Depoimentos revelaram esquema de corrupção na prefeitura de SP



Com base em notícias da imprensa, as investigações da Promotoria de Justiça de São Paulo sobre o desvio de recursos das obras da Avenida Água Espraiada e do Túnel Ayrton Senna chegaram a testemunhas que forneceram os caminhos para obtenção de provas materiais sobre o pagamento de propinas ao ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. Esses depoimentos, principalmente de ex-funcionários da empreiteira Mendes Júnior, foram resumidos na CPI do Banestado pelo promotor Sílvio Antônio Marques.

O primeiro a ser ouvido, segundo o promotor, foi o ex-caixa da Mendes Júnior Joel Guedes Fernandes, responsável também pelo controle do caixa 2 da empreiteira, que explicou como funcionava o esquema com as subempreiteiras e com a transformação dos recursos de propinas em dólar.

Esse dinheiro, afirmou, era embalado em caixas de uísque e de bombons e entregues a -clientes- da empreiteira, cujos nomes não foram revelados por Fernandes. Ele também revelou o uso da empresa off shore Lespan, investigada pelas autoridades norte-americanas, inclusive pelo Congresso daquele país, que descobriu que a empresa teria lavado US$ 1,8 bilhão nos Estados Unidos.

Marques apresentou cheques usados para pagamento das propinas, que foram encaminhados anonimamente à Promotoria de São Paulo, preenchidos supostamente com uma máquina de escrever da marca Facit citada por Fernandes. Um dos cheques apresentados à CPI tem como beneficiário Rodolfo Castro Filho, -um dos maiores laranjas de esquemas de remessa de recursos a exterior-, cujo nome apareceu também na CPI dos Precatórios. Em dois anos, ele teria movimentado US$ 700 milhões, mas Marques disse suspeitar que ele não existe.

Um dos depoimentos mais importantes, segundo Marques, foi do ex-gerente financeiro da filial da empreiteira em São Paulo, Simeão Damasceno de Oliveira, que deve depor na CPI ainda nesta sexta-feira (15). O promotor disse que, mesmo recuando das declarações dadas nas investigações em fevereiro de 2002, os elementos fornecidos por Simeão foram confirmados mais tarde por provas materiais encontradas (veja matéria).

Outro a depor foi o procurador da empresa Planicampo Terraplanagem, Sérgio Lima Santoro, uma das subempreiteiras contratadas pela Mendes Júnior. Ele confessou que devolvia 90% do valor das notas fiscais emitidas à empreiteira, totalizando um total de US$ 93 milhões. O empresário confirmou ainda que doleiros estariam presentes quando repassava os cheques.

Mais um empresário, Ricardo Augusto da Costa, sócio da Costaço, Comércio de Ferro e Aço, disse aos promotores que não forneceu nenhum produto à Mendes Júnior, já que vendia ferro para metalúrgicas e não para a construção civil. Ele também confessou que devolvia 90% do que recebia à Mendes Júnior.

Nicéa Camargo, que foi casada com o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, confirmou que Maluf recebia propinas de empresas subcontratadas pelas empreiteiras Mendes Júnior, OAS e CBPO na sua própria casa. O produto da propina, segundo Nicéa, seria depositado no exterior. Assim como Simeão, Nicéa disse que as propinas eram pagas a Maluf até 1998, mesmo depois de o político ter deixado a prefeitura.

Ela também teria revelado e a Promotoria confirmado que Pitta era sócio do doleiro Naji Nahas na empresa Yukon River, que aparece nas investigações da Polícia Federal como recebedora de milhões de dólares do Banestado de Nova York.




15/08/2003

Agência Senado


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