Demostenes acusa governo e ministro da Justiça de omissão e farsa diante da violência



Em um discurso carregado de ironia, do começo ao fim, o senador Demostenes Torres (PFL-GO) acusou o governo federal e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de omissão e dissimulação no combate à violência no país, particularmente na crise do Rio de Janeiro.

- Lá se vai o segundo abril do governo Lula e a apoplexia administrativa provocada pelo reunismo fez com que o governo federal executasse até agora 0,0001% do orçamento do Fundo Nacional de Segurança Pública no exercício de 2004. Ou seja, R$ 856,30.

Demostenes defendeu uma política orgânica para o setor, como a criação de uma polícia única, em vez da dualidade polícia civil/militar, regulamentação da atuação das Forças Armadas na missão de combate ao crime organizado, penas mais severas para crimes violentos e que envolvam tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção. O senador definiu o ministro da Justiça como "acaciano sem reparo, um personagem de Eça de Queiroz, especialmente quando se encontra com a dissimulação".

- Vago em gesto e pensamento - prosseguiu Demostenes Torres -, o ministro, diante do banho de sangue da Semana Santa no Rio de Janeiro, decidiu tatear o extremo da própria passividade.

Segundo o senador, o ministro manteve-se omisso até o final da tarde de segunda-feira passada.

- Como já pude comentar, há algo de Pacheco em Bastos. Nestes 15 meses de governo, raras vezes expandiu o talento inato. Em episódios até menos graves do que a guerrilha da Rocinha, houve alguma manifestação de algum idealista sábio, judicialiforme, incapaz de qualquer vulgaridade, mas de uma impostura parnasiana - ironizou.

Disse ainda Demostenes que Márcio Thomaz Bastos "revelou traços da Síndrome de Condoleeza, a assessora do presidente Bush, que sabia mas olvidou os avisos de um ataque terrorista em 2001". Segundo ele, Thomaz Bastos garantiu que sabia dos preparativos do ataque à Favela da Rocinha, comunicou ao governo do Rio a ameaça, mas "como o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, apostou na prevaricação", disse. Acrescentou, sempre em tom irônico, que o ministro acompanhou passo a passo a escalada de violência no Rio, mas manteve a "platitude" e, "prosopopéico", omitiu-se até ser obrigado a acionar o secretário Nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Este, segundo o senador, fez "uma mistura engenhosa de exclusão de responsabilidade, demagogia e aquele velhaco humanismo".



15/04/2004

Agência Senado


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