Déficit educacional preocupa especialistas que debateram desafios do pré-sal



Os desafios que se colocam à exploração do petróleo da camada do pré-sal dominaram os debates durante audiência pública da Comissão de Serviços de Infraestrutura, na noite desta segunda-feira (26). Um dos participantes da audiência, Armando Guedes Coelho, presidente da comissão de energia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), explicou que apenas para retirar do pré-sal a quantidade de petróleo correspondente à estimativa mais modesta - 50 bilhões de barris - o Brasil precisará de mais de US$ 500 bilhões.

Como o país não tem esses recursos, precisará atrair investimentos, o que, como observou Guedes Coelho, requer o estabelecimento de regras claras que não surpreendam os que desejam aplicar seus recursos no projeto brasileiro. No campo tecnológico, ele não vê grandes obstáculos, porque a Petrobras tem conseguido reduzir o tempo e os recursos financeiros necessários à operação dos poços.

Mão de obra

A situação se complica, segundo o dirigente da Firjan, na questão dos recursos humanos, cuja demanda, em sua avaliação, o Brasil não está preparado para suprir. O mais complicado, ressaltou, é que a mão de obra para trabalhar em águas profundas deve ser altamente qualificada, o que pode levar o Brasil a importar trabalhadores de outros países.

- Se acontecer algum acidente por falha humana em águas profundas, o dano é descomunal - alertou.

O desafio logístico é outro problema que preocupa o dirigente da Firjan. A produção a 300 ou 400 quilômetros da costa marítima, como observou, impõe uma série de dificuldades, a começar pela falta de autonomia dos helicópteros de transportes de equipamentos para as operações de ida a essas plataforma e de retorno delas.

Guedes Coelho disse acreditar na superação desses desafios e previu boa colocação do Brasil no cenário internacional em 2050: grande produtor de alimentos e gigante na produção de energia, ao contrário do resto do mundo, que, conforme observou, enfrentará escassez desses insumos e superpopulação.

Desvantagem

A preocupação com a formação de recursos humanos foi expressa por outro participante da audiência, Bernardo Gradin, presidente da Braskem, terceira produtora petroquímica das Américas. Ele observou que a média de 7,4 anos de estudo do trabalhador brasileiro é inferior à de países vizinhos, como Chile, Peru e Argentina (mais de 10 anos).

- O bom sinal dos números é que o Brasil está progredindo nessa área. Resta saber se a tempo de atender a nossa demanda - observou.

O desempenho dos alunos brasileiros, conforme Gradin, é inferior aos dos estudantes do México e do Chile, o que levou o executivo a comentar que o Brasil precisa não apenas ampliar o tempo de permanência de seus estudantes na escola, mas melhorar a qualidade da aprendizagem.

Essa questão da mão de obra, como ele assinalou, se torna particularmente importante na indústria petroquímica: desde a base operacional até a engenharia de manutenção, leva-se um ciclo de cinco anos para formar equipes.

As projeções sobre a carência de engenheiros no mercado de trabalho preocupam Gradin: se o crescimento do produto interno bruto (PIB) se mantiver na faixa de 5% ao ano, faltarão 250 mil engenheiros até 2015 e 1 milhão em 2022.

Na presidência da audiência publica, o senador Fernando Collor (PTB-AL) observou que a situação é mais preocupante diante da informação de que, para cada 100 engenheiros formados, 72 estão fora da profissão.

Gradin sugeriu o envolvimento de empresas e suas entidades de classe na definição das diretrizes curriculares dos cursos de Engenharia propostas pelo Ministério da Educação. Segundo ele, essa fórmula tem ajudado os Estados Unidos e a Europa a superarem seus problemas.

Laboratório

Durante a audiência pública, o professor Eduardo Setton, coordenador do Laboratório de Computação Científica e Visualização da Universidade Federal de Alagoas (LCCV-UFAL), apresentou o andamento de um projeto que resultou de parceria com a Petrobras na busca de solução para o pré-sal.

Como explicou, o projeto, que integra a Rede Galileu, usa recursos da mecânica computacional, com trabalhos relacionados a dutos, reservatórios, sistemas de ancoragem e raisens. Os estudos e simulações podem ajudar a Petrobras a atravessar as espessas camadas de rochas salinas, a 6 mil metros de profundidade.

Gargalos

O coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), José Renato Ferreira de Almeida, explicou aos senadores as ações desenvolvidas para estruturar ações a partir das reais necessidades de bens e serviços associadas aos investimentos do setor de petróleo e gás natural.

A partir de um diagnóstico dos recursos críticos necessários, ao longo do tempo, para a implementação dos projetos planejados, o Prominp identifica os gargalos relacionados à qualificação profissional, infraestrutura industrial e fornecimento de materiais, equipamentos e componentes. Desde 2003, conforme explicou, o programa desenvolve um conjunto expressivo de projetos e ações com o objetivo de equacioná-los.

Ao fim da audiência - a oitava dentro da "Agenda Desafio 2009-2015" -, Fernando Collor anunciou a realização de uma outra reunião, com palestrantes que ofereceram soluções em todos os painéis, a fim de consolidar propostas que serão encaminhadas ao governo federal.



26/04/2010

Agência Senado


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