Em SP, campanha do PSDB será investigada









Em SP, campanha do PSDB será investigada
O Ministério Público do Estado de São Paulo abriu ontem duas ações, uma na esfera cível e outra na eleitoral, para investigar o uso de funcionários terceirizados do Estado em campanhas do PSDB.

Na última sexta, a reportagem, sem se identificar, acompanhou cerca de 60 monitores do projeto Parceiros do Futuro que fizeram panfletagem pela região central de São Paulo a favor do presidenciável José Serra (PSDB) e do governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB).

Os candidatos tucanos, por meio de suas assessorias, negaram envolvimento no ato.

Os funcionários afirmaram estarem sendo pressionados a aderir às campanhas, sob o risco de perderem o trabalho de monitoria. O projeto recebe do Estado cerca de R$ 20 milhões por ano.

A Procuradoria Regional Eleitoral iniciou ontem investigação para apurar se Serra e se Alckmin foram beneficiados irregularmente. A apuração não será contra os dois tucanos, mas contra os possíveis servidores responsáveis pelo projeto e pelo prática irregular.

Os monitores do Parceiros do Futuro não são contratados de forma direta pelo Estado e não fizeram a panfletagem no expediente. Mesmo assim, nos dias reservados para a campanha (segunda e sexta-feira), eles deveriam se reunir para discutir o projeto. Pesou ainda o fato de muitos terem revelado o caráter obrigatório da adesão.

A lei 9.504/97 proíbe práticas que afetem a igualdade de oportunidades entre os candidatos. A Promotoria de Cidadania também abriu um inquérito cível para apurar o caso.


TSE tira tempo de Serra e veta abertura do programa de Ciro
Tucano deve perder 2min do horário eleitoral; candidato do PPS terá de mudar início de propaganda

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) condenou o presidenciável do PSDB, José Serra, à perda em dobro do tempo usado no horário eleitoral gratuito para veicular a declaração em que Ciro chama de "burro" um ouvinte de uma emissora de rádio na Bahia.

A decisão foi do ministro auxiliar Caputo Bastos atendendo a pedido da coligação de Ciro Gomes (PPS). O TSE negou, porém, ao candidato do PPS o direito de resposta na propaganda eleitoral do tucano. O plenário do TSE ainda examinará a questão.

Segundo a Folha apurou, Serra deve perder 2 minutos do horário eleitoral e cerca de 30 inserções.
Em outra decisão do tribunal, o ministro auxiliar José Gerardo Grossi proibiu Ciro, por meio de liminar, de abrir o seu programa com a frase: "Os golpes baixos acabam aqui". O recurso foi utilizado no último sábado, repetido no domingo. O bloco de Ciro veio logo depois do de Serra.

Em uma terceira decisão, Grossi negou liminar que sem especificar conteúdo- impediria Serra de usar declarações de Ciro, porque entendeu que seria censura prévia. O pedido foi feito com base no trecho da propaganda de Serra que confronta declaração de Ciro em que o candidato do PPS diz que sempre estudou em escola pública.

Recurso de Serra
No caso do episódio da resposta de Ciro ao ouvinte da rádio da Bahia, o advogado de Serra, Eduardo Alckmin, disse que recorreria ainda ontem da decisão ao plenário do TSE, que se reunirá hoje e quinta-feira.
Desde o dia 22, já estava em vigor uma liminar, de Caputo Bastos, proibindo a veiculação da resposta de Ciro a ouvinte da rádio baiana na propaganda de Serra, a pedido da Coligação Frente Trabalhista. Ontem, Bastos julgou o mérito da causa, cassando em dobro o tempo utilizado por Serra para veicular a frase.

O ministro entendeu que a campanha tucana não poderia ter editado a entrevista à rádio e que, ao veicular apenas a resposta, distorceu o contexto, prejudicando o adversário. A perda do tempo atinge também as inserções.

Ciro também havia pedido direito de resposta no programa de Serra, mas o ministro considerou que o caso não se tratava de ofensa à honra. O candidato não deverá recorrer da decisão.

