integrada sobre o rural" e sua articulação com um projeto de desenvolvimento nacional.

Para José Humberto de Oliveira, consultor internacional do IICA, o tema interessa a toda a população brasileira. Ele lembrou que, na contramão da visão do Brasil urbano, há estados inteiros que são "estados rurais", o que torna necessário modificar o orçamento público do país para auxiliar os 70% dos municípios brasileiros que têm menos de 20 mil habitantes:

- O meio rural não reivindica apenas política agrícola e agrária, mas também políticas de saúde, educação, comunicação, entre outras. Não podemos ter uma educação que nos expulse de nosso lugar.

A professora Tânia Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco, propôs uma "releitura do rural contemporâneo" de modo a questionar as políticas públicas de hoje para o mundo rural. Ela considera positivo que, desde os anos 90, a agricultura familiar tenha voltado a ser vista como patrimônio do país - conceito que, segundo lembrou, já sofreu muita resistência.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) classificou como preconceituosa a visão de que, no Brasil, riqueza é sinônimo de urbano, afirmando que até hoje a base de nossa balança comercial tem sido o produto rural.

- É preciso definir progresso pela qualidade de vida, não por renda, consumo e técnica moderna - concluiu.

A audiência foi comandada pelo vice-presidente da CRA, senador Acir Gurgacz (PDT-RO).



22/03/2013

Agência Senado


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