Eleição é citada no exterior








Eleição é citada no exterior
SÃO PAULO - As duas principais revistas semanais em circulação nos Estados Unidos trouxeram reportagens nesta semana sobre as eleições presidenciais brasileiras e a possibilidade de vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

A Newsweek trouxe um perfil de Lula, ressaltando o resultado do primeiro turno como largamente favoráveis para ele e para o PT. A revista afirma: ''O que quer que aconteça, Lula já atingiu um sucesso impressionante para um sindicalista que largou os estudos na quarta série e aprendeu as primeiras lições de política na linha de frente de piquetes grevistas diante de cassetetes de policiais''.

A Time tenta ligar o sucesso eleitoral de Lula e do PT ao temor que o mercado internacional vem demonstrando em relação à toda a América Latina. Segundo a revista, o Consenso de Washington - alinhamento das políticas econômicas dos países do continente com as propostas defendidas pelos Estados Unidos durante os anos 90 - pode estar ameaçado.

Mas essa idéia não é geral. Ouvido pela Time, John Williamson, do Instituto de Economia Internacional de Washington, afirmou:

''O PT é agora elegível, porque converteu suas políticas para o centro''.

Também o jornal britânico Financial Times trata da eleição brasileira. Ele destaca em sua edição de ontem os resultados das pesquisas Datafolha e Vox Populi divulgadas este fim de semana nos quais Lula amplia sua vantagem sobre José Serra (PSDB).

''Com 60% das intenções de voto, Lula conta com uma dianteira de 30% em relação a Serra para o segundo turno'', afirma o jornal ao lembrar a pesquisa do Vox Populi. O jornal traz também os resultados do Datafolha: Lula com 58% dos votos contra 32% de adversário.


Disputa mais leve pela TV
BRASÍLIA - A campanha presidencial voltou à televisão ontem, com os novos programas de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra, do PSDB. A partir de agora, em todo o segundo turno os dois candidatos vão dividir o mesmo espaço diário - 20 minutos para cada um deles, metade às 13h, metade à noite, às 20h50.

O uso desse tempo no primeiro programa, porém, foi bem diferente. Lula usou imagens dos aliados e comemorou o desempenho do PT nas urnas. Ainda assim, várias vezes o programa respondeu, previamente, à estratégia de José Serra de pedir mais debates na televisão. De fato, como era previsto, a pressão por mais debates ocupou boa parte do programa tucano.

Aproveitando os novos aliados, o programa do PT mostrou Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) pedindo aos eleitores que deram a eles 25 milhões de votos que, agora, optem por Lula. Até a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, apareceu. Ainda na cama de um hospital, onde se recupera de uma cirurgia, Roseana acenou para os espectadores, chamando-os para que venham para Lula.

Mas o tópico mais visitado no horário eleitoral foi mesmo o debate. O programa petista defendeu a idéia de que Lula já participou de vários debates durante o primeiro turno, na TV e no rádio, acentuando, com recortes de jornal, que, segundo os espectadores, o candidato teve melhor desempenho que os adversários.

E como para encerrar a discussão, marcou o único debate com a participação de Lula no segundo turno: dia 25, na TV Globo, que inova no formato do programa com os candidatos circulando livremente pelo cenário. Inspirada em similares americanos, a fórmula do encontro entre presidenciáveis e eleitores indecisos é inédita no Brasil.

Minutos depois o tema debate foi repetido durante o programa de José Serra. Os dez minutos do tucano foram ocupados com uma espécie de entrevista, onde ele defendeu que o segundo turno serve para uma comparação entre os principais candidatos e, portanto, insistiu para a realização de mais encontros com o adversário do PT. A linha principal foi ''Lula não está querendo debate''.

- Eu não entendo o porque da resistência do PT para que seu candidato, o Lula, debata comigo - repetiu Serra.
O tucano aproveitou a ''entrevista'' para apresentar suas promessas sobre emprego, programas sociais e segurança - ponto em que defende a mudança na Constituição para que o governo federal possa ajudar os Estados no combate ao crime.

