Doenças negligenciadas são problema mundial, avalia especialista
Doenças comuns em países subdesenvolvidos estão cada vez mais frequentes em nações com baixo histórico de pessoas contaminadas. De acordo com o biólogo Jaime Santana, decano de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Brasília (UnB), a vida moderna transforma-as num problema mundial.
“Hoje em dia as pessoas vão para todos os cantos do mundo. Os turistas também se contagiam. Nos Estados Unidos [EUA] há muitos doentes com chagas, há muitos soldados voltando das guerras no Oriente Médio com leishmaniose. Onde tem guerra tem malária também”, explica o decano, que é especialista em estudos sobre esses problemas. Nos dias 21 e 22, o tema será discutido no Seminário Brasil – Ciência, Desenvolvimento e Sustentabilidade, a ser realizado no Rio de Janeiro.
As três doenças citadas por Santana integram um grupo, delimitado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela entidade Médicos sem Fronteira (MSF), composto por 17 enfermidades causadas por agentes infecciosos, como bactérias e parasitas. Esses males são batizados como doenças negligenciadas, pela falta de investimento em pesquisas e desenvolvimento (P&D) para medicamentos e prevenção.
Embora, segundo a OMS, afetem cerca de 1 bilhão de pessoas, concentradas em áreas rurais e favelas urbanas, a indústria farmacêutica pouco se interessa pelo tema por causa do baixo retorno financeiro do mercado. Jaime Santana avalia que o Brasil tem a chance de sensibilizar governos e empresários quanto à importância de investimentos para combater o problema.
Discussão
Promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e por instituições parceiras do sistema, o seminário no Rio vai apresentar uma síntese dos encontros preparatórios para o 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC 2013), que acontecerá do entre 24 e 26 de novembro. Participarão do FMC empresários, pesquisadores e governantes de 65 países.
O decano da UnB afirma que um dos objetivos do governo brasileiro é ressaltar a todos os participantes que as doenças negligenciadas são uma responsabilidade mundial. “Esperamos que surjam parcerias tanto na formação de recursos humanos quanto em pesquisas. Precisamos de uma parceria público-privada para produzirmos novos medicamentos porque os que temos estão aquém da necessidade do mercado”, diz.
Além de P&D na área, é preciso que os governos invistam em saneamento básico, estrutura de atendimento hospitalar e acesso ao médico para um diagnóstico rápido dessas doenças. A OMS recomenda cinco estratégias de saúde pública para a prevenção e o controle das doenças negligenciadas: medicação preventiva; intensificação da gestão de casos; controle de vetores; provimento de água limpa, saneamento e higiene; e saúde pública animal.
Desafios e contribuições
Para Jaime Santana, o Brasil tem tudo para ser líder nesse mercado de produção de medicamentos. “Temos uma rede de pesquisadores e laboratórios, mas que precisa ser incrementada. Somos referência na produção de conhecimento em como essas doenças acontecem, sintomas clínicos e em como esses patógenos causam essas doenças”, observa.
Na visão do biólogo, a lista de desafios para as pesquisas inclui investimento contínuo e formação de recursos humanos. Para dar capilaridade ao tratamento e à prevenção, ele destaca a necessidade de contar com pesquisadores e técnicos.
“Os técnicos são os que passam pelas casas e vão até às escolas para ensinar crianças a identificar vetores e sintomas dessas doenças. Esse é o melhor caminho no sentido da prevenção aliado ao caminho das pesquisas”, explica. “Para termos pesquisadores precisamos de recursos para as pesquisas e capacitação profissional. Sem dinheiro para doenças negligenciadas eles vão para outra linha de pesquisa.”
Em janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde divulgou relatório Manter o Impulso para Superar o Impacto Global das Doenças Tropicais Negligenciadas. O estudo mostra que o mundo está mais perto da eliminação de algumas das enfermidades que compõem esse grupo.
A América registra o diagnóstico de 12 delas. Nos 35 países do continente americano, 34 eliminaram a lepra. O documento planeja a erradicação ou o controle global, regional ou nacional das 17 doenças entre 2015 e 2020.
O relatório, em inglês, pode ser acessado aqui.
Fonte:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
14/11/2013 21:04
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