DENÚNCIAS CONTRA JUÍZES SÃO GRAVES, DIZEM MEMBROS DA CPI



Os senadores que participam da CPI do Poder Judiciário consideraram muito graves as acusações contra juízes do Tribunal Regional do Trabalho da Paraíba, feitas nesta segunda-feira (19) pelo funcionário do TRT, Antônio de Pádua Pereira Leite. As denúncias, que envolvem práticas de corrupção, nepotismo, apropriação indébita de dinheiro público e contratações irregulares são "estarrecedoras", de acordo com o senador José Agripino (PFL-RN).- Estamos diante de fatos extremamente graves, negócios escusos com recursos públicos e nepotismo em cadeia, num verdadeiro conluio de vários interesses. É nossa obrigação também estabelecer o contraditório, pois o caso se transfere também para o Tribunal Superior do Trabalho (TST) - disse o senador pefelista.O depoimento de Pádua Leite foi considerado por Agripino como "a ponta do iceberg" que envolve as denúncias de corrupção na Justiça do Trabalho. O senador quis saber do depoente quem, no TST, está ao lado do juiz Vicente Wanderley, que precisou recorrer ao tribunal, em 1995, para poder assumir o cargo de presidente do TRT da Paraíba. Esse juiz, segundo depoimento de Pádua Leite, estava disposto a combater as irregularidades cometidas no tribunal e sofreu forte oposição dos juízes.Depois de uma auditoria no TRT, o então corregedor-geral da Justiça do Trabalho, ministro do TST Almir Pazzianotto, decidiu afastar até mesmo Vicente Wanderley, para nomear o juiz Rui Elói, segundo depoimento do funcionário do TRT. Ele citou o ministro Urgulino Santos como um dos integrantes do TST que defendia Vicente Wanderley.A quebra de sigilo bancário e fiscal de um dos vendedores de imóvel para o TRT (ver matéria) foi solicitada por Carlos Wilson (PSDB-PE), vice-presidente da CPI, que também quis saber do depoente sobre a atuação de Wanderley. O funcionário do TRT respondeu que Wanderley recorreu da decisão de Pazzianotto e conseguiu sua reintegração, mas o ministro do TST, não satisfeito, retirou todos os poderes de Wanderley, concedendo-os ao diretor-geral da instituição. Atualmente, porém, nenhum deles está no cargo, todos estão afastados por tempo indeterminado, mas recebendo salários, informou.Disse ainda, em resposta a Carlos Wilson, que o TRT tem atualmente 2.200 funcionários e que nada aconteceu depois da sindicância no TRT, cujos processos estão todos parados no TST, que não os encaminhou ao Ministério Público. "Só o ministro Pazzianotto passou nove meses com o processo", afirmou Pádua Leite.Ney Suassuna (PMDB-PB) disse que ficou impressionado com a quantidade de documentos levada à CPI pelo depoente e criticou o TRT do estado: "Como paraibano me envergonho de tudo isso". Maguito Vilela (PMDB-GO) destacou a coragem do depoente e lhe perguntou quem disse que a CPI não daria certo. Pádua Leite respondeu que foi o atual presidente do tribunal, Ruy Eloy, quem fez essa afirmação aos jornais Norte e Correio da Paraíba e na TV Tambaú. Djalma Bessa (PFL-BA) também ressaltou a coragem do depoente, qualificando sua atuação de "missão arriscada e delicada". Ele também elogiou "o espírito público e o patriotismo" de Pádua Leite.Moreira Mendes (PFL-RO) disse que admira o funcionário do TRT pela sua coragem e pediu que essa prática "sirva de exemplo para outros brasileiros". Ele perguntou sobre os valores dos imóveis adquiridos pelo TRT. Já o senador Geraldo Althoff (PFL-SC) quis saber se alguém ajudou o depoente na catalogação dos documentos. Pádua Leite informou que realizou todo o trabalho sozinho. Quanto aos motivos, respondeu que o fez por uma questão moral: "É uma revolta interna. Não poderia deixar esse pessoal impune".

19/04/1999

Agência Senado


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