Ataques a Ciro
Serra vai manter os ataques a Ciro no horário eleitoral da coligação Grande Aliança (PSDB-PMDB). Serra justifica a linha dos programas argumentando que é preciso discutir a coerência dos candidatos. "Cada um pode alegar o que quiser. Estou discutindo teses, idéias, coerências. Em uma campanha eleitoral é preciso que haja correspondência entre o que se diz, o que se faz e o que se fez."

O que não vai haver no programa da Grande Aliança "é ataque pessoal", assegurou Serra. "Nosso programa vai continuar a transmitir essencialmente o que pensamos e mostrando o que e como fazer", completou, após reunião à tarde em seu comitê.


Artistas "ensinam" Serra a seduzir eleitores
Em coquetel organizado por Raul Cortez, escritora diz que candidato tucano "fica de salto alto"

- Sabe o que está faltando? Aquilo que, em teatro, costumamos chamar de "fé cênica". Crença, compreende? Você precisa mostrar, no vídeo, que acredita em si próprio.

- Mas eu acredito. Muito.

- Então mostre, pô!

O enfático diálogo se deu anteontem à noite, em São Paulo. De um lado, fazendo as vezes de conselheiro, o ator Renato Borghi, 43 anos de carreira e inúmeros prêmios na bagagem. Do lado oposto, ouvindo atentamente as dicas, o presidenciável José Serra, do PSDB.

Encontravam-se os dois em uma rodinha informal na casa do também ator Raul Cortez, durante um coquetel de apoio à candidatura tucana. Como Borghi, outros famosos presentes declaravam-se insatisfeitos com o desempenho público de Serra e procuravam ajudá-lo.

"Para se comunicar bem", explicava-lhe a atriz Cristina Mutarelli, "é necessário estar no mesmo nível do interlocutor ou abaixo. Nunca acima. E você, frequentemente, se coloca acima. Emprega um tom didático demais, formal em excesso. Pode atrapalhar."

Silencioso, Serra parecia se identificar com as observações. No fim da rápida conversa, pegou o cartão de Cristina e prometeu que iria procurá-la. Desejava aprofundar "aqueles conceitos".

"Pede voto, meu Deus! Assim, ó: "Eu quero o teu voto! Eu preciso do teu voto!'", reclamava a escritora Maria Adelaide Amaral, enquanto o candidato discursava num palanque improvisado. "Ele enrola, enrola e não pede o voto! Fica de salto alto, pisando em ovos, cerimonioso. Alguém tem de lhe avisar: "Teu approach [abordagem] está errado, cara!"."

"Eu vou", prontificou-se a atriz Ruth Escobar, que dividia a mesa com Maria Adelaide e a dramaturga Leilah Assumpção. "Vai o quê?" "Avisá-lo." E levantou-se.

Maria Adelaide prosseguiu: "Gosto bastante do Serra. Conheço-o desde garoto. Tomávamos ônibus juntos. Cansei de admirá-lo, jovenzinho, à frente do movimento estudantil, incendiando a platéia. Era um tribuno maravilhoso. Agora... Queria tanto reencontrar aquele orador... Cadê? Onde se meteu o rapaz arrebatado, apaixonado? Eu sofro muito. Juro".

Mais contida, Leilah dizia o mesmo com outras palavras: "Serra guarda dentro dele um personagem absolutamente encantador. O problema é que não consegue exibi-lo".

"Voltei", anunciou Ruth Escobar, aproximando-se novamente da mesa. "Falou com o homem?" "Falei. Cheguei perto e soprei: "Manda ver, Serra, manda ver!" Não sei se entendeu..."

Àquela altura, no "palanque", o candidato finalmente solicitava uma "ventania" de votos. Ruth ajeitou a cadeira e sentou-se. "Ele tem de botar a cara de vencedor. Perder a timidez, a vergonha dos adolescentes. O zé povinho não se convenceu de que o Serra é o melhor. A elite, sim. Mas o zé povinho... Ainda vota no mais bonito. Não à toa, o FHC, um charme, reelegeu-se."

Mal encerrou as ponderações, virou-se para Leilah, brincando: "Querida, onde se esconderam os lacaios desta casa?". E Leilah: "Estão sendo açoitados. O açoite das nove".

