Eleitorado pára de crescer em PE
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Eleitorado pára de crescer em PE
Recife e 46 municípios terão menos votos em 2002
O eleitorado encolheu em 47 municípios de Pernambuco nos últimos anos, inclusive no Recife. E o crescimento do universo de votantes nas 185 cidades do Estado vem sofrendo uma desaceleração. Um levantamento feito pelo DIARIO, baseado em dados do Departamento de Informática do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), comprova: o crescimento do número de eleitores entre 1998 e 2002 foi cinco vezes menor que o do quadriênio 1994/1998. A taxa de crescimento, que era de 0,29% por ano, caiu para 0,055%. Um percentual que não acompanha a taxa demográfica anual de Pernambuco - de 1,18% na década de 90 -, de acordo com o IBGE.
O fenômeno fica ainda mais evidente quando se compara os números do País. O eleitorado brasileiro aumentou em 0,25% ao ano no quadriênio 94/98 e vem se mantendo nesse patamar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informa que em quatro anos - entre 94 e 98 - o cadastro aumentou em média 0,25% e, entre 98 e 2000, inflou em 0,125%. A população brasileira aumentou 1,63% por ano, passando de 146.825.475 (em 91) para 169.544.443 (em 2000) - data do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O eleitorado pernambucano passou de 4.467.948 (em 94) para 5.119.100 (em 98). Em 2002, estima-se que o cadastro fechará no dia 8 de maio com um pouco mais que 5.224.006 (números atualizados em 9 de janeiro de 2002). Enquanto no primeiro quadriênio houve um crescimento de 14%, no último, o aumento foi de apenas 2% no número de cidadãos aptos a votar. O eleitorado do País - que subiu 11,94% após a primeira eleição presidencial, quando houve a liberação do voto para maiores de 16 anos (em 98) - cresceu somente 3,51% entre 1998 e 2000.
avaliação - Esses números, na avaliação do juiz corregedor do TRE-PE, Mauro Alencar, refletem o trabalho que tem sido feito pela Justiça para tornar mais real a contagem. O encolhimento do eleitorado em regiões de Pernambuco, na lógica de Alencar, pode ser justificado pelo recadastramento dos eleitores em 13 municípios do Estado (em 99), que cancelou milhares de títulosfantasmas. Junta-se a isso o cancelamento de títulos de eleitores que já não votavam há três eleições, operação realizada em 99 e 2001. Somente em 2001, esse corte chegou a 102 mil títulos. Uma terceira razão para esta redução, na opinião do corregedor, é o controle dos óbitos ocorridos, realizado em parceria com os cartórios e o sistema de informações do INSS, segundo ele.
Interesse no voto separa gerações
Eleitores divididos na hora de usar o título
Dois perfis de eleitores pernambucanos. Duas gerações distantes, duas experiências de participação no processo de escolha dos governantes brasileiros. Justificativas completamente distintas para o voto que será dado no pleito deste ano. Júlio Bezerra Cunha, 86 anos, faz questão de contribuir para a "democracia do País", como ele, com orgulho, define. Ravi Correia, 18 anos, foi entrevistado pelo DIARIO quando se inscrevia no 6º Cartório Eleitoral, no TRE. Resolveu procurar a Justiça para "completar" seus documentos, numa preparação para enfrentar o seu primeiro emprego.
Julio Bezerra poderia ter deixado de votar há 17 anos. Mesmo assim, manteve-se firme. Não possui diploma escolar de 1º grau - estudou, juntamente com seus irmãos, o ensino básico com um professor particular. Trabalhou toda a vida como marceneiro. Hoje não exerce sua profissão e pouco sai de casa. Mas está à vontade para fazer comentários sobre todos os presidenciáveis que estão no páreo para a eleição de 2002.
Ele sabe quem é o ministro tucano José Serra (Saúde); a governadora do Maranhão, a pefelista Roseana Sarney; o petista Luiz Inácio Lula da Silva; e o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), que entrou na corrida há poucos dias. Opina sobre todos e relembra as diferenças comparando-os com o seu ídolo, Getúlio Vargas (presidente da República por três períodos). "Os políticos de hoje quando estão numa situação difícil renunciam", criticou, elogiando as dificuldades enfrentadas por Vargas.
