Delúbio diz ter recebido "delegação política" para realizar empréstimos com ajuda de Marcos Valério



Em mais de quatro horas de depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos nesta terça-feira (23), o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Delúbio Soares de Castro afirmou que é dele a responsabilidade dos empréstimos feitos pelo partido, que somam mais de R$ 55 milhões, e que foi ele quem autorizou o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em uma relação de confiança, a realizar tais empréstimos. Delúbio, que depôs sem assinar o termo de compromisso para falar a verdade, também afirmou que havia recebido "delegação política" de dirigentes petistas para assumir a "administração econômico-financeira do PT". Na interpretação do presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), esta afirmação foi a mais importante do depoimento.

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- Ele foi bem claro quando disse que recebeu delegação política para fazer os empréstimos para pagar contas do PT e de outros partidos. E, acima de Delúbio no Diretório do PT, só José Dirceu e Lula para tomar essa decisão. Então essa delegação política partiu daí. É claro que ele não citaria nunca estes nomes porque ele foi preparado para não falar nomes - resumiu Efraim ao final da reunião.

Em resposta ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Delúbio confirmou que Paulo Okamotto pagou dívidas do recém-eleito presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva junto ao partido. O depoente explicou que Lula havia nomeado Okamotto como procurador para resolver suas questões financeiras com o PT. Delúbio informou que Lula era funcionário do PT desde 1990 e, quando foi eleito presidente da República, Okamotto ficou encarregado de tratar de sua demissão, tendo também saldado suas dívidas.

- O PT apresentou algumas dívidas não saldadas. Okamotto pagou a dívida. Cobrei de Okamotto e ele pagou - afirmou Delúbio.

Em relação ao banqueiro Daniel Dantas, o depoente reafirmou várias vezes que nunca houve pedido de R$ 40 milhões ao Opportunity, conforme denunciou Verônica Dantas (irmã do controlador do banco) à Corte dos Estados Unidos - onde o banqueiro Daniel Dantas responde a processo.

- Não solicitei nem a (Carlos) Rodenburg nem a (Daniel) Dantas qualquer recurso financeiro - disse.

Quando chegou a vez de a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), questionar o depoente, ela disse não ter nada a perguntar para Delúbio sobre os assuntos investigados pela CPI dos Bingos, ou seja, lavagem de dinheiro por casas de bingos e a relação destas com o crime organizado. O senador Flávio Arns (PT-PR) acompanhou a opinião da líder petista. Entretanto, ao ser interrogado pelo senador Magno Malta (PL-ES), Delúbio afirmou que o PT nunca recebeu recursos oriundos de casas de bingos. O ex-tesoureiro refutou qualquer envolvimento com tais casas de jogos.

- Nunca entrei numa casa de bingo, nem em quermesse eu jogava bingo - afirmou Delúbio.

Já ao líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), Delúbio informou que a prestação de contas do partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era responsabilidade dele e de José Dirceu, então presidente do PT.

- Nunca discuti com Lula problemas sobre arrecadação de recursos para o partido - garantiu.

Agenda

Nesta quarta-feira (24) a partir das 11h30, a CPI dos Bingos realiza reunião administrativa destinada à apreciação e votação de requerimentos.

Em entrevista à imprensa, o presidente Efraim informou que esta e a próxima semanas serão destinadas à tomada dos últimos depoimentos na comissão. Quanto ao relatório final, Efraim afirmou que a tendência é o documento ser divulgado entre os dias 7 e 8 de junho.



23/05/2006

Agência Senado


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