Desemprego é maior entre mulheres negras, afirma assessora do Dieese



As mulheres negras enfrentam maiores dificuldades de encontrar emprego que os demais trabalhadores brasileiros e, quando conseguem uma vaga, trabalham mais, quase sempre sem carteira assinada, e ganham menos que outros segmentos, informou Lilian Arruda Marques, assessora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). No mesmo sentido, Luiz Alberto de Vargas, juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, apontou preconceito "arraigado na cultura do país" segundo o qual o trabalhador branco é melhor do que o negro. Ambos participaram de audiência pública realizada nesta quarta-feira (30) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

Ao discutir a situação dos negros no mercado de trabalho, Lilian Marques citou dados de estudo do Dieese mostrando que a taxa de desemprego entre a população negra chega a ser, em algumas regiões metropolitanas, 46% maior que o índice verificado entre os não-negros, sendo esse um problema ainda mais acentuado entre as mulheres negras. A diferença de remuneração também foi apontada pela assessora. Na região metropolitana de Salvador, exemplificou ela, o rendimento por hora dos negros (R$ 4,07) equivale a 50,3% do rendimento dos não-negros (R$ 8,09) e, em São Paulo, o ganho por hora dos primeiros (R$ 4,26) é de 53,3% em relação aos últimos (R$ 7,99).

A concentração do negro nas faixas de menor escolaridade também foi destacada por Lilian Marques. Conforme observou, faltam políticas para manter esses estudantes na escola. Ao concordar com a assessora, Luiz Alberto de Vargas observou que a dificuldade de acesso à educação coloca a população negra em desvantagem na corrida por um emprego, sendo necessária, disse, uma ação mais firme do Estado para superar o problema.

- A desigualdade é o principal problema do país, o que justifica a adoção de medidas afirmativas, como a política de cotas para negros, por exemplo - afirmou Luiz Vargas.

Também presente ao debate, Antônio Prado, chefe do Departamento de Relações com o Governo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destacou a contribuição do banco no combate à exploração do trabalhador. Conforme observou, o BNDES adotou, desde fevereiro, norma vetando o financiamento a empresas envolvidas em denúncias de trabalho escravo.

Ao saudar os participantes da audiência pública, o presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), ressaltou que o debate integra as atividades em comemoração ao Dia do Trabalho e aos 120 anos da abolição da escravatura.

- O 1º de maio deveria ser o Dia do Trabalhador, um dia de reflexão para lembrarmos que o caminho que a Nação percorre tem as pegadas fortes do trabalhador brasileiro - frisou Paim, ao anunciar que a audiência pública inicia um ciclo de debates sobre "os 120 anos da abolição não conclusa".



30/04/2008

Agência Senado


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