Já Ravi Correia nega a tendência seguida por sua geração. Contrariando as estatísticas, que mostram o interesse dos jovens com menos de 18 anos na participação eleitoral, ele não concorda com o voto obrigatório. Acha que é preciso se integrar na vida comunitária, mas não lembra dos nomes dos candidatos e nem faz parte do movimento do seu bairro - Nova Descoberta. Reconhece que foi incentivado por um vereador para se dirigir ao TRE.
Eles dão o tom dos candidatos
Economistas e políticos pernambucanos participam da elaboração dos programas de governo de Lula, Roseana, Serra, Ciro Gomes, Garotinho e Raul Jungmann, pré-candidatos a presidente
Economistas e políticos pernambucanos estão participando da formulação de programas de governo e da articulação de pelo menos seis pré-candidaturas à Presidência: Lula (PT), Roseana Sarney (PFL), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB), Ciro Gomes (PPS) e Raul Jungmann (PMDB). É a maior participação de quadros pernambucanos na sucessão presidencial, desde que as eleições diretas para presidente foram retomadas, em 1989.
A contribuição dirige-se basicamente para a parte dos programas que diz respeito ao Nordeste. A exceção é com Roseana, que tem uma espécie de "núcleo estratégico" encarregado por enquanto da "avaliação e acompanhamento" da candidatura, mas ainda não tratando de proposta de governo. Desse grupo, formado por oito pessoas, faz parte o ex-ministro (Fazenda e Meio Ambiente) Gustavo Krause.
Outros nomes envolvidos com os programas dos pré-candidatos são a economista e socióloga Tânia Bacelar (Lula), os políticos Roberto Freire (Ciro Gomes) e Miguel Arraes (Anthony Garotinho) e o diretor de Estudos Regionais e Urbanos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Gustavo Maia Gomes. No caso de Maia Gomes há uma peculiaridade: sua contribuição (para José Serra) até agora tem sido informal, a partir de textos que ele produz e discussões sobre temas específicos. A questão regional - especialidade de Maia Gomes - foi um dos pontos de destaque do discurso de Serra, durante o lançamento da pré-candidatura dele, anteontem, em Brasília - no qual, entre outras coisas, defendeu a redução das desigualdades regionais.
Recém-lançado na disputa, o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) foi quem montou a maior equipe "nordestina": são oito economistas, incumbidos de elaborar o que foi batizado de "Projeto para o Nordeste". Quatro deles são da UFPE, entre os quais Alexandre Rands. A proposta deles considera "fundamental" o fortalecimento e ampliação da ação da Adene (Agência de Desenvolvimento do Nordeste).
Já a campanha de Garotinho terá um interlocutor privilegiado na defesa do discurso pró-Nordeste: o ex-governador Miguel Arraes, autor de um texto que deve basear a ação do PSB para a região. "A situação do Nordeste é profundamente afetada pela política do poder central, conduzida pelos arautos da globalização, que dão as costas para as desigualdades brasileiras", defende Arraes. Ao fazerem isso, "praticam uma política de ajuste fiscal que preconiza o corte de gastos públicos para cumprir metas ditadas por organismos internacionais e praticamente eliminam políticas regionais de desenvolvimento". Arraes prega, ainda, "a reorganização da luta em defesa dos interesses do Nordeste", com "mobilização social".
GENÉRICOS - Todos os programas, por enquanto, refletem apenas - quando muito - "diretrizes gerais". A especificação das propostas só será feita quando as candidaturas e coligaçõe s estiverem definidas. Os que estão no comando da campanha de Roseana, por exemplo, ainda não começaram a tratar de programa. Mesmo depois de concluídos, não significa que serão cumpridos pelos vitoriosos - servem,porém, para que se tenha um documento dos compromissos do candidatos, com base no qual devem ser cobrados se forem eleitos.
