Depois de doação de família Prestes, Arquivo Nacional faz campanha para receber mais documentos



A doação ao Arquivo Nacional do acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes feita na última terça-feira (3) pode incentivar a entrega de outros documentos que ajudem a Comissão da Verdade a rever o período da ditadura militar (1964-1985). A avaliação é do diretor do arquivo, Jaime Antunes, que lançará neste ano uma campanha para receber esses documentos.

"Vamos fazer um chamamento, como fizemos em 2009, para que arquivos de civis e militares sejam incorporados como fonte de informação do período em que o Estado mostrou sua força ante movimentos de contestação", disse o diretor.

Na opinião de Antunes, as sete pastas de material doadas pela família de Prestes abre caminho para reconstruir o período de exceção democrática, tarefa da Comissão da Verdade, criada pelo Congresso Nacional. Entre os documentos está uma lista com 233 nomes de torturadores elaborada por presos políticos de São Paulo em 1976.

Durante a cerimônia de doação dos documentos, produzidos ou acumulados entre as décadas de 1970 e 1990, a viúva do político comunista, Maria Prestes, disse que espera ajudar na consolidação da Justiça contra os torturadores. "Por que a gente tem que só apanhar? Se tem Justiça no Brasil, a Justiça deve apurar e deve punir", defendeu.

Maria Prestes disse que a lista com os 233 nomes de torturadores foi entregue a seu marido por "homens de confiança" do Partido Comunista. "Nessa época, todo material de valor era levado para que Prestes tomasse conhecimento. Ele guardou e eu estou doando", contou a viúva.

A relação chegou a ser publicada por um jornal da época, que sofreu dois atentados, e coincide com levantamento feito pelo grupo Tortura Nunca Mais, organização não governamental que busca esclarecimento pelas mortes e desaparecimentos de militantes políticos no período.

Também constam do acervo de Prestes cartas enviadas a líderes políticos como Fidel Castro, relatos da repressão no Brasil e documentos em favor da redemocratização, além de correspondências trocadas com os noves filhos do casamento com Maria Prestes. "Há um vasto material de uma atividade internacional e pessoal", disse um dos herdeiros, Luiz Carlos Prestes Filho.

Membro do Partido Comunista Brasileiro e obrigado a viver na clandestinidade em diversos períodos de sua vida, Prestes denunciou atrocidades do regime militar em diversos países, principalmente na antiga União Soviética, onde viveu exilado por oito anos desde 1971.

Durante o Estado Novo, também brigou contra a ditadura de Getúlio Vargas. Neste período, era casado com a alemã Olga Benário, que pertencia à Internacional Comunista e foi deportada grávida para a Alemanha de Adolf Hitler, onde foi morta em uma câmara de gás. A filha do casal, Anita Leocádia Benário Prestes foi criada pela avó paterna.

 

Fonte:
Agência Brasil



04/01/2012 12:19


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