Serra ainda elogiou a vice, Rita Camata, e os projetos defendidos por ela como a ampliação da licença-maternidade. Finalmente, lembrando que foi exilado durante a ditadura, Serra comemorou estar participando de uma eleição democrática entre dois candidatos ''de origens humildes''.


Força fica neutra na disputa
Decisão de liberar sindicatos para apoiar candidatos racha a direção da entidade

BRASÍLIA - A Força Sindical decidiu ontem não apoiar oficialmente nenhum candidato à Presidência. Mas, na prática, cerca de 70% das 1.834 entidades filiadas à central deverão seguir Luiz Inácio Lula da Silva ( PT). O candidato do PSDB, José Serra, obteve o apoio de pouco mais de 50 sindicatos. A liberação dos filiados causou mal-estar entre o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, e um dos fundadores, deputado Luiz Antônio Medeiros (PL-SP).

Na reunião, que durou três horas, compareceram 170, de um total de 212 dirigentes. Por várias vezes, Medeiros, que está licenciado da central, fez discursos em defesa do apoio incondicional a Lula. Segundo um dos presentes à reunião, o deputado pediu que todos os dirigentes, inclusive aqueles que apóiam Serra, assinassem uma moção em nome do candidato do PT.

- Vocês podem oficializar apoio a Lula, mas assim que sair daqui vou contar para todo mundo que voto em Serra - rebateu o coordenador da Confederação de Produtos Alimentícios e um dos vice-presidentes da Força, Melquíades Araújo, filiado ao PSDB.

A polêmica foi controlada quando a maioria dos dirigentes se manifestou pela liberdade da central. O mal-estar recomeçou durante a entrevista coletiva. Medeiros, que não foi convidado a compor a mesa, entrou na sala reservada para a imprensa e começou a criticar a posição adotada pela Força.

- Isso é um retrocesso para a Força. Acho que a central deveria continuar como oposição, com o Lula. Liberar os sindicatos agora é uma incoerência.

Além dos sindicatos alimentícios, o sindicato da Construção Civil de São Paulo, ligado ao PPB do ex-governador paulista, Paulo Maluf, deve seguir Serra. Apesar de ter anunciado há uma semana apoio a Lula, Paulinho argumenta que a Força Sindical tem filiados de todos os partidos, do PFL ao PT.

O presidente da Força quis deixar claro que o apoio não significa adesão a um futuro governo petista. Para ele, é necessário esperar os primeiros cem dias de um eventual governo Lula para saber se o candidato seguirá ou não o que defendeu.

- Se a CUT está há 20 anos na oposição, podemos ficar um tempo também - disse Paulinho.


Todos concordam: alta de juros prejudica candidatura de Serra
Tucano foi avisado antes, por FH, da medida, que não agradou ao comando de sua campanha

BRASÍLIA - Economistas e políticos vinculados aos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra , do PSDB, que disputam o segundo turno da sucessão presidencial ficaram perplexos com o aumento da taxa básica de juros determinada ontem pelo Banco Central. Alguns apontaram a decisão como inevitável e marcada pela ética. Outros, como inócua e precipitada. Todos concordam, no entanto, que o candidato do governo, José Serra (PSDB), é o maior prejudicado pela medida tomada pela equipe econômica.

O comando da campanha tucana não gostou da decisão, que foi comunicada a Serra com antecedência pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso. O candidato do PSDB ficou contrariado e não quis comentar o assunto ontem.

O presidente do PMD B, Michel Temer, porém, acabou concordando com o presidente Fernando Henrique, para quem o aumento não poderia ser adiado para depois da eleição.

- Ia ficar parecendo demagogia - afirmou Temer, ciente do prejuízo eleitoral para Serra.

O presidente do PT, José Dirceu, considerou a medida ''inevitável'' diante dos erros cometidos na condução da política econômica.

- O governo ficou sem margem de manobra e só sobrou a recessão, o que é muito ruim - afirmou.

O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) discorda de Dirceu. Ele classificou a decisão do Banco Central de precipitada. Disse que a medida não segura a especulação e causa mais preocupação.

- Qualquer especialista que avaliar essa decisão dirá que o Brasil está mais frágil e que o Banco Central age como se estivesse desesperado - afirmou o deputado.

