Emissoras de TV divergem sobre modelo para concessão dos empréstimos do BNDES



Ainda falta o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresentar formalmente ao Senado seu projeto de socorro às empresas de comunicação social em dificuldades financeiras, mas a audiência pública promovida pela Comissão de Educação já serviu para mostrar aos senadores que nem os próprios empresários do setor convergem sobre o assunto. A Globo e a Bandeirantes, duas das cinco grandes redes de televisão aberta do país, aprovam a iniciativa, inclusive a linha de crédito que permita o pagamento de dívidas. Mas as outras três - SBT, Record e Rede TV! - são contra essa alternativa. O temor é que as Organizações Globo absorvam quase a totalidade dos recursos oferecidos pelo BNDES.

O vice-presidente da Rede TV!, Marcelo de Carvalho, vê justamente esse defeito no projeto encaminhado ao BNDES pelas associações de empresas de rádio e TV (Abert), de jornais (ANJ) e de editoras de revistas (Aner), segundo afirmam os representantes das três redes, sem o aval de todas empresas que integram as entidades.

- O projeto dizia que cada empresa poderia até ter 33% do total dos recursos. De R$ 5 bilhões, nós estamos falando de R$ 1,5 bilhão na mão de uma só empresa. Isso é uma excrescência. Se o setor tem mais de quatro mil empresas, como é possível que uma parte substancial do financiamento fique com uma empresa? Então vamos colocar um milésimo, um quarto de milésimo para cada empresa. Aí é até razoável. - questionou o vice-presidente da Rede TV!, Marcelo de Carvalho.

Dennis Munhoz, presidente da rádio e TV Record, também discorda da linha de crédito para quitar débitos anteriores.

- Não podemos concordar com isso. O setor precisa de investimento, precisa de dinheiro, mas de dinheiro para coisa nova, para geração de novos empregos e não para a quitação de débitos passados - avaliou o executivo.

Em oposição a eles, o vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, reforçou que, entre as empresas de mídia no país, a Globo precisa receber tratamento especial, "pela sua grandeza e pela sua qualidade". Guimarães usa como argumento o fato de que as dívidas contraídas pela Globo decorrem de pesados investimentos em tecnologia e geração de novos empregos, como as instalações do centro de produções televisivas no Rio de Janeiro, conhecido como Projac.

- O projeto anunciado pelo BNDES é uma possibilidade para todos - resume o vice-presidente da Globo.

O empresário João Carlos Saad, presidente da Rede Bandeirantes, defende que sua empresa tenha acesso aos recursos como o BNDES faz "para qualquer outro setor". O dinheiro, afirmou, poderia ser usado para pagar dívida, novos investimentos ou até "comprar canarinho", desde que os empréstimos sejam honrados pelas empresas.

Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente da Abert, que reúne 400 emissoras de TV e cerca de três mil rádios, disse que o setor nunca foi socorrido pelo banco em operações de crédito:

- O que estamos pedindo é a equiparação com relação a outros setores da economia brasileira, como a de transportes aéreos - argumentou Carvalho Neto, que é integrante do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional.

Para Flávio Cavalcanti Júnior, diretor do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) em Brasília, seu grupo não está empenhado no projeto do BNDES, até porque contaria com outras fontes de receita.

- Não é verdade que os recursos estatais financiam as grandes redes. Eles são bem-vindos, mas não dependemos deles - declarou Cavalcanti, referindo-se à publicidade oficial veiculada pelo SBT, que segundo informou responde por apenas 5% de todo o faturamento da rede.



01/04/2004

Agência Senado


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