Em defesa do mandato, Demóstenes diz que outros senadores podem estar na mesma situação que ele no futuro



O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou a ocupar a tribuna nesta terça-feira para se defender das acusações que podem levá-lo a perder o mandato por quebra de decoro parlamentar. No pronunciamento, o senador voltou a questionar a legalidade das provas que mostram sua ligação com Carlinhos Cachoeira, preso sob a acusação de comandar uma organização criminosa, e apelou para a solidariedade dos colegas, que poderiam, no futuro, estar em situação semelhante.

- O Senado certamente não se curvará a essa tática de campanha, que sazonalmente instala um parlamentar como alvo e só sossega quando aparece outro na mira - disse.

Demóstenes disse confiar na capacidade de discernimento dos colegas e fez um apelo para que não se rendam a “pressões fabricadas”.

- Foi dito à exaustão que fica mal para o Senado me absolver. A leitura atenta dos autos indica o contrário - afirmou o parlamentar, que julga “ficar mal” para a Casa sacrificar um mandato em meio a um clima “tramado para ejetar um senador”.

São os demais senadores os responsáveis pela decisão sobre a cassação do mandato de Demóstenes. A votação, esperada para o dia 11 de julho, será secreta. São necessários 41 votos para que o mandato seja cassado. Antes, na quarta-feira (4), a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania votará o relatório de Pedro Taques (PDT-MT) pela admissibilidade do parecer do Conselho de Ética, que recomendou por unanimidade a cassação do mandato.

- Não concederei aparte porque me faltam poucas horas para chegar ao dia final - afirmou o senador, que pretende usar a tribuna todos os dias até a data da votação em Plenário.

Método

Demóstenes afirmou que está sendo usado como bode expiatório, o que “é indigno” do Senado, afirmou. O senador disse que, para investigá-lo, foi utilizada tecnologia de ponta, mas, para puni-lo, estão sendo empregados “métodos medievais”. O senador também ironizou o fato de a Polícia Federal destinar quatro delegados e dez agentes para fazer as interceptações telefônicas e alegar falta de pessoal para a degravação completa das ligações.

- Não somente em relação a mim, mas quantas pessoas no Brasil vão pagar com a inocência pela falta de estrutura dos órgãos acusadores? - questionou.

O parlamentar voltou a questionar a legalidade e a qualidade das provas, argumento já utilizado pela defesa durante a tramitação do processo no Conselho de Ética. Demóstenes também citou conclusões do perito contratado por ele para analisar trechos das gravações, que apontam para “robustos indícios de edições nas informações acostadas nos autos”. Segundo o senador, os autos foram preparados para gerar manchetes

- O artifício da máquina de moer reputação foi bem-sucedido, pois o título da transcrição virava título do jornal em letras garrafais. O que o policial decidiu que era certo virava certeza indiscutível - disse.

Outro ponto questionado pelo senador é a referência feita a ele pelos policiais nos autos. Ele afirmou que, em conversas de terceiros, sempre que alguém se referisse a outra pessoa como “gordo”, “gordinho”, “doutor” e “professor”, os responsáveis pela transcrição escreviam seu nome em maiúsculas e entre parênteses, supondo que a referência fosse a ele.

- Como eu nunca fui doutor, deixei de ser professor em 1987 e de ser gordo em janeiro de 2009, a única explicação é que não ligaram o apelido à pessoa - disse.

Demóstenes afirmou, ainda, que os que querem a cassação se recusam a tomar conhecimento dos seus argumentos e que a ampla defesa e o contraditório acabaram superados pelas manchetes.



03/07/2012

Agência Senado


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