DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA NEM SEMPRE CAUSA INFLAÇÃO E DESEMPREGO, DIZ SUPLICY



Nem todos os países que desvalorizaram sua moeda tiveram aumento descontrolado da inflação e do desemprego, afirmou hoje (dia 29) o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ao comentar as respostas do ministro da Fazenda, Pedro Malan, às perguntas formuladas pelos senadores na manhã de hoje (29), em plenário, Suplicy afirmou que o ministro generalizou ao dizer que os países que desvalorizaram suas moedas tiveram problemas maiores que antes da desvalorização. Segundo Suplicy, Malan referiu-se, especificamente, ao México, à Russia, à Coréia e à Indonésia.O parlamentar lembrou que, no período compreendido entre setembro do ano passado e setembro deste ano, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia - todos pertencentes à Comunidade Britânica - tiveram desvalorizações substanciais no câmbio. Segundo o senador, a Nova Zelândia desvalorizou sua moeda em 40%, a Austrália em 35% e o Canadá em torno de 20%. Todos eles, no entanto, tiveram um razoável crescimento de suas economias sem um aumento significativo da inflação.Suplicy reconheceu os problemas decorrentes da desvalorização no México, na Rússia, na Coréia e na Indonésia e ressalvou que os países integrantes da Comunidade Britânica têm renda per capita bem superior à brasileira - que se situa hoje um pouco acima de US$ 5 mil anuais, enquanto Austrália e Canadá estão perto de US$ 20 mil e a Nova Zelândia em torno de US 16 mil.- Quando há capacidade de produção ociosa e quando as taxas de desemprego estão tão altas, um ajuste mais acelerado da taxa cambial pode ser compatível com a estabilidade de preços e com o não-agravamento da inflação, sobretudo se promover o crescimento da atividade econômica e do nível de emprego - afirmou Suplicy.O senador mostrou preocupação também quanto à ausência, no rol de medidas governamentais apresentadas para a promoção do ajuste fiscal, de qualquer diretiva compensatória para a diminuição da fome e da miséria. Segundo ele, o ministro não deu uma resposta convincente. OFÍCIOSSuplicy comunicou ao plenário ter enviado ofício ao ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, protestando contra o aliciamento de mulheres brasileiras para que se prostituam na Europa e em Israel. Ele lembrou o assassinato da brasileira Kelly Fernanda Martins, de 27 anos, em Telavive, e pediu segurança para as oito moças resgatadas de casas de prostituição em Israel. Ao mesmo tempo, pediu que seja feito um levantamento para saber se há lá mais brasileiras nessa situação.Suplicy também comunicou ter enviado ofícios aos ministros do Trabalho, Edward Amadeo, e da Administração, Claudia Costin, sobre as condições dos trabalhadores em fábricas de amianto, denunciadas por uma funcionária pública federal que estaria sofrendo agora retaliações. O senador afirmou que há vários anos o trabalho com amianto é proibido na França, onde duas mil pessoas morreram de câncer no pulmão e na pleura derivados da aspiração de poeira de asbesto.

29/10/1998

Agência Senado


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