Os economistas vinculados ao PT concordam com Berzoini. Guido Mantega disse que a medida não terá eficácia para estancar a desvalorização do real, nem para controlar a inflação.

- Isso só vai resultar em conseqüências negativas. Vamos ter uma depressão da economia - previu Mantega.
Por sua vez, Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, disse que o custo social da medida será elevado.
- A recessão se tornou, neste governo, o principal instrumento de política econômica - afirmou.

Dirigentes do PFL se dividiram na avaliação. O senador eleito Antonio Carlos Magalhães (BA) disse que a situação estaria mais tranqüila se Lula tivesse sido eleito no primeiro turno. Enquanto isso, o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), culpou o favoritismo de Lula pela instabilidade.

- Se ele ganhar, vai piorar ainda mais - previu Bornhausen.


PSDB reúne apoios para a reta final
SÃO PAULO - O candidato à Presidência da República, José Serra, recebeu ontem o apoio oficial de 83 prefeitos de diferentes Estados do país. Numa churrascaria, na Zona Oeste da capital paulista, o tucano discursou em cima de uma cadeira.

- Sempre disse que a grande saída para o Brasil é a descentralização e o fortalecimento dos municípios -, afirmou.

Enquanto transcorria o almoço, o governo divulgou a notícia do aumento da taxa de juros. Aparentemente por isso, Serra preferiu sair do evento sem conversar com os jornalistas. Antes, no entanto, ele tinha dito que era favorável a um maior debate dos problemas brasileiros.

- Precisamos discutir o aumento do dólar - frisou.

Além de prefeitos de partidos da base governista (PSDB, PMDB e PFL), estavam presentes um do PL (Romoaldo Júnior-MT), um do PDT (João Santana Neto-SP), um do PV (Solange Pereira de Almeida-RJ) e um do PPS (Luiz Cavalcante-PI).


Lula recebe apoio de 22 prefeitos do Rio
Secretário-geral do PT diz que sozinha a esquerda não faz mudanças

Ao pedir o empenho dos 22 prefeitos do Rio presentes a um almoço de adesão à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República, o secretário-geral do partido, Luís Dulci, disse ontem recear do ''uso de recursos escusos'' pelo candidato José Serra, do PSDB.

- Precisamos da incorporação de cada um dos prefeitos. Os adversários têm reduzida intenção de voto, mas uma máquina poderosa. Pelo que se fala, não hesitaria em usar recursos escusos - afirmou Dulci, numa churrascaria da Zona Sul do Rio, para uma platéia de prefeitos do PSB (a maioria), PMDB, PDT, PTB, PL e PT, além da governadora Benedita da Silva e parlamentares.

Dulci justificou a apreensão citando notícias de jornais, nas quais foram usadas pelos tucanos a expressão ''desconstrução''.

- É uma palavra que não faz parte do vocabulário da democracia. É sinônimo de destruição do adversário. Mas nós não temos medo.

Dulci afirmou que, para o PT, não há diferença entre os que aderiram à campanha no primeiro turno ou os que confirmaram o apoio recentemente. Num governo de Lula, disse, haverá lugar para vários partidos.

- Lula vai fazer um governo amplo. Não basta o PT. Não bastam, sequer, as esquerdas para fazer um governo de mudanças consistentes.

Sobre a insistência de Serra na realização de muitos debates, Dulci observou que o contato com o eleitor é um ''trunfo do PT''.

- O Serra não tem capacidade de mobilização. Não tem carisma de palanque. Nós vamos participar de debate, sim, mas não vamos só fazer mídia eletrônica, inviabilizando o contato direto com os eleitores.

Coordenadora da campanha de Lula no Rio, Benedita disse que o PT vai apostar em duas ações no Estado para atrair votos: a realização de carreatas e bandeiradas e, pelo menos, um grande evento, com a participação de Lula, possivelmente na Baixada ou no interior.

Perguntada sobre a participação de apenas 22 dos 92 prefeitos do Estado, a governadora garantiu que muitos estão em vias de anunciar o apoio a Lula. Lembrou que, hoje, por exemplo, ela vai se reunir com o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (sem partido).