PT tenta evitar novo desgaste
Presidente do partido revê crítica a João Paulo
O Diretório Municipal do PT decidiu colocar panos mornos nas negociações que a Secretaria de Saúde do Recife vem fazendo com o Instituto Curitibano de Informática (ICI) para informatizar o sistema de saúde da rede municipal do Recife. Um dia após questionar a proposta apresentada pelo ICI à PCR no valor de R$ 21 milhões, o presidente do diretório, Oscar Barreto, optou por recuar das críticas para evitar um novo desgaste do Governo petista.
Após uma extensa reunião, que durou mais de quatro horas, os integrantes da executiva municipal decidiram, na sexta-feira, apoiar oficialmente a posição tomada pela Prefeitura. Nesta semana será publicado um documento explicando os motivos que levaram o diretório a ficar ao lado da PCR. "Procuramos nos informar do debate como ele é e verificamos que estava colocado de maneira errada", afirmou.
De acordo com Barreto, quando o PT assumiu a PCR encontrou a Emprel e os serviços vinculados à informática sucateados. "A gestão atual tem como objetivo modernizar o setor, torná-lo eficiente para atender melhor à população", disse. Ele acrescentou, ainda, que a informatização do sistema de saúde do Recife foi decidido nas reuniões do Orçamento Participativo e escolhido com uma das principais prioridades de população.
Quanto ao alto custo do novo sistema, Barreto comentou na sexta que não entraria no mérito da questão. Mas no dia anterior alegava que o valor do sistema era muito alto e que deveria ser melhor discutido. "O formato e o valor ainda estão sendo decididos. Não vamos entrar no debate do custo. Se a Prefeitura achar que é o valor é de mercado, é uma decisão dela que não vamos interferir", comentou Barreto.
NEGOCIAÇÃO - Além do trabalho do ICI, a PCR está avaliando mais duas propostas. Outro grupo que está pleiteando a contratação é o consórcio do Softex, formado por oito empresas pernambucanas. A proposta deles é de R$ 22,9 milhões divididos em três anos. A Sisp Tecnology, de São Paulo, também se candidatou. A empresa paulista ficou de encaminhar à Secretaria de Saúdesua proposta técnica detalhada e os valores do contrato. Na última sexta-feira, representantes da Secretaria de Saúde se reuniram com o consórcio da Softex. As empresas explicaram a proposta encaminhada à PCR e a Secretaria informou suas necessidades.
A reunião, no entanto, não foi conclusiva. Eles se reunirão na próxima sexta-feira para aprofundar o assunto. Durante a semana haverá encontros para que a PCR possa esclarecer melhor suas exigências. "Alguns pontos não ficaram bem explicados, como o prazo de implantação e o detalhamento da proposta financeira. Eles não têm o sistema e sim uma proposta de desenvolvimento do sistema. As empresas têm alguns aplicativos, mas não significa dispor do sistema", afirmou o secretário-adjunto de Saúde do Recife, Antônio Mendes.
Um presidenciável muito disciplinado
Além de amigo pessoal de FHC, José Serra tem como cabo eleitoral a primeira dama Ruth Cardoso
BRASÍLIA - Pergunte-se a José Serra o que ele acha de José Serra e este paulista de 59 anos até 19 de março, casado, pai de dois filhos, ministro da Saúde e pré-candidato do PSDB à Presidência responderá: "As pessoas pensam que eu sou muito inteligente. Mas eu sou só razoavelmente inteligente. O que eu sou mesmo é muito disciplinado e muito aplicado."
Seus adversários, e até alguns amigos, diriam também que é egocentrado, obsessivo, antipático, com mania de perseguição e um gosto demasiado pelo poder. Serra, de fato, valoriza o exercício do poder, o que explica a fama de que "se mete em tudo".
Ministro da Saúde, foi Serra quem incendiou a reação do Governo à crise energética. Temia que o apagão fosse o passaporte para um final melancólico do governo Fernando Henrique Cardoso. E, claro, influísse negativamente na sucessão. Chegou a namorar a idéia de ser o ministro do apagão, pois, vencendo a crise, chegaria à eleição de 2002 em condição privilegiada. Mas o risco era grande. E FHC tinha outros planos.
