Empresário afirma ter pago R$ 2,5 mi a prefeitura do PT









Empresário afirma ter pago R$ 2,5 mi a prefeitura do PT
João Setti Braga é o quarto a confirmar pagamento em Sto. André

O empresário do setor de transporte ouvido ontem pela CPI criada em Santo André para investigar suposta propina cobrada para financiar campanhas do PT afirmou que cerca de R$ 2,5 milhões (valor desatualizado) foram retirados do caixa da empresa Nova Santo André para ser entregue a "pessoas da prefeitura", entre o final de 1997 e o início de 2000.

"[O dinheiro" era para ser entregue a pessoas da prefeitura como um custo político para poder operar as linhas com tranquilidade na cidade", afirmou João Antônio Setti Braga, sócio da Nova Santo André de 1997 a 2000, que depôs à CPI por uma hora e 20 minutos.

Setti Braga é o quarto empresário a confirmar à comissão que entregava dinheiro à prefeitura supostamente como propina. Os três outros foram: Rosangela Gabrilli, Luiz Alberto Gabrilli Neto e Sebastião Passarelli.
Para o empresário, o prefeito Celso Daniel foi assassinado, em janeiro deste ano, por ter descoberto indícios de corrupção na prefeitura. "Pode ter sido queima de arquivo", disse.

Segundo Setti Braga, os pagamentos mensais de R$ 100 mil eram feitos em dinheiro pelo também sócio da empresa Ronan Maria Pinto -acusado pelo Ministério Público de ser um dos mentores de um suposto esquema de extorsão na cidade.
A Nova Santo André, que venceu concorrência em meados de 1997 e passou a operar no final do mesmo ano, sempre foi formada por um pool de empresários de Santo André. No início, além de Setti Braga e Ronan, eram sócios Luiz Alberto Gabrilli Filho, Baltazar José de Sousa e Carlos Sófio. Baltazar e Sófio já depuseram à CPI confirmando movimentação de dinheiro sem fins conhecidos.

Ronan
"A quantia era entregue em dinheiro vivo pelo Ronan [Maria Pinto, um dos sócios da empresa"", disse Setti Braga, que não soube informar a quais pessoas eram levadas a propina e se os pagamentos prosseguiram após ter deixado a empresa. "Só posso dizer que [os receptores" eram pessoas da Prefeitura de Santo André. Mas nunca presenciei nada."

Setti Braga, sócio hoje de quatro empresas de transporte na Grande São Paulo, disse à CPI que deixou a Nova Santo André no início de 2000 por não concordar com os métodos da administração da empresa -à época, a cargo de Ronan e Gabrilli. "Saí, pois não compactuava." O depoente afirmou que distribuiu aos demais sócios os 24% que tinha na empresa, pois não tinha como negociar cotas de "algo endividado".

"O custo de R$ 100 mil foi trazido a nós [sócios da empresa" pelo Ronan, que foi nomeado pelo Klinger [Luiz de Oliveira Souza" como uma espécie de interlocutor entre a empresa e a prefeitura. Como a maioria concordou, eu tive de acatar [o pagamento de propina"." Setti Braga não soube dizer aos vereadores de que forma esses R$ 100 mil eram lançados nos balanços da Nova Santo André.

Segundo a denúncia do Ministério Público, os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto, e o secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza, teriam cobrado propina de empresários que tinham contratos com a Prefeitura de Santo André, durante a gestão de Celso Daniel (1997 a 2002). A arrecadação teria sido interrompida após o assassinato do prefeito.
Depoimentos dos Gabrilli e de João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, formam a base da ação dos promotores.

"Nos poucos encontros que tive com o Klinger, em reuniões que envolviam a questão do transporte municipal, ele sempre foi muito truculento", disse Setti Braga, que já prestou depoimento sobre o caso ao MP. Além de ex-sócio, Setti Braga é amigo particular de Luiz Alberto Gabrilli Filho.

O Ministério Público calcula que Luiz Alberto Gabrilli Filho, dono da Viação José e da Expresso Guarará, pagou cerca de R$ 2 milhões de propina entre 1997 e 2001. A empresa Guarará, que teria cometido irregularidades durante um contrato de concessão municipal, é alvo de uma auditoria da Prefeitura de Santo André.


Serra vê calote em proposta de Ciro
O candidato José Serra chamou de "calote" a proposta do rival Ciro Gomes (PPS) de alongamento da dívida interna, ao deixar ontem à noite a TV Globo, depois da entrevista ao "Jornal Nacional".

