Dilma Rousseff paga preço por coalizão muito ampla, dizem senadores
Ao final de uma semana marcada pelo debate em torno de denúncias de irregularidades na área federal, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), subiu à tribuna do Plenário nesta sexta-feira (12) para pedir à presidente da República, Dilma Rousseff, que organize uma força tarefa destinada a combater a corrupção em Roraima. O discurso ecoou o apoio que vários senadores, inclusive o presidente da Casa, José Sarney, vêm dando à presidente num momento em que a imprensa publica notícias sobre possíveis movimentos de rebeldia na base parlamentar do governo:
- A presidente Dilma pode fazer de Roraima um exemplo de como limpar a corrupção. Se for feita uma varredura, teremos um estado saneado em pouco tempo. Mas se esperarmos pelo governador, isso não vai ocorrer - afirmou, referindo-se a José de Anchieta Júnior (PSDB).
Nas análises feitas por pelo menos três senadores um componente essencial das dificuldades enfrentadas por Dilma está na amplitude muito grande de sua base parlamentar.
Um dos que compartilham esse ponto de vista é o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele atribuiu a Lula os problemas com que Dilma se deparou no Ministério.
- O grande erro cometido, e até acho que o Lula o cometeu na melhor das intenções, foi a organização desse Ministério que está aí. As composições foram feitas no sentido de se ter uma ampla base partidária, e nunca houve governo na história do Brasil com uma base partidária tão grande quanto a que teve a Dilma quando começou. Mas a que preço? - questionou.
Simon lamentou que os partidos estejam indicando pessoas que "não são 100% inatacáveis", mas pessoas que, segundo afirmou, "já têm uma biografia de erros sérios cometidos e que não poderiam ter sido indicadas". Mesmo se indicadas, não poderiam ser aceitas pela presidente.
Segundo o parlamentar gaúcho, Dilma tem demonstrado mais coragem do que seus antecessores, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, para combater os desvios éticos no âmbito da administração pública. Mas aconselhou-a, apenas, a "ir mais devagar", não porque não esteja certa, mas porque "a coisa está tão errada que não pode mudar da noite para o dia".
Simon pediu o apoio do PMDB e do PT à presidente da República. Ele fez o apelo ao dizer que, segundo informações da imprensa, esses dois partidos se mostram insatisfeitos, e ameaçam colocar em votação no Congresso Nacional matérias polêmicas, às quais a presidente teria restrições.
Ao dois partidos, também lançou uma advertência:
- Ela é a heroína que está querendo moralizar e os partidos não estão deixando. É assim que a imprensa está colocando. Esta é a interpretação das manchetes de jornais e de televisão. Não pode. O PMDB não pode entrar nessa, muito menos o PT - disse o senador.
Em resposta ao discurso de Simon, que pediu ao presidente do Senado, José Sarney, um comentário sobre o suposto risco de Dilma Rousseff não completar seu mandato, Sarney afirmou:
- Quero reafirmar minha solidariedade à presidente da República. Tenho certeza que Dilma fará um governo excelente para o povo brasileiro.
A menção ao risco corrido por Dilma teria sido feita pelo ex-ministro da Casa Civil durante o governo Lula e ex-presidente do PT, José Dirceu, em conversas com importantes líderes políticos que integram a base da presidente. Sarney, que presidia a sessão plenária, negou os termos da conversa mencionada em nota do blog do jornalista Cláudio Humberto:
- Quanto a mim, eu posso assegurar que essa conversa não existiu sobre esse tema.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), outro que questiona o modelo de coalizão política em torno de Dilma Rousseff, também saiu em defesa da presidente, em discurso na quinta. Ele criticou especulações de que ela poderia não terminar o mandato, em virtude da falta de apoio político. "Isso não pode ser dito, pensado ou sonhado", afirmou.
Para o senador, um governo não pode ser punido por seus acertos, em referência às demissões em ministérios investigados por irregularidades.
- Dilma está fazendo o certo ao bancar a faxina - afirmou o senador.
Para o parlamentar, o problema da articulação política do governo pode estar na montagem da base aliada com muitos partidos, mas sem uma bandeira que a unifique.
- Por falta de bandeira, tem partido que metade apoia e metade não apoia. A base precisa criticar os erros e apoiar os acertos - disse o senador.
Diante das sucessivas denúncias de irregularidades em órgãos do Executivo, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) afirmou, em seu pronunciamento, que é hora de o país repensar o atual modelo de gestão pública, baseada no governo "de coalizão" e na "governabilidade a todo e qualquer custo".
Para o senador, o pragmatismo nesta relação entre Executivo e Legislativo estaria "no limite da irresponsabilidade", uma vez que, no governo, o apadrinhamento político estaria se sobrepondo às contratações por mérito e competência.
- Sabemos todos que as negociações que garantem o apoio parlamentar nem sempre são exatamente republicanas e podem acabar comprometendo a gestão e os resultados da máquina pública. - assinalou.
Autor de vários requerimentos para a convocação de ministros acusados de irregularidades, o líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR) fez um apelo aos parlamentares de todos os partidos para que elejam a corrupção como o inimigo nº 1 do Brasil. Em sua avaliação, o problema é o mais importante a ser enfrentado atualmente no país.
- Como não combater a corrupção? Como alguém pode afirmar não ser prio ridade de um mandato parlamentar, especialmente na oposição? - indagou.
Na opinião do senador Pedro Taques (PDT-MT), a corrupção tornou-se "endêmica no Brasil". O parlamentar, que foi procurador da República, mencionou as emendas parlamentares individuais ao Orçamento da União que, argumentou, muitas vezes são utilizadas no desvio de recursos do erário.
Pedro Taques manifestou desejo de que os parlamentares apoiem a presidente da República, Dilma Rousseff, na "faxina" contra a corrupção.
12/08/2011
Agência Senado
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