Onze anos mais velho e muito mais bem-humorado, FHC adora fazer piada sobre Serra. Sempre que não quer responder a uma questão, escapole: "Isso eu não falo. Senão o Serra me mata". Certa ocasião, numa conversa com jornalistas no Alvorada, o presidente pediu à assessoria para não ser interrompido. Mas um ajudante-de-ordens pediu desculpas e avisou que Serra insistia para falar com FHC ao telefone. O presidente fingiu que atendia e passou o telefone para um dos jornalistas. A primeira intervenção do ministro deliciaria os que dizem que ele é egocentrado: "O que vocês estão falando de mim?"
TROCO - Sempre que pode, Serra dá o troco. Em um fim de semana no Alvorada, FHC perguntou a ele o que estava lendo. O ministro disse que nada de importante e depois explicou a um amigo: ele sabia que FHC queria elogios a uma entrevista sua a uma revista. E ele não daria essa colher-de-chá ao presidente. Algum tempo antes, fora objeto de extensa reportagem da mesma revista. FHC não fizera um mísero comentário.
FHC e Serra seespicaçam, mas sempre se acertam no final, e a história de ambos é recheada de alianças contra adversários e, muito especialmente, aliados. O ex-governador Mário Covas sabia melhor do que ninguém. A campanha de 1989 lhe foi ingrata, e FHC e Serra cruzaram os braços.
Para FHC, Serra errou ao desdenhar o Plano Real em 1994 e passou dos limites em 1998 ao emitir uma nota técnica culpando a área econômica por cortes dos gastos na área social. Para Serra, o presidente foi quem o apunhalou pelas costas ao declarar que fora contra o Plano Real.
O maior cabo eleitoral de Serra no Governo provavelmente é Ruth Cardoso. Aos amigos, Ruth explica sua predileção: simplesmente, considera Serra bem preparado para a Presidência. Serra costuma dizer que não sabe onde suas relações com Tasso Jereissati se desencaixaram e que não contribuiu em nada paraessa situação.
Após Covas declarar apoio à candidatura de Tasso, Serra e Tasso se encontraram em São Luís, num evento patrocinado pela governadora Roseana Sarney (PFL-MA): "Parabéns", disse Serra, com um sorriso irônico.Tasso aparentou surpresa: "Por quê?" Serra fingiu naturalidade: "O seu aniversário não foi há alguns dias?" E Tasso: "Ah, bom! Esperei seu telefonema".
Consistência intelectual é algo que até os mais ferrenhos inimigos reconhecem em Serra. Mas o que mais aborrece o ministro da Saúde é a avaliação de que "seria um bom presidente, mas é um mau candidato".
Serra parece carregar imensa dificuldade para distinguir o que é ser simpático do que é ser antipático. Certa vez, quando era deputado (1987-1995), ligou para um amigo na praia, preocupado com a própria recondução para líder da bancada do PSDB.
O amigo fez sondagens na bancada federal e detectou sinal amarelo. Deputados reclamaram que Serra passava por eles sem olhar. Ao saber, Serra reagiu: "E qual o problema?" Esperava ser votado por suas qualidades, não pela simpatia. Na Câmara, Serra fez uma bancada de amigos, que era pluripartidária, e que mantém ainda hoje: Miro Teixeira (PDT), Nelson Jobim (PMDB), José Genoino (PT) e Sigmaringa Seixas, ex-tucano hoje no PT. Também dela fazia parte Luís Eduardo (PFL), que morreu em 1998.
A maioria dos amigos de Serra em Brasília tem uma história de esquerda. Ele deu a petistas postos-chave na Saúde. Mas o tucano também tem relações à direta: Delfim Netto (PPB-SP), com q uem conversa com frequência, e Ronaldo Caiado (PFL-GO), o criador da UDR (União Democrática Ruralista).