"Acho que o problema do Brasil não é a dívida pública, mas a dúvida pública em relação a essas questões, exatamente pela inquietação que se gera", afirmou. "Para mim, essa dúvida econômica não existe. A gente leva a questão da dívida com competência e aí ela é perfeitamente administrável."

Serra disse que não vê necessidade de renegociar a dívida, que passou de R$ 153 bilhões em 1995, ou cerca de 30% do PIB, para R$ 684,6 bilhões em abril deste ano, ou 54,5% do PIB. "Se quiser fazer alongamento forçado, isso é calote. Se não é forçado, não precisa nem falar, basta estabilidade para trazer condições, após as eleições, que ela se alonga naturalmente."

O tucano disse que, em 1999, na crise que levou à desvalorização do real, a dívida "girava todos os dias" e depois o prazo de pagamento foi alongado "sem traumas, de maneira natural, pelo mercado".

Depois da entrevista, ele foi à casa de sua assessora de imprensa, Andréa Gouvêa Vieira, na Gávea (zona sul), onde estava acontecendo um encontro entre sua candidata a vice, a deputada federal Rita Camata (PMDB/ES), e mulheres do Rio. Estavam no encontro, entre outras, as atrizes Tônia Carrero e Xuxa Lopes, a artista plástica Marília Kranz, a socióloga Aspásia Camargo, a executiva Maria Sílvia Bastos Marques e líderes comunitárias da favela da Rocinha.


Garotinho critica Ciro e diz que "banqueiro é raça ruim"
Candidato afirma que banco tem "fila de velhinhos sofrendo"

O candidato Anthony Garotinho (PSB) criticou ontem banqueiros e seus adversários na disputa à Presidência -principalmente Ciro Gomes (PPS)-, durante visita a Passo Fundo (RS).

"Só quem tem dinheiro neste país são os banqueiros, e banqueiro é uma raça tão ruim que, além de ganhar dinheiro, presta mal serviço à população. Você vai a banco e vê uma fila de velhinhos sofrendo", disse, em entrevista à rádio Planalto, de Passo Fundo.

Na entrevista, Garotinho -que desde o início da campanha faz críticas a banqueiros- disse que a vitória dos outros candidatos privilegiaria os bancos.

Ciro
Garotinho defendeu a redução das taxas de juros para enfrentar a dívida interna e aproveitou para fazer uma crítica a Ciro, que defende o alongamento da dívida. "O Ciro vai fazer o que o Collor fez. Eu não vou tocar na caderneta de poupança de ninguém."

José Serra (PSDB) também foi criticado. Para Garotinho, se vencer, Serra dará continuidade à atual política econômica.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada no último domingo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 38% das intenções de voto; Ciro, 18%; Serra, 17%; e Garotinho, 13%.

Na anterior, de junho, Ciro tinha 11% e Garotinho, 16%.

O candidato do PSB espera o crescimento do partido para contar com apoio no Congresso em seu eventual governo.

Ontem, em Passo Fundo (300 km de Porto Alegre), ele inaugurou um comitê de campanha. Estava acompanhado do presidente estadual do PSB, Beto Albuquerque, candidato à reeleição para deputado federal, do candidato ao governo do Estado pelo partido, Caleb de Oliveira, e do candidato ao Senado Marcos Cittolin.

Os outros comitês no Estado estão em Porto Alegre, Pelotas e Caxias do Sul. Em reunião com empresários na Associação Comercial da cidade, Garotinho discutiu seu plano de governo.

Na entrevista, ele também prometeu estabelecer uma guerra ao narcotráfico, com policiamento nas fronteiras para impedir entrada de armas e drogas. Ele vo ltou a culpar a governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), pelo agravamento na violência no Estado.


Ciro diz que PFL vai influenciar programa
Candidato diz não acreditar em pesquisas eleitorais a três meses da eleição e nega atacar adversários

O presidenciável Ciro Gomes (PPS) deixou claro ontem que o PFL não só vai participar de seu eventual governo como também influenciará na consolidação do programa. "As forças vitoriosas serão as forças de ocupação", afirmou Ciro Gomes.

"As forças que se reúnem para a batalha são aquelas que devem ter responsabilidade de por em prática o que propuseram à sociedade", completou, quando questionado sobre a influência do PFL em seu eventual governo.