Uma babel de alianças partidárias
Políticos de São Paulo anunciam apoios condenados pelas executivas nacionais

SÃO PAULO - Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não conseguiu fazer cumprir a verticalização partidária, a situação ficou mais difícil com o quadro das alianças fechadas em São Paulo. Ontem, a executiva nacional do PSB divulgou nota oficial do presidente do partido, Miguel Arraes, anulando a decisão do diretório regional paulista, que anunciou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano disputa o segundo turno com José Genoino, do PT.

O diretório do PSB aprovou a adesão por 19 votos a sete. No plano federal, o partido fechou com Lula, além de ter determinado que a decisão fosse seguida em todos os Estados.

Na nota, Arraes lembrou que o 8º Congresso Nacional do partido havia delegado à executiva nacional qualquer decisão de apoio no pleito. O texto diz que ''a Comissão Executiva Nacional do PSB foi surpreendida com a decisão da direção do partido em São Paulo de apoiar o candidato do PSDB para o governo estadual. A direção do PSB em SP não estava autorizada, e continua não estando, a adotar tal decisão''.

O presidente do PSB de São Paulo é Márcio França - prefeito de São Vicente (SP) e coordenador da campanha presidencial de Anthony Garotinho.

- Apoiamos aquele que, estrategicamente, achamos melhor para o partido. Alckmin tratou todas as prefeituras em igualdade de condições - justificou França.

A decisão de França deixou claro o racha no partido. Além da executiva nacional, o prefeito foi criticado também pela deputada estadual reeleita, Luiza Erundina. Ela se uniu a um grupo de militantes contrários à adesão e manifestou seu apoio pessoal a Genoino.

O PDT vive situação similar à do PSB. O presidente nacional do partido, Leonel Brizola, deu apoio incondicional a Lula, mas um grupo de deputados estaduais paulistas eleitos anunciou, ontem à tarde, adesão à campanha do tucano Geraldo Alckmin.

Enquanto os partidos discutem a divisão, Genoino admitiu estar atrás dos eleitores de seu adversário do PPB, Paulo Maluf, mas não de seu apoio. Ele deixou claro que seu objetivo são os cerca de 4 milhões de votos que Paulo Maluf conseguiu no primeiro turno:
- Não fecharemos com ele porque é nosso adversário histórico. Quem votou no Maluf no primeiro turno, votou contra a farra dos pedágios, o desemprego e a violência. Agora nós representamos essa mudança - disse o candidato.

O PPB, que ainda não se decidiu entre Alckmin e Genoino, deve anunciar amanhã, oficialmente, seu apoio, segundo afirmou o presidente do diretório, Jesse Ribeiro. Segundo ele, o assédio ao partido mostra que o PPB ''continua vivo'', apesar de afastado do poder.

- O partido que receber o apoio do PPB terá que assumir que está ao l ado do malufismo. O Maluf teve 4,2 milhões de votos. Quem negar este fato estará desrespeitando a vontade democrática de todas essas pessoas.
A direção nacional do PPB deu autorização aos diretórios estaduais para fechar alianças. Ribeiro admitiu que as negociações com Alckmin estão mais avançadas.


Artigos

A grande chance do PT
Jarbas Passarinho

O segundo turno das eleições presidenciais oferece ao candidato do PT a sua melhor chance, ao cabo de quatro tentativas, de chegar à Presidência da República. O senador Serra - como é compreensível - não perde a esperança de vencer. O raciocínio de que se trata de uma nova eleição, porém, é simplista. A analogia com uma segunda partida de futebol, com os mesmos times, em que tudo pode acontecer, é precária, pois no caso é como se os times entrassem em campo com o escore da primeira partida. Ora, Lula teve mais 20 milhões de votos que Serra. As alianças já consumadas, ao que tudo indica, agravam a distância que separa Lula de Serra. Justamente ou não, este é acusado de algoz dos Sarney, o chefe já engajado no primeiro turno com Lula, e de Ciro, cuja adesão a Lula foi inevitável. Valeu a força da represália. Já Garotinho - que teve um desempenho superior ao imaginado - acenara com a solução da quadratura do círculo: apoiaria Serra, ''desde que na aliança não entre o PFL''. Miguel Arraes, socialista tradicional, e presidente efetivo do PSB, levou o partido para a decisão natural: a adesão a Lula.