- Não consigo mesmo. Odeio estúdio. Ficar trancado ali, so zinho, diante da câmera. Um negócio tão artificial... argumentou o presidenciável quando Borghi lhe sugeriu "fé cênica".

- Use a imaginação -nsistiu o ator, que pela primeira vez não votará em Lula para o Planalto. Transforme a câmera numa multidão e se solte. Eu, por exemplo, antes de subir ao palco, repito, convicto: "Sou lindo, sou alto, sou forte!". Funciona.


Ibope mostra empate técnico no 2º turno
Pepebista mantém a liderança

O candidato do PPB, Paulo Maluf, continua à frente na disputa pelo governo do Estado de São Paulo, segundo números da pesquisa Ibope divulgados ontem pelo "SPTV" da Rede Globo. Num eventual segundo turno entre ambos, haveria um empate técnico.

O ex-prefeito manteve o índice da pesquisa anterior -35% das intenções de voto- contra 24% do governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin, e 11% do petista José Genoino.

O tucano perdeu um ponto percentual, e Genoino subiu dois desde a pesquisa anterior -12 de agosto. As intenções de voto em branco ou nulo somaram 7%. Não souberam ou não quiseram opinar 16% dos entrevistados.

Em simulação de 2º turno entre Maluf e Alckmin, haveria empate técnico, com 45% para o pepebista contra 42% do tucano.

O Ibope ouviu 1.200 eleitores, em 66 cidades do Estado, entre os dias 22 e 25 de agosto. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais para cima ou para baixo.


O petista por ideologia
O advogado Anderson de Aguiar Amaral, 27, sempre votou no PT e este ano vai novamente depositar seu voto no partido: Lula para presidente, José Genoino para governador e Aloizio Mercadante para senador. Para deputados estadual e federal, vai votar na legenda. "Sempre votei no PT. É uma questão de ideologia. O PT tem um programa de partido com o qual me identifico", afirma.


Propaganda de Lula tem maior índice de aprovação
Pesquisa mede qual programa chegou mais perto do que é ideal para os eleitores

Na primeira semana de exibição do horário eleitoral gratuito, o programa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve o maior Índice de Aprovação da Propaganda (IAP), de acordo com cálculo elaborado pelo Datafolha a partir de rastreamento por telefone.

O IAP mede qual propaganda chegou mais perto do que os eleitores consideram como ideal, do ponto de vista técnico, sendo 100% o nível máximo.

Para calculá-lo, o Datafolha fez pesquisas nos dias seguintes aos três programas já exibidos, cada uma com pouco mais de 600 entrevistados. Depois, consolidou a primeira entrevista com a segunda e a segunda com a terceira.

O IAP de Lula passou de 26,8% para 28,8%; o de Ciro Gomes (PPS), de 22,7% para 23,9%; o de José Serra (PSDB), de 21% para 21,2%; e o de Anthony Garotinho (PSB), de 10,2% para 10,5%.

Como o instituto juntou amostras de duas pesquisas (totalizando pouco mais de 1.200 entrevistas), a margem de erro é de três pontos percentuais. Com 600 entrevistas, seria de quatro pontos.

Para chegar ao IAP, o Datafolha listou seis itens se a propaganda é clara ou bem-produzida, por exemplo- e perguntou aos entrevistados se eles viam essas qualidades no programa de cada um dos presidenciáveis.
O IAP é uma média dos percentuais obtidos pelo programa do candidato em cada item, de acordo com o grau de importância que o eleitor dá para cada item.

O item mais importante é se a propaganda é verdadeira obteve peso de 4,54 numa escala de 0 a 5. Nele quesito, a propaganda de Lula foi considerada verdadeira por 30% dos entrevistados, a de Ciro, por 23%, a de Serra, por 19%, e a de Garotinho, por 10%.

Segundo o Datafolha, a taxa de IAP de cada candidato tende a ser parecida com a intenção de voto nele -é natural que o eleitor veja qualidades no programa do candidato em que pretende votar.

Por isso, o IAP de Serra (21,2%) chama a atenção por ser superior à sua intenção de voto, que variou de 17% a 18% no rastreamento.

Já Lula e Ciro obtiveram IAPs inferiores a seus últimos percentuais de intenção de voto (de 29% e 26%, respectivamente).

Restrição
O rastreamento é feito só entre eleitores que têm telefone fixo em casa são cerca de 54% no eleitorado brasileiro. Por isso, não pode ser comparado com pesquisas que têm como universo o total do eleitorado.


Cordiais entre si, candidatos criticam PSDB
Tuma (PFL), Quércia (PMDB) e Mercadante (PT) abdicam de críticas recíprocas e elegem políticas de emprego e segurança pública para atacar gestões tucanas

Apesar de pertencerem a partidos de origem, programa e orientação política diversa, os candidatos ao Senado por São Paulo Romeu Tuma (PFL), 70, Orestes Quércia (PMDB), 63, e Aloizio Mercadante (PT), 48, fizeram um debate sem ataques, confrontos ou mesmo divergências relevantes.

Os três primeiros colocados na última pesquisa Datafolha marcaram sua participação no primeiro debate ao Senado com críticas na área de segurança às gestões dos tucanos Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso, além de defenderem o fortalecimento da indústria nacional e o aumento das exportações para gerar emprego.

Quércia e Mercadante comprovaram na prática a aliança informal entre os dois partidos no Estado - balizada pelo apoio à candidatura Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência-, fazendo suas intervenções sem críticas mútuas. Mesmo Tuma, que apóia Alckmin em São Paulo e Fernando Henrique Cardoso no governo federal, não saiu em defesa dos tucanos e concordou com os adversários.

O primeiro debate para o Senado encerrou a série "Candidatos na Folha", realizada no Teatro Folha, em Higienópolis, zona central de São Paulo. Os candidatos foram sabatinados pelo secretário de Redação Fernando Canzian e pelo editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, além de leitores convidados.

O primeiro bloco foi dedicado a perguntas dos jornalistas aos candidatos. O secretário de Redação Fernando Canzian abriu o debate fazendo a primeira pergunta a Orestes Quércia, como foi definido por sorteio. O jornalista afirmou que, segundo a declaração de bens entregue por Quércia ao Tribunal Regional Eleitoral, seu patrimônio pessoal, avaliado em R$ 64,8 milhões, registrou um crescimento de 562% na comparação com os bens registrados em 1996. Canzian questionou como o peemedebista explicava essa volumosa variação patrimonial.

"Sou empresário antes de ser político. Comecei vendendo melancias, tive fábrica de bicicletas, vendi manga em compota. Quando fui candidato a prefeito de Campinas meu slogan era "um empresário de sucesso na prefeitura". Nestes últimos, fiz um negócio bom. Comprei um jornal, investi e tive um lucro grande, sobre o qual estou pagando Imposto de Renda. Sou empresário antes de ser político", afirmou Quércia.

QUÉRCIA E PT
O editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva, lembrou a Aloizio Mercadante a aliança informal que existe entre o PT e o PMDB de Quércia, que está à frente do petista nas pesquisas. Barros e Silva perguntou a Mercadante se ele e o partido não estariam pagando um preço alto demais em razão do projeto de tentar eleger Lula presidente da República.

"Venho crescendo em todas as pesquisas. Devo isso à militância do PT. Há um sentimento de necessidade de mudança e de desejo de ética na política, em razão do desemprego, da falta de crescimento e do aumento da criminalidade. O esforço de eleger Lula é o meu eixo central e o do partido. Lula já respondeu a essa questão na TV e disse: "Meu candidato ao Senado em São Paulo é o Mercadante'", respondeu o petista.

Barros e Silva afirmou que a direção nacional do PT não sinalizava nesse sentido ao levar Lula à inauguração do comitê eleitoral de Quércia. "O projeto do Lula é importante como é aumentarmos a bancada no Senado, que homologará o novo presidente do Banco Central, peça fundamental para mudarmos a pol ítica econômica, os embaixadores, que têm de negociar uma nova diplomacia comercial, a rolagem da dívida e a escolha de novos ministros para o STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo. É evidente que vamos ter de fazer aliança também no Senado", declarou.

TUMA E A REPRESSÃO
Canzian pediu a Romeu Tuma que ele explicasse seu comportamento por ter permanecido 30 anos na direção do Dops (órgão de repressão política no regime militar) e por ter sido apontado como agente da repressão pelo grupo Tortura Nunca Mais, entidade civil que identificou colaboradores dos militares.

"Já esperava que a história tivesse algumas distorções. Minha história está sendo contada pelo próprio Lula e pelo José Dirceu. Tive uma postura de equilíbrio e respeito aos cidadãos que ficaram sob a minha custódia."

ROUBO E PIPOCA
Barros e Silva citou uma provocação de Quércia a Lula -de que o petista não saberia administrar nem carrinho de pipoca- e a resposta do hoje candidato a presidente -de que também nunca havia roubado carrinho de pipoca- para perguntar se não havia uma contradição na aliança de ambos.

"Lula reúne condições excepcionais de governar o país. Não posso fazer campanha e pedir voto para o Lula, porque a verticalização impede. Mas tenho responsabilidade e quero ajudar este país a escolher a melhor alternativa. A despeito dos ataques pessoas, a proposta que melhor atende o país é a do candidato do PT", respondeu Quércia.

Barros e Silva voltou a citar a frase de Lula com referência a roubo. "Considero superada", disse o peemedebista.

SANTO ANDRÉ
Em sua pergunta a Mercadante, Canzian lembrou que 12 pessoas foram acusadas de corrupção na administração de Santo André, sendo três delas petistas ligados ao prefeito Celso Daniel, assassinado em janeiro. Perguntou se o caso viria à tona sem que tivesse ocorrido a investigação do crime.

"O PT inaugurou um novo padrão de ética na política, com exigência de apuração de qualquer indício de irregularidade. O mesmo rigor que exigimos dos outros, temos de exigir nas nossas administrações. Hoje o PT governa 50 milhões de pessoas. Quase um em cada quatro cidadãos é governado pelo PT. Vamos ter problemas, sim. A diferença é que afastamos e exigimos rigorosa apuração", respondeu o petista à pergunta sobre irregularidades em Santo André.

TUMA E COLLOR
Barros e Silva disse que Romeu Tuma foi diretor da Polícia Federal e secretário da Receita Federal durante a gestão Fernando Collor, na qual apareceram as acusações de envolvimento do empresário Paulo César Farias com tráfico de influência, lavagem de dinheiro, corrupção e narcotráfico. Perguntou se houve incompetência da Polícia Federal e da Receita, então sob a guarda de Tuma.

"Quando começaram a surgir indicativos de que PC Farias montou um governo paralelo, tomei as providências. Indiquei o dr. Paulo Lacerda, delegado que se notabilizou na investigação, para acompanhar o caso. Descobri os computadores do PC. Com um disquete que custou US$ 100, reabri as informações que eles achavam que tinha deletado do computador", respondeu.

ENTRE OS CANDIDATOS
O segundo bloco dos debates foi dedicado a perguntas entre os candidatos. Conforme definição feita também por sorteio, Quércia perguntou a Mercadante sobre a municipalização da saúde.

"A descentralização é sempre um caminho mais promissor para aumentar a eficiência. Diminui o custo da gestão e cria maior possibilidade de fiscalização", respondeu o petista. Mercadante disse que a medida será importante ainda porque, em 2003, segundo ele, de cada R$ 1 arrecadado, R$ 0,59 vai estar comprometido com o pagamento da dívida.

"Estou plenamente de acordo com o candidato. O país vai estar numa situação insustentável. A despeito de termos poucos recursos na área de saúde, que eles se transformem em recursos municipais", disse Quércia.
Mercadante afirmou que houve uma "deterioração da qualidade da segurança oferecida em São Paulo e no Brasil, nas gestões de Alckmin e FHC". Citou que no ano passado houve 40 mil homicídios, sendo 17 mil só na Grande São Paulo, e perguntou a opinião de Tuma sobre o tema.

"Ninguém em sã consciência poderia dizer que a segurança está uma maravilha. Com 40 anos de militância na área, não poderia aceitar como correta a atual política. Estamos a reboque do crime", afirmou Tuma.

Na réplica, Mercadante afirmou que a gestão do sistema prisional em São Paulo foi um "desastre". "O crime avançou dentro do sistema e ameaçou a sociedade. O censo penitenciário mostra que o perfil do preso é ser jovem, desqualificado e analfabeto. 24% dos jovens na favela não têm emprego e não estão buscando. Já assumem como opção o crime", disse.

"Concordo com o deputado. O que precisa é botar bandido na cadeia e que ele cumpra a pena integral", disse Tuma, em sua tréplica.

TUMA x QUÉRCIA
A pergunta seguinte foi feita por Tuma a Quércia, sobre o mesmo tema, a segurança. "No Brasil, 80% dos crimes são cometidos por reincidentes. Vivemos uma situação dramática. No Senado, temos de pressionar no sentido de haver um esforço de mobilização, um mutirão. Vamos pegar os projetos que o Mercadante falou que tem e fazer um mutirão. Vamos fazer presídios federais longe da civilização, das cidades, nos quais os condenados trabalhem", propôs Quércia.

"Perfeitamente, governador. Precisamos de presídios modernos, com vigilância eletrônica, sem contato com pessoas, com oficinas para trabalhar e pagar sua estada", concordou Tuma.

MERCADANTE X QUÉRCIA
Mercadante perguntou a Quércia quais as propostas dele para o aumento do emprego. "Grande problema é a desnacionalização das empresas. Não sou contra o capital estrangeiro, mas essas empresas não têm interesse em exportar. Querem o mercado interno. Façamos com que os governos tenham um mínimo de 20% ou de 30% de suas compras de micros e pequenas empresas nacionais, as que mais geram empregos. O governo dos EUA compra um percentual dessas empresas. Às vezes paga mais caro, mas compra", disse o peemedebista.
"Não vamos ter emprego se não mudar o modelo econômico. A política neoliberal fracassou aqui, levou a Argentina ao colapso, o Paraguai ao estado de sítio, a Colômbia à guerra e a Venezuela a uma crise institucional", disse.

O editor de Brasil observou que os candidatos estavam com tanta cordialidade e falta de questionamentos entre si que dava a impressão de que havia três vagas em disputa em vez de apenas duas. "Todos concordam com as dificuldades que o país atravessa e os diagnósticos são compatíveis", tentou justificar Tuma.

OS LEITORES
A lógica da troca de gentilezas foi interrompida quando, no terceiro bloco da sabatina, os três candidatos ao Senado responderam a perguntas de leitores do jornal. Mas, se em geral as perguntas foram contundentes, os candidatos as respondiam de forma enviesada.

Vanira Kunc perguntou a Quércia a razão pela qual foi acusado de haver "quebrado" as finanças do Estado. Ele disse que há pouco menos de oito anos o PSDB recebeu São Paulo com uma dívida de R$ 18 bilhões, e que hoje ela é de R$ 90 bilhões.

Quanto ao Banespa, respondeu que aquela instituição foi objeto de CPI na Assembléia Legislativa, e que seu relatório final inocentou-o de responsabilidades.

O leitor José Paulo Nunes perguntou a Mercadante a razão pela qual ele elogiara Zélia Cardoso de Melo, ministra da Economia, quando o Plano Collor confiscou os depósitos bancários.

Em lugar de explicar seu apoio momentâneo ao Plano Collor, o candidato do PT disse ter sido colega de classe de Zélia e classificou Collor como "o pior presidente da história republicana".

Tuma assumiu o risco de ser politicamente incorreto ao ser indagado pelo leitor Rodrigo Moraes Soares sobre a união civil entre homossexuais. Disse respeitar a opção das pessoas na busc a do prazer, mas que tal união é contrária os ensinamentos do cristianismo, por impedir a procriação do casal.

Carlos Alberto Monção perguntou a Tuma se ele teria hoje o mesmo comportamento que demonstrou durante o governo Collor, ao prender um conhecido hipermercadista porque o preço certa marca de desodorante havia sido indevidamente reajustada.

Ele respondeu que uma lei o obrigava a punir quem alterasse as tabelas de preços. Caso hoje estivesse em vigor uma lei semelhante, ele, chefiando algum setor da polícia, não hesitaria em fazer com que a lei fosse cumprida.


Artigos

Seguuura, eleitor!
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - No fim da manhã de sábado, o aeroporto de Barretos era o retrato acabado da casa-da-mãe-joana em que se transformou a política brasileira para não usar outra palavra também iniciada com "c".
Michel Temer, o presidente do PMDB, foi o primeiro a chegar. Ficou esperando o aviãozinho seguinte para receber ou José Serra, o candidato presidencial de Temer, ou Orestes Quércia, o candidato a senador por São Paulo do partido de Temer, embora Quércia seja o inimigo-mór do tucanato paulista.

Recebeu ambos no final das contas. No intervalo entre um e outro, desembarcou a turma do PT, com o deputado Aloizio Mercadante à frente, ele também candidato a senador por São Paulo e ex-inimigo mortal de Quércia e do quercismo.

Um jovem com o adesivo de Quércia pregado na camisa suada aperta a mão de Mercadante e promete-lhe o voto (o segundo voto, imagino, já que o primeiro, ao menos em tese, iria para Quércia).
Mercadante fica feliz. Aliás, fica feliz com qualquer segundo voto.

Provoco: "Está esperando o Quércia para começar a carreata?".

Mercadante sorri amarelo. Ainda não chegou a tanto. Espera por Eduardo Suplicy, que já está em campanha para a Presidência em 2006. Tem lógica: se Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT, perder agora, nunca mais se candidata. Se ganhar, "já disse várias vezes que não disputará a reeleição", anotou e repassa Suplicy.
Quércia vai embora no carro de Uebe Rezeck, o prefeito, que, na véspera, jantara com Paulo Maluf, ao qual só pode ter prometido apoio, tanto que Maluf disse ao jornal local que Rezeck poderia pedir tudo o que quisesse que seria atendido.

À noite, na Festa do Peão (que afinal me levara a Barretos), o grito de "segura, peão" parecia feito para mim, que já acreditei que havia mocinhos e bandidos na política -e eles não se misturavam.


Colunistas

PAINEL

Ponte interditada
O senador Geraldo Althoff, coordenador de Ciro no PFL, reuniu-se com Roseana Sarney (MA) para tentar convencê-la a não apoiar Lula no segundo turno. Sem sucesso. Ela disse não ter como ficar com Ciro: o maior opositor do clã Sarney, Jackson Lago, é da Frente Trabalhista.


Passo medido
Althoff também foi ao PI para tentar atrair Hugo Napoleão (PFL) para a campanha de Ciro. Ainda aliado de Serra, Napoleão marcou outra conversa para a semana que vem, após acompanhar o desempenho do tucano em nova rodada de pesquisa.

Pauta extensa
Ciro gravará hoje de manhã uma resposta aos ataques de Serra. Tratará do episódio em que chamou um ouvinte de "burro", da discussão que teve com um cinegrafista do PT e do fato de ter dito que estudou a "vida toda" em escolas públicas.

Telhado de vidro
O comando do PT decidiu eliminar da campanha presidencial denúncias de corrupção contra os adversários. Motivo: após os casos em investigação nas gestões petistas de Santo André e do Rio Grande do Sul, o partido não quer dar motivo para ser atacado pelos rivais.

Férias eleitorais
O Senado adiou ontem a convocação extraordinária prevista para esta semana. A avaliação comum na Casa é que dificilmente algum projeto será aprovado até o final do ano eleitoral.

Cãibra no dedo
Presidente da Câmara, Aécio Neves manteve a convocação extraordinária dos deputados e diz que, se for preciso, ligará pessoalmente aos deputados que não registrarem presença na sessão de hoje à tarde.

Big Brother
A agenda da campanha de Orestes Quércia (PMDB-SP) ao Senado é repetida várias vezes ao dia na rede de rádio Nova Brasil, de sua propriedade.

Vestir a carapuça
Alckmin recorreu ao TRE para impedir que Cabrera (PTB), candidato a governador em SP, voltasse a usar imagem de Ratinho na qual o apresentador dizia para o eleitor não votar em candidato "banana". Detalhe: o tucano paulista não fora citado.

Depois do muro
Slogan de campanha do PCB-SP repete o bordão comercial da privatizada Embratel: "Quem é do partidão faz um 21" . E completa: "Rumo ao socialismo".

Mina de ouro
A União tem 3,5 mi de imóveis avaliados em R$ 587 bi. Grande parte está fechada ou alugada para inadimplentes. Se fossem melhor aproveitados, renderiam mais de R$ 30 bi. O levantamento, enviado aos presidenciáveis, é do Conselho Federal de Corretores de Imóveis.

Venda fácil
Para o conselho, apenas 10% dos imóveis da União são rentáveis hoje. O governo poderia vender diretamente aos atuais ocupantes 2.000 imóveis em Vitória (ES), Guarapari (ES), Recife (PE) e Salvador (BA). Em Alphaville (SP), haveria outros 8.500 prontos para venda.

Sujeito oculto
O candidato do PTB-ES ao governo, Max Mauro, pediu ao TRE a cassação de um de seus rivais, o tucano Paulo Carnelli. Segundo Mauro, o tucano é um "laranja" de Paulo Hartung (PSB). Em seu programa, Carnelli pede voto para "Paulo".

Meia-volta
Paulo Renato (Educação) comunicou à OAB nacional que decidiu reabrir o processo no qual o Conselho Nacional de Educação deu um parecer para encurtar para três anos a duração de 11 cursos de graduação. A redução havia gerado protestos.

Visita à Folha
André Franco Montoro Filho (PSDB), ex-secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (governos Mário Covas e Geraldo Alckmin), visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De João Herrmann (PPS), sobre a campanha de Lula:
-Lula está mais para bailarina do que para candidato a presidente, tal é a sua coreografia de campanha. Só anda na ponta do pé. Mas uma hora cai.

CONTRAPONTO

Vitória de Pirro
No evento pró-Serra que reuniu artistas anteontem na casa do ator Raul Cortez, em SP, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), contou uma história da sua campanha a prefeito de Pindamonhangaba, no interior do Estado, em 1976.
Alckmin, com seus 23 anos de idade, fazia campanha num dos bairros mais populosos batendo de porta em porta.
Em determinada casa, procurou convencer uma senhora a votar nele. Ela ouviu atentamente os argumentos e disse que, sim, iria votar nele. Todo alegre, Alckmin agradeceu:
- Obrigado, muito obrigado!
A mulher, então, observou:
- Só tem uma coisa. O senhor precisa me dar o dinheiro para pagar as passagens de ônibus.
O candidato disse que não estava entendendo. Ela explicou:
- É que eu moro em Itajubá [Minas Gerais], meu título de eleitor é de lá...


Editorial

O CHOQUE SOCIAL

O amálgama que une os diversos grupos humanos no Brasil, constituindo a sociedade nacional, a cada dia que passa apresenta mais pontos de tensão, de fragilidade. Duas décadas de estagnação econômica e de manutenção de brutal concentração de renda inevitavelmente cobram seu preço em termos de desagregação social, de violência e de revolta. Numa cidade como São Paulo, a classe média restringe ao estritamente necessário (serviços domésticos, por exemplo) os contatos com a massa urbana mais pobre, que habita as periferias.

Nesse ambiente, em que gerações de classes diferentes atingem a maioridade por vezes sem nunca terem convivido, é que se dão algumas iniciat ivas, pontuais, de tentar romper esse muro de segregação. Foi o caso dos alunos de classe média alta de uma escola particular de São Paulo que passaram cinco dias numa favela da cidade, como parte de um projeto pedagógico.

Experiências de choque social como essas são positivas porque os preconceitos mútuos que um setor guarda em relação ao outro são postos a prova. E muitas vezes não resistem, dando lugar a uma percepção mais realista dos problemas.

A solidariedade não é um conceito apenas moral, desgarrado do ambiente em que se travam as relações sociais concretas. A constituição de uma sociedade mais harmônica no Brasil, portanto, não depende apenas da boa vontade de grupos isolados em quebrar tabus. Para que se conquiste o objetivo, essas ações devem ser coordenadas e aproveitadas no contexto de uma política pública de desenvolvimento humano, com grande ênfase na melhoria do acesso a educação de alta qualidade.


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08/27/2002


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