ELLEN: INDICAÇÃO DE MULHER NÃO SIGNIFICARÁ MUDANÇA SUBSTANCIAL NO SUPREMO



A primeira mulher indicada para o Supremo Tribunal Federal, a juíza Ellen Gracie Northfleet, afirmou que sua visão sobre o Judiciário não é muito diferente dos demais magistrados do país. Por esta razão, observou, sua indicação, apesar de revestir-se do caráter da novidade, não representará grande modificação naquela Corte.

- A única diferença talvez consista no olhar feminino sobre questões sociais e humanas - afirmou.

A juíza se mostrou no entanto, em resposta ao senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), favorável a mecanismos que facilitem o acesso das mulheres às funções importantes na vida política e social do país. Para ela, o regime de quotas - que reserva percentual definido para pessoas de determinado sexo ou etnia - como o adotado pela lei eleitoral, por exemplo, ajuda as mulheres a vencer algumas dificuldades iniciais decorrentes de preconceito.

Segundo Ellen, o mais importante, no entanto, é que a escolha de seu nome esteja acontecendo no momento em que se analisa uma reforma para o Poder Judiciário. Sobre isso, manifestou sua posição favorável a algumas propostas da reforma como a adoção do efeito vinculante - que consiste na obrigatoriedade do juiz acatar determinadas decisões já julgadas por outros magistrados - como forma de desafogar o Supremo.

- Considero o grande número de processos que chegam ao Supremo, que é a instância máxima da Justiça, como uma deformação do sistema. Outra boa providência seria a revisão da questão da relevância, ou seja, ver o que realmente necessita ser analisado pela Corte que cuida dos aspectos da constitucionalidade.

Outros pontos

Mercosul - Ellen, que é estudiosa do assunto, previu que em um prazo de cinco a dez anos, os tribunais do Mercosul já estarão completamente formalizados, pois essa é uma necessidade consensual entre os chefes dos poderes judiciários dos países signatários do bloco.

Lei da Mordaça - Respondendo a questão do senador Jefferson Péres (PDT-AM), a juíza disse que considera excessiva a exposição de alguns membros do Judiciário quando tratam de assuntos não relacionados diretamente com a prestação dos serviços jurisdiscionais. Advertiu, no entanto, para a necessidade de o Judiciário ser o mais transparente possível. "O juiz precisa ser isento pois nós não somos eleitos. A nossa legitimidade reside na isenção com que julgamos as causas", opinou.

Legislação brasileira - "É avançada, principalmente sobre os aspectos dos direitos sociais, das minorias, mulheres e crianças. O que precisa ser modificado é a cultura".

Medida Provisória - Ellen disse que o uso deste mecanismo é comum mesmo nos países em que o poder do parlamento é quase total. Em sua opinião, a medida provisória é legal já que o Poder Executivo não pode esperar, muitas vezes, pelos trâmites do Poder Legislativo.

Impunidade - "O povo tem fome de Justiça", declarou a juíza ao observar que muitas vezes o juiz recebe um processo já bastante atrasado. Ela acredita que existam medidas capazes de inibir a burocracia e a demora da tramitação dos processos.

21/11/2000

Agência Senado


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