Embora revele descrença, Serra, do signo de Peixes, se impressiona com previsões. O mapa, feito por Getulio Bittencourt, astrólogo dos ex-presidentes Tancredo Neves e José Sarney, diz que o apoio da população está escondido. Mas o mapa que vale é o da data da convenção de junho.
Programa vai beneficiar negros e índios
O ministro da Educação, Paulo Renato, viaja aos EUA nesta segunda-feira para uma audiência no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. Ele vai apresentar um programa de criação de cursos pré-vestibulares e de reforço no ensino médio que dá prioridade a estudantes negros e índios. A proposta visa adquirir empréstimo de US$ 5 milhões junto ao BID, para implementar o programa com mais US$ 4 milhões do MEC. O ministro espera iniciar a experiência já em março, para preparar os alunos com vistas ao Vestibular 2003.
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À espera do Carnaval
Clóvis Cavalcanti
A expectativa de mais um Carnaval, especialmente o de Olinda em 2002, contém elementos de alegria e também de apreensão. A alegria está ligada à oportunidade que se antecipa de reviverem-se os atributos de beleza, de irreverência, de animação, de poesia que a festa proporciona e que lhe dão sua identidade, objeto de admiração em toda parte. A apreensão decorre de incertezas quanto à forma que os festejos assumirão efetivamente, tendo em conta as deturpações a que têm sido submetidos cada ano por força de valores que se procura impor àquilo que sempre foi nosso Carnaval. Não se está imaginando aqui que o tríduo momesco seja uma coisa estática, congelada no tempo. Todavia, há de se convir que, em qualquer lugar do Mundo, as tradições culturais se mantêm como forma de conferir identidade à própria sociedade. É assim que o esporte do sumô se pratica no Japão, que se realiza a corrida de touros em Pamplona, na Espanha, que a festa do Divino em Pirinópolis, Goiás, ou o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, se repetem a cada ano. Em Pernambuco, onde pode-se admirar, por exemplo, durante o Carnaval, a originalidade dos papangus de Bezerros, não faz sentido aceitar a completa descaracterização da festa ímpar que Olinda sempre teve. E que, muito menos, ela se faça acompanhar da desarrumação que transforma logradouros, como a rua do Bonfim, tão bem cuidada por seus moradores, em um cenário de inferno miserável do Quarto Mundo.
Tenho escrito neste espaço do DIARIO sobre o assunto. Em 2001, recebi uma quantidade considerável de cartas, telefonemas, mensagens de correio eletrônico etc. acerca dos meus artigos, em que quase ninguém mostrava discordância de minha opinião. Imagino que a maioria dos leitores pense como eu. Mesmo na rua, pessoas me abordam para falar do assunto e me dar apoio. Infelizmente, parece que a Prefeitura olindense não mostra o mesmo interesse, pois sequer me convidou para o lançamento do projeto do Carnaval deste ano, que se realizou bem defronte de minha casa, no Hotel 7 Colinas. E olhem que não sou um folião teórico, desses que ficam dando palpite de gabinete. Mergulho na folia com absoluta convicção, integro-me aos blocos, a começar, no Recife, com o Galo da Madrugada (onde sempre encontro meu amigo Gustavo Krause), o que me dá ocasião de sentir na pele o que é a vibração autêntica do frevo.