Um dia depois de receber apoio do presidente nacional do partido, Jorge Bornhausen, em Uberaba (MG), e de três diretórios regionais -Minas, Goiás e Espírito Santo-, Ciro Gomes afirmou que não foi a presença de pefelistas no governo Fernando Henrique Cardoso que desvirtuou o programa do PSDB.

"O problema do governo Fernando Henrique não foi esse ou aquele partido. Foi a perda da hegemonia moral e intelectual do projeto no começo muito precoce do governo", disse.

Segundo Ciro Gomes, seu programa de governo está aberto a sugestões da sociedade e dos aliados, mas isso não quer dizer que todas as propostas serão aceitas.

Ontem, ele passou o dia em Brasília em reuniões com líderes da coligação PPS-PTB-PDT -entre eles, o presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR)-, assessores e políticos. Acertaram a inauguração do comitê de campanha na capital federal na próxima semana. O presidenciável recebeu o deputado Vilmar Rocha (PFL-GO), que foi declarar oficialmente seu apoio, e o senador Geraldo Althoff (PFL-SC).

Para Ciro, as eventuais contradições em alianças e divergências nos palanques estaduais são resultado de decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que vincularam as eleições e as alianças estaduais às presidenciais.

"Vejam o senhor José Serra [presidenciável tucano" agora aliado a Jader Barbalho", disse em tom de ironia, referindo-se ao ex-presidente do Senado, que renunciou ao mandato para evitar a cassação.

Bem-humorado, Ciro afirmou que não acredita em pesquisas eleitorais a três meses das eleições e que não pretende atacar seus adversários. "Sou um homem limpo. Não gosto de jogar na canela, mas também sei jogar", afirmou.

O presidenciável até adaptou palavras de Jesus para responder ao candidato Anthony Garotinho (PSB), que disse que sua proposta de renegociação da dívida brasileira é calote. "Viro a outra face e digo: Senhor, perdoe-o, ele não sabe o que está dizendo."


FHC diz que se sentiu "traído" por atitudes de Reale Júnior
Presidente nega ter mudado de posição sobre intervenção no ES

Após a posse do novo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, o presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta que enviou ontem ao ex-ministro Miguel Reale Jr. na qual afirma se sentir "traído" pelas atitudes do amigo e nega que tenha mudado de posição sobre a intervenção federal no Espírito Santo.

Reale Jr. pediu demissão por se sentir "desautorizado" por FHC no episódio em que o procurador-geral da
República, Geraldo Brindeiro, arquivou o pedido de intervenção feito com base em violação dos direitos humanos.

FHC disse na carta que era necessário "recapitular os fatos" e negou a versão de Reale Jr. de que teria mudado de idéia sobre a intervenção ou que teria influenciado Brindeiro a não levar adiante o pedido. "Disse-lhe que nas circunstâncias atuais e com tantas dificuldades sentia-me traído e não podia compreender como Vossa Excelência colocava suas suscetibilidades (eventualmente compreensíveis com respeito ao procurador, mas não quanto a mim) acima do interesse público", escreveu FHC, sobre o telefonema no qual pediu para Reale Jr. ficar no cargo, na segunda à noite, após Brindeiro ter anunciado o arquivamento do pedido.

A crise no governo, que também levou à demissão de cinco colaboradores de Reale Jr., incluindo o diretor da Polícia Federal, Itanor Carneiro, teve início com a aprovação do pedido de intervenção federal no Espírito Santo pelo CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) na semana passada.

Reale Jr. sustenta que já tinha assegurado o aval de FHC para dar andamento à intervenção.

Segundo o presidente, Reale Jr. nunca pediu uma audiência para discutir a situação do Estado, que foi tratada "de passagem" em uma reunião. FHC afirmou que, naquele momento, considerou "adequado" enviar a questão ao STF (Supremo Tribunal Federal), o que até pouparia o governo de um ato que "atinge gravemente o princípio do federalismo".

Ainda segundo FHC, Brindeiro pediu audiência urgente na segunda para afirmar que "não havia base jurídica" para encaminhar o pedido de intervenção ao Supremo porque não seria o tribunal adequado.
O presidente disse que só ontem recebeu o relatório do conselho sobre a questão e que Reale Jr. não lhe forneceu dados suficientes para que formasse "um juízo preciso" sobre o assunto.