São muitos milhões de votos possíveis, posto que a transferência dos eleitores não seja garantida como numa soma aritmética. A abstenção - relativamente pequena - correspondeu a 20 milhões de votantes e os votos em branco somados aos nulos beiraram 9 milhões. A profecia - dizia com a habitual sabedoria o Conselheiro Acácio - ''é um gênero caprichoso, sobretudo quando se trata de prever o futuro''... É fato que Karl Marx, nada obstante o seu talento, deu-se muito mal nas profecias. Não creio, porém, que seja muito difícil prever que Serra não derrotará Lula. A dificuldade será prever que tipo de incógnita será o governo nada construtivista do PT, de um socialismo gradualista, reformista, e não revolucionário. Entre suas hostes originais, resistentes não faltarão a lembrar-lhe a advertência de Marx : ''Toda revolução parcial é uma utopia''...

A questão está em definir que tipo de socialismo pode Lula ser tentado a erigir nesta Pindorama. Socialismo na sua concepção clássica e original do século XIX, com propriedade coletiva dos meios de produção e regime de partido único, esse modelo é inimaginável. Os partidos socialistas, ao fim do século XX - afirma Jean-François Revel - de socialistas só guardaram o nome. Há que levar em consideração a firmeza da liderança de Lula. Certamente não se submeterá aos intelectuais do seu entourage, ainda que os ouça como colaboradores. O seu perfil histórico, de 1989 - a primeira tentativa - até 1998, quando derrotado por Fernando Collor, é drasticamente diverso do Lula da campanha de 2002, que buscou aliança com o grande capital privado e aceitou praticamente todo tipo de adesão, de Sarney a Antônio Carlos Magalhães, passando por Orestes Quercia e Paulo Maluf. Tentar imaginar um governo petista socialista, por Lula definido com todas as letras em Passo Fundo, é ser irrealista. Haveria necessidade de forte amparo no Legislativo, para aprovar importantes emendas constitucionais, por três quintos da Câmara e do Senado, duas vezes em cada Casa, cada emenda. Ainda que se somem as cadeiras dos partidos de esquerda, radicais ou não, com parte do PSDB, não alcançaria êxito o governo se a proposta for polêmica, como precisa ser para fazer reforma profunda. Há petistas que defendem o uso, em tais casos, da mobilização popular para pressionar o Congresso, o que não é novidade. De fato, o então deputado Nelson Jobim, relator da Revisão Constitucional, em 1993, chegou a ser impedido de sair de seu gabinete para ir ao plenário da Câmara pela militância do PT, então muito mais fraco e que não contava com o apoio do presidente da República. Isso, o cientista Bolivar Lamounier identifica com a ideologia do plebiscitarismo, um apelo direto à massa popular, enorme risco que pode provocar perigosa crise institucional precedida da crise de governabilidade. Lideranças sindicais apelam normalmente para os piquetes agressivos, para forçar os patrões a ceder. Pode a receita ser uma tentação e poucos resistem às tentações como Cristo resistiu ao demônio. A maioria prefere seguir o conselho de ceder à tentação antes que a oportunidade se afaste.


Editorial

VOTO E SENSATEZ

Ao tomar as graves decisões de ontem, que se destinam a reconduzir a economia e o dólar aos trilhos da sensatez, pode-se dizer que o governo deu início ao processo de transição.

A população brasileira não gosta de qualquer tipo de arrocho monetário. Sobretudo não gosta de sua primeira conseqüência, que é a imediata subida do valor dos juros cobrados nos empréstimos pessoais e no financiamento do consumo.

O governo foi corajoso quando assumiu, entre as alternativas que se apresentavam para enfrentar a irracionalidade da alta do dólar, aquela opção que pode se tornar eleitoralmente desfavorável a seu candidato. Entre favorecê-lo e criar as condições futuras de governabilidade, o presidente Fernando Henrique optou pelo bom senso. Pensou no país.

Qualquer que seja o resultado das urnas no segundo turno, portanto, o próximo governo fica devendo ao atual este gesto de boa vontade que é voltado ao futuro.


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10/15/2002


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