Economistas defendem autonomia do Banco Central em debate promovido pela CAE
A autonomia do Banco Central (BC) foi defendida nesta terça-feira (10) por participantes de audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para analisar a conjuntura econômica brasileira. Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse, pediu a aprovação de substitutivo do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 102/2007, em tramitação na CAE.
Teixeira disse que o Brasil é o único país, entre os que adotam o regime de metas da inflação, cuja diretoria de Banco Central não tem mandato fixo. De acordo com o substitutivo em debate na CAE, o presidente e os diretores do BC teriam seis anos de mandato, podendo ser reconduzidos uma única vez.
Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, previu "impacto institucional" semelhante a um Plano Real para a adoção da independência operacional do BC. Segundo ele, o Brasil está maduro em relação ao tema, e a politização em torno dele "já perdeu o sentido".
Transparência
Teixeira disse que os aportes frequentes do Tesouro em instituições estatais, com troca de títulos públicos por títulos dessas empresas, reduzem a transparência no campo fiscal. Em resposta a questionamentos de Dornelles, Cristovam Buarque (PDT-DF) e Blairo Maggi (PR-MT), o economista do Credit Suisse disse que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já responde por 19% da dívida mobiliária do país.
Os participantes da audiência concordaram em um ponto: é preciso aumentar a transparência nas contas do governo. Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, afirmou que o Brasil não tem "uma dinâmica perversa" de dívida, nem um problema fiscal, mas precisa reforçar a transparência de suas contas.
Octavio de Barros advertiu que o Brasil tem uma recorrente crise de confiança, independentemente do governo do momento. Para enfrentar o problema, ele apresentou algumas sugestões, como melhorar a transparência na área fiscal.
– Há uma ampla percepção de que o Brasil possa estar gerando passivos ocultos de difícil mensuração mais adiante. O país precisa de orçamentos críveis – acrescentou.
Outra sugestão do economista-chefe do Bradesco é a de aprovar uma lei fiscal inédita que limite o crescimento dos gastos públicos totais ao crescimento do PIB nominal, impedindo indiretamente o crescimento da dívida bruta. O efeito, como previu, seria uma queda estrutural nas taxas de juros.
Produtividade
Respondendo a Cristovam Buarque, Nilson Teixeira afirmou que o aumento da produtividade do país dependerá dos investimentos em educação. Ele defendeu, para estimular a educação básica, um mecanismo semelhante à Lei Rouanet, que possibilita aos cidadãos e empresas a aplicação de parte do Imposto de Renda devido em ações culturais.
Ponto de vista parecido foi defendido por Ilan Goldfajn, para quem o crescimento no longo prazo depende mais da produtividade. Segundo ele, a melhoria da educação pode elevar a produtividade e gerar mais crescimento.
Crescimento
O economista do Itaú Unibanco lembrou que, para combater a crise financeira de 2008, os governos usaram uma grande quantidade de estímulos, como a redução das taxas de juros, que, "como já sabíamos, seriam retirados em algum momento".
– A dúvida é o que iria acontecer quando os estímulos fossem retirados. E é isso que estamos começando a viver em 2013.
Segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, três fenômenos positivos – a retomada do crescimento nos Estados Unidos, na China e na Europa ("ainda tímido") – trazem um problema de curto prazo para o Brasil. O fim dos juros baixos e dos estímulos, nesses mercados, faz o fluxo de capitais mudar de direção, com reflexo na alta do dólar e na depreciação das moedas dos países emergentes, como observou Goldfajn.
Já Nilson Teixeira previu que a economia brasileira crescerá 2,4% neste ano – número próximo ao percentual previsto pelo governo, de 2,5%. Segundo ele, um dos principais destaques será a agropecuária, que vem registrando crescimento expressivo em 2013.
O presidente da CAE, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), considerou importantes os debates que a comissão vem realizando sobre a conjuntura econômica brasileira, com a participação de convidados que trazem tanto a perspectiva do setor público, como a do mercado.
10/09/2013
Agência Senado
Artigos Relacionados
CCJ adia debate sobre autonomia do Banco Central
Audiência pública debate autonomia do Banco Central
Jucá defende autonomia do Banco Central
Autonomia do Banco Central será debatida na CCJ
CCJ discutirá autonomia do Banco Central no próximo dia 27 às 14h
CCJ analisa projeto que trata da autonomia do Banco Central