PT estima base reduzida de apoio a Lula na Câmara
Um eventual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) partiria de uma base parlamentar própria na Câmara dos Deputados mais frágil que a do atual governo.

É o que indica relatório interno do partido obtido pela Folha, segundo o qual o PT espera fazer no máximo 85 deputados federais na eleição de outubro ainda assim numa estimativa otimista. O mais provável é que a bancada cresça menos, dos atuais 59 para algo entre 72 e 75.

No Senado, a perspectiva de crescimento é maior. O PT espera aumentar a bancada dos atuais oito senadores para até 14.

Apesar da elevação na Câmara, o PT deverá continuar com menos deputados do que têm hoje os principais partidos da base governista. Hoje, o PSDB tem 95 deputados, enquanto o PMDB possui 87. O PFL,que decretou "independência" mas apoiou o governo por mais de sete anos, possui 97 parlamentares na Câmara.

Ampliar a base
Os dados mostram que Lula teria de trabalhar duro para conseguir aprovar no Congresso as reformas que vem prometendo -tributária, previdenciária, política, trabalhista e agrária. Muitas delas exigem quórum qualificado, de três quintos -ou 308 deputados-, por envolverem mudanças constitucionais.

O PT precisará buscar apoios além de sua coligação, tendo de ampliar ainda mais seu arco de alianças. Os partidos que sustentam Lula -além de PT, PL e PC do B -deverão eleger, no máximo, 130 deputados federais.
Somados outros partidos de esquerda e centro -PSB, PDT, PPS e PTB-, a plataforma lulista poderá se aproximar de 200 parlamentares.

Com ainda mais otimismo,os petistas sonham atrair nacos de PMDB e PSDB para formar uma "base flutuante" pró-Lula de até 300 parlamentares. O problema é que quanto mais se amplia o espectro de aliados, mais gelatinosa tende a ser esta base.

O histórico da era Fernando Henrique Cardoso é bastante ilustrativo. Ao ser eleito em 1998, Fernando Henrique Cardoso tinha o apoio nominal na Câmara de quase 400 deputados, em 513.

Na prática, essa frente sempre foi fluida, com parlamentares formando dissidências em razão de seus interesses paroquiais.

O governo acabou perdendo várias votações, principalmente em matérias como reforma previdenciária e administrativa. As reformas tributária e política, que chegaram a ser colocadas como prioridade, não puderam nem ir a votação.

Voto na legenda
Para ajudar a aumentar a bancada, o PT pretende fazer uma campanha institucional durante o horário eleitoral estimulando o voto em sua legenda na eleição para deputados.

"A legenda petista é uma das que têm maior reconhecimento e credibilidade quando o assunto é Congress o Nacional, segundo atestam pesquisas que temos", diz o secretário nacional de Organização do partido, Silvio Pereira.

Segundo o relatório petista, haverá pequenas elevações na bancada federal do partido na maioria dos Estados.
Na Bahia, por exemplo, o partido espera aumentar o número de deputados de 5 para 6. No Rio de Janeiro, poderá crescer de 4 para até 7 federais. Em São Paulo, os atuais 14 poderão chegar a até 16. E no Rio Grande do Sul, "fortaleza" petista, a bancada deverá aumentar dos atuais 9 para 11 deputados federais.

O partido também espera eleger pela primeira vez representantes em Estados como Amazonas, Amapá, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Apenas em um Estado há perspectiva de redução da bancada: Minas Gerais, em que os sete deputados eleitos em 1998 devem ser reduzidos para quatro ou cinco. Esta elevação teria de ser maior, no entanto, para dar a Lula base parlamentar mais sólida.

Em seus discursos e documentos, o presidenciável tem prometido fazer um amplo programa de reformas no país. A primeira seria a tributária, já no primeiro ano de governo.

"Ter maioria na Câmara não garante aprovação dos projetos do governo, como mostrou a base de Fernando Henrique. O importante é ter um presidente que negocie com os partidos em bases éticas, para ampliar seu apoio. É o que Lula se propõe a fazer", disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).


Liberais podem apoiar Aécio em MG
Um dia após o PT nacional intervir em sua seção mineira, obrigando a coligação com o PL em todos os níveis, o PSDB confirmou ontem à Agência Folha que deputados liberais já começaram a abandonar a idéia da aliança.

