Embaixador Mello Mourão nega que governo brasileiro tenha colaborado com a volta de Zelaya a Honduras
O embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, diretor do Departamento para a América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, negou que o governo brasileiro tenha participado ou tomado conhecimento com antecipação do retorno do presidente deposto, Manuel Zelaya, a Honduras. Ele foi ouvido no começo da tarde desta terça-feira (22) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, em reunião extraordinária que debateu o cerco à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
Mello Mourão descreveu como teria se dado a chegada de Manuel Zelaya à embaixada brasileira. O encarregado de negócios da embaixada brasileira, Francisco Catunda, estava descansando quando uma deputada ligada ao presidente deposto chegou à Embaixada e pediu para ser recebida. Ela contou ao encarregado que a esposa de Zelaya gostaria de conversar com ele.
Ainda segundo o relato de Mello Mourão, a esposa de Manuel Zelaya subiu à sala do encarregado e disse que o presidente deposto estava nas proximidades e gostaria de ser acolhido na Embaixada. O encarregado consultou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele consultou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concordou com o pedido. Ainda foi oferecida a Zelaya a possibilidade de ele se abrigar na residência do embaixador, mas ele preferiu a chancelaria.
Durante a reunião extraordinária, todos os senadores que se pronunciaram repudiaram o cerco militar e o corte no fornecimento de energia elétrica, água e telefone à embaixada. O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) indagou se o governo interino de Honduras teria tomado a mesma atitude de cortar a luz, a água e o telefone da Embaixada dos Estados Unidos se Zelaya tivesse buscado refúgio lá.
O presidente da CRE, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) opinou que o corte no fornecimento de água, energia e telefone poderia se configurar em um tipo de agressão. Ele também indagou a Mello Mourão quem poderia intervir para tentar contornar o impasse. O diplomata informou que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, já buscou o apoio da Organização dos Estados Americanos e do governo norte-americano, um dos poucos que ainda mantém embaixada funcionando em Honduras.
República de bananas
O senador Renato Casagrande (PSB-ES) defendeu a postura de acolher Manuel Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Porém, ele opinou que se o Brasil participou do planejamento ou colaborou com o retorno de Zelaya a Honduras, o governo errou. O senador João Tenório (PSDB-AL) disse temer que o Brasil se transforme em uma "república de bananas" em virtude de vários desrespeitos que vem sofrendo, como a invasão da Petrobras pelo governo boliviano e a exigência do Paraguai de aumentar o preço da energia que vende produzida em Itaipu.
O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) perguntou se o Itamaraty está cogitando enviar de volta a Honduras o embaixador brasileiro naquele país. Mello Mourão respondeu que, como o embaixador retornou ao Brasil em virtude de o governo não reconhecer o atual presidente hondurenho, ele deverá permanecer em território brasileiro. Mourão também negou, respondendo a pergunta do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que o presidente Lula tenha negociado com Zelaya o retorno a Honduras.
Por sua vez, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) o Brasil deve evitar que Zelaya use a embaixada brasileira como escritório político. Ele registrou que abrigar um presidente que está com sua vida em perigo e procura uma embaixada, junto com sua família, é correto. Ele não tem a mesma certeza quanto à situação de Zelaya, que voltou ao país e se abrigou na embaixada do Brasil com 70 auxiliares.
Já o senador Fernando Collor (PTB-AL) opinou que o presidente deposto Zelaya "jamais empreenderia a volta ao seu país sem ter diante de si a garantia de que poderia ser hospedado, entre aspas". O ex-presidente da República manifestou preocupação sobre como o governo brasileiro conseguirá superar esse problema diplomático. O senador Romeu Tuma (PTB-SP) também comentou que Zelaya deve ter recebido algum apoio para conseguir retornar a Tegucigalpa.
Para o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) a situação do ex-presidente Zelaya é atípica, já que ele não procurou a embaixada do Brasil para conseguir um salvo conduto para deixar Honduras em segurança. Ao contrário, seu objetivo é conquistar de volta o poder.
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) lembrou que praticamente todos os países são unânimes na defesa do presidente deposto Manoel Zelaya. Ele lamentou que alguns formadores de opinião estariam apresentando uma versão dos fatos distorcida, apresentando como golpista o presidente que foi eleito pelas urnas.
22/09/2009
Agência Senado
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