Comungando um pouco com meu perfil, os grandes foliões que são Hugo Martins, Luiz Gonzaga de Castro e Givaldo Silva, integrantes do Centro de Música Carnavalesca de Pernambuco, enviaram-se, por e-mail, em fevereiro de 2001, substancioso material relativo ao Carnaval de Olinda. Trata-se de uma análise que mostra como uma imposição cultural, sobretudo, movida ao que chamam de “fome de lucro desmesurada”, nos obriga, “principalmente aos jovens, a comprar, prestigiar e se envolver com costumes e músicas alheias à nossa cultura”. Nos últimos anos, além da descaracterização - não substituída por alguma coisa de significado parecido; pelo contrário, sendo só destruição de patrimônio herdado -, a realidade tem mostrado rumos assustadores para uma festa que sempre foi somente brincadeira. Como dizem Hugo Martins e seus companheiros, “hoje, constata-se uma tendência às depravação nas ruas de Olinda durante o Carnaval, com o beijo e o abraço forçados, com a bolinagem ou o passar de mãos em coxas e nádegas das meninas; com a colocação de graxas, tintas, frutas, ovo, sabão, lama etc. nos rostos das pessoas, de forma grosseira e violenta; com o arremesso de água suja, bebidas alcoólicas e outros líquidos jogados nos olhos por pistolas cada vez mais potentes” - e por aí vai. Trata-se de uma situação que tem que ser coibida, pois os ofendidos, diante dessa brutalidade, estão chegando ao limite de seu pacifismo. Ora, passar a mão em garotas, beijar na marra e coisas desse naipe constituem ações que se assemelham ao crime hediondo do estupro. Vai-se admitir que os autores de tais aberrações permaneçam impunes? Quem quiser beijar, bolinar, acariciar, que tente a via da sedução autêntica. O Carnaval é uma boa ocasião para isso (digo-o com alguma experiência). Por outro lado, que instinto criminoso é esse que induz alguém a atirar água, de forma covarde e intempestiva, justamente nos olhos de quem só quer se divertir?
A Prefeitura de Olinda marcou um tento em 2001 quando coibiu o som em alturas absurdas, de casas (geralmente alugadas só para o Carnaval) que punham seus alto-falantes voltados para a rua. Fê-lo com base em lei e aplicando multas exemplares. O mesmo deve ser repetido com todo rigor neste ano. De igual modo, as autoridades terão que reprimir agressões aos foliões verdadeiros, que não se munem de pistolas idiotas nem ficam agredindo passantes indefesos ou forçando as mocinhas a se sujeitarem a instintos de estupradores que se julgam no direito de beijar, passar a mão, agarrar à força quem lhes dá na telha. Cumpre às autoridades assegurar que Olinda (e o Recife e Pernambuco) tenham um Carnaval de diversão, de fantasias, de namoros espontâneos, de muito frevo e animação. E que tampouco degrade o patrimônio dos seus habitantes.
Colunistas
DIÁRIO POLÍTICO – Divane Carvalho
Briga de foice
A entrada de José Serra (PSDB-SP) na corrida sucessória não significa, ainda, a largada rumo à eleição presidencial. Mas aquece bastante as máquinas dos partidos que estão se preparando para a disputa. Apesar de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandar a preferência do eleitorado, seguido de Roseana Sarney (PFL) e de Anthony Garotinho (PSB), para citar só os três primeiros colocados, Serra talvez não seja o último nome do quadro de candidatos que só ficará pronto quando o PMDB decidir seu destino. Nas prévias do dia 17 de março, que vão escolher o candidato do partido entre Itamar Franco, governador de Minas Gerais, Pedro Simon, senador do Rio Grande do Sul e Raul Jungmann, o pernambucano ministro do Desenvolvimento Agrário. Até lá, o Brasil assistirá a uma briga de foice entre tucanos e pefelistas para crescer nas pesquisas que, mais uma vez, terão um peso enorme na composição da chapa governista. Os petistas decidiram que, nessa fase, Lula deve assistir de longe ao duelo entre PSDB e PFL sem interferir na briga alheia para não complicar sua candidatura, porque como tem 30% das intenções de voto não deve atrair confusões para seu palanque. Postura que deve ser adotada também por Garotinho, que certamente observará, à distância, as desavenças aliancistas. E enquanto o PMDB não escolher seu caminho, todos ficarão atentos a Itamar Franco. Pois ele governa o segundo maior colégio eleitoral do País e isso vale ouro para todos os presidenciáveis que sonham com o Palácio do Planalto.
As férias de João Paulo terminaram. O prefeito do R ecife reassume a PCR segunda-feira e seu primeiro compromisso será às 10h. Quando faz reunião com a coordenação do Conselho do Orçamento Participativo, no seu gabinete
Ruim
O lema de José Serra (PSDB) é esquisito: Nada contra a estabilidade tudo contra a desigualdade. Aqui pra nós, é tão ruim quanto o slogan de Eduardo Suplicy (PT-SP) E tem melhor? ou aquele adesivo que diz Jarbas é o avanço. Os eleitores, coitados, não entendem nada.
Solenidade
Mendonça Filho faz solenidade no Palácio do Campo das Princesas, segunda-feira, às 12h, para assinatura de contratos de concessão de linhas de transmissão. Com o ministro das Minas e Energia, José Jorge, e o presidente da Petrobras, Francisco Gros.
Exemplo
Nildo Nery dá um bom exemplo aos que curtem a burocracia do Judiciário. Vai passar a presidência do TJP para seu sucessor, Napoleão Tavares, sem trabalho acumulado. Ele informa que no biênio 2000/20001 os 2.123 processos que tramitaram pela presidência foram julgados ou despachados.
Processo 1
Os bombeiros do Palácio do Campo das Princesas não conseguiram apagar o incêndio e Gilson Machado está processando Jarbas Vasconcelos por injúria, calunia e difamação.
Processo 2
Porque ao responder as críticas que o ex-deputado do PFL fez a área de segurança do Estado, o governador disse que ele não tinha credibilidade porque era um usineiro falido.
Reunião
O PDT reúne a executiva estadual, terça-feira, às 16h, para se posicionar sobre a candidatura de Leonel Brizola à Presidência. Às 19h, os pedetistas comemoram o aniversário do presidente do partido, que completa 80 anos.
Convênio
O Governo do Estado estuda a possibilidade de fazer um convênio de cooperação técnica com a Imprensa Oficial portuguesa. Marcelo Maciel, presidente da Cepe, está em Lisboa acertando os detalhes desse acordo com o administrador geral da instituição, João Esteves Pinto.
Editorial
ESTRADAS PEDEM SOCORRO
As fortes chuvas de verão agravaram o estado já precário de boa parte das estradas brasileiras. Segundo levantamento do Ministério dos Transportes, rodovias de nove estados encontram-se em situação crítica. Há trechos destruídos, outros interditados, queda de barreiras, buracos sem fim. Resultado: atrasos, acidentes, congestionamentos, danos nos veículos, desvios de muitos quilômetros, perda de cargas perecíveis. Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) realizada em outubro fez uma radiografia das estradas nacionais. O diagnóstico traz apreensão. Menos de um terço da malha rodoviária foi considerada boa. Nada menos que 68,8% do total receberam conceito péssimo, ruim ou deficiente.
O quadro calamitoso resulta da soma de vários fatores. Um deles está na origem. Muitos projetos têm especificação inadequada. Em região com muita chuva, por exemplo, a via exige proteção dos cortes e drenagem adequada. Governos fecham os olhos às obras complementares. E, não raras vezes, à qualidade do material utilizado.
Outro fator é a utilização das estradas. Caminhões trafegam com excesso de carga. Faltam balanças. Falta fiscalização. São comuns as notas frias, que especificam peso inferior ao efetivamente transportado. Além disso, é freqüente a corrupção de fiscais.
A combinação da má qualidade com a má utilização ganha outro aliado. É a má manutenção. Para prevenir estragos, há necessidade de efetivo investimento em conservação. Não é, porém, o que se observa. De acordo com dados da CNT, o governo federal aplicou no setor R$ 1,5 bilhão nos últimos cinco anos. Seriam necessários, segundo o órgão, R$ 1 bilhão por ano.
É paradoxal. O Brasil se movimenta sobre rodas. O transporte rodoviário responde pelo vai-e-vem de 92% dos passageiros e 62% das cargas de mercadorias. Nada mais lógico que haja maior cuidado com a malha rodoviária. Impõe-se, portanto, a observação rigorosa dos preceitos de projeto e a
conservação permanente.
São elevados os prejuízos econômicos decorrentes da situação das estradas. As perdas oneram o preço das mercadorias e reduzem a competitividade das exportações, constituindo parcela significativa do chamado custo Brasil. O país, que luta por abrir mercados, tem de investir na recuperação da malha rodoviária.
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01/20/2002
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