Quatro deputados do PL-MG, segundo o presidente do PSDB mineiro, deputado federal Danilo de Castro, estão bandeando para o lado do candidato tucano ao governo mineiro, Aécio Neves, líder na pesquisa Datafolha com 38% das intenções de voto, contra 29% de Newton Cardoso (PMDB).

"São deputados, uns quatro", disse Castro, que não quis revelar os nomes, mas afirmou que o PSDB está "tentando conversar com o maior número possível de deputados" liberais. O presidente regional do PL, deputado estadual Agostinho Silveira admitiu que pode estar havendo defecções, mas disse que esses deputados podem ser enquadrados no compromisso de fidelidade assinado nacionalmente pelo PT e PL.
"Se ficar provada qualquer infidelidade por parte de nossos candidatos, a [direção" nacional, junto com o PT, poderá pedir a remoção de qualquer candidatura."

O secretário-geral do PT mineiro, Paulo César Funghi, disse que o PT "tem certeza" de que vai haver defecções entre os liberais. "Estamos de olho nisso. Havendo provas, vamos denunciar."

O PT sempre desconfiou do real comprometimento do PL com a candidatura ao governo do deputado Nilmário Miranda (PT), que tem 4% no Datafolha. O PT até hoje não aceita o fato de o PL ter indicado para vice de Nilmário a ex-vereadora Danuza Bias Fortes, tida como inexpressiva eleitoralmente. Mas se mantém calado.

O clima entre PT e PL é ruim em Minas, apesar de ter sido o Estado que mais incentivou a aliança nacional entre os dois partidos por ser mineiro o senador José Alencar, o liberal indicado para vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No Estado, PT e PL estavam acertados para se coligarem para o governo, Senado e Câmara Federal. O que causou a intervenção foi o fato de o PT não querer a coligação para deputado estadual.


Partido prioriza eleitorado dos "grotões"
A estratégia de campanha presidencial do PT prevê o ataque ao que considera um calcanhar-de-aquiles da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, sua dificuldade em entrar no eleitorado dos "grotões". De acordo com documento de campanha petista, haverá uma política específica para o eleitorado dos municípios com até 20 mil eleitores.

Levantamento do partido indica que há 4.653 municípios brasileiros nessas condições (83,7% do total). Concentram 32.448.054 eleitores, ou 29,6% do total (dados de 2000).

"Mesmo com o aumento significativo das intenções de votos em todos os segmentos, precisamos desenvolver ações específicas para melhorar nosso desempenho eleitoral no segmento com menores intenções de votos [pequenos municípios"", afirma trecho do documento "Campanha dos importantes pequenos municípios", preparado pela Secretaria de Organização do PT.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, o petista registrou sua maior queda nas cidades entre 10 mil e 20 mil eleitores, passando de 43% para 36% das intenções de voto.

O PT aponta o "conservadorismo" dos grotões, onde o acesso à informação seria mais precário, como razão para o desempenho comparativamente ruim de seu candidato.

O plano prevê "utilizar a mídia nacional enfatizando as políticas para os pequenos municípios" e "efetuar pesquisas qualitativas e quantitativas para o segmento".

O PT pretende ainda sanar uma deficiência estrutural, o fato de não ter diretório organizado em nada menos que 2.518 municípios pequenos, que congregam 15% do eleitorado.

Para isso, quer recrutar novas lideranças. O comando lulista reconhece, no entanto, que não haverá tempo suficiente para recuperar nesta eleição todo o terreno perdido.

O partido prevê que 664 municípios muito pequenos, em 16 Estados, não devem ser atingidos pela campanha. "Mas só representam 3% do eleitorado nacional", diz o documento.


Maluf e Alckmin vão gastar mais
Os dois primeiros colocados na última pesquisa Datafolha para a sucessão ao governo do Estado de São Paulo, Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB), têm os maiores limites de gasto para campanha, segundo números apresentados ao TRE.

Paulo Maluf, com 43% das intenções de voto, e Geraldo Alckmin, que possui 23%, estabeleceram um teto de R$ 18 milhões para a campanha deste ano.

O petista José Genoino, com 9%, e Fernando Morais (PMDB), 2%, podem gastar até R$ 10 milhões e R$ 15 milhões, respectivamente.

De acordo com o TRE, a coligação que gastar recurso além do declarado deve pagar multa no valor de cinco a dez vezes a quantia excedente.

A propaganda eleitoral começou oficialmente no dia 6 de julho. A fixação de placas, faixas e cartazes em vias públicas é permitