Dantas insinua extorsão por parte do PT, mas não cita a palavra em depoimento
Sem citar a palavra "extorsão" e negando que tenha usado a palavra em entrevista à revista Veja, mas insinuando para que os próprios senadores chegassem a essa conclusão, o presidente do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, confirmou parte do conteúdo da entrevista concedida ao colunista Diogo Mainardi em maio. Dantas afirmou, durante audiência na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) nesta quarta-feira (7), ter sentido hostilidade por parte do governo desde que se recusou a contribuir para a campanha do PT em 2002. O pedido foi feito em uma caixa, devolvida vazia a Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular.
A situação, segundo o depoente, piorou após a negativa de doar recursos da ordem de US$ 50 milhões ao PT, a pedido do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, em 2003. Dantas disse ter resistido às pressões para que fizesse a doação, o que levou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), autor do requerimento, a afirmar:
- Se o senhor admite que resistiu é porque houve extorsão.
O banqueiro também confirmou encontros com o ex-ministro José Dirceu - ressaltando que não os solicitou - e com o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb. Disse ainda que, falando em nome do governo, Casseb o ameaçou e o instigou a desistir dos direitos do Opportunity na administração do fundo - integrado por fundos de pensão e o Citigroup - que controla, entre outras empresas, a Brasil Telecom. Sua gestão "desagradava" ao governo. Com sua recusa em abrir mão desse direito, passou a "ser atropelado", e citou como exemplo a negativa de liberação de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à Brasil Telecom para investir em telefonia móvel. A situação culminou com o Citigroup e os fundos de pensão apoiando a destituição do Opportunity da administração do Fundo.
- O conflito societário foi viabilizado pelo governo - analisou Dantas.
Entretanto, o banqueiro negou que tenha entregado à Veja o suposto dossiê que acusa autoridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ter contas no exterior. Negou ingerência na Brasil Telecom e que tenha influência na empresa Kroll, acusada de espionagem. Dantas voltou a afirmar que a contratação da Kroll se deu pela Brasil Telecom sem nenhuma determinação sua. O objetivo seria obter informações que tentassem explicar o sobrepreço de US$ 200 milhões que a telefônica teve que pagar para comprar a CRT, empresa de telefonia do Rio Grande do Sul. A aquisição permitiria à Brasil Telecom se tornar operadora de celular.
A senadora Ideli Salvatti (PT-RS) disse que o depoimento de Dantas é "uma conveniência" para facilitar o julgamento, numa ação movida pelo Citigroup em que é acusado de má administração, na corte dos Estados Unidos.
- As investigações devem ficar onde estão, na Polícia Federal, trazer para cá não ajuda - disse.
Também participou da audiência a diretora do Opportunity e irmã de Dantas, Verônica Dantas. O presidente do Citibank, Gustavo Marin, alegou compromissos no exterior para não comparecer à audiência. Nova data deve ser marcada para ouvi-lo.
07/06/2006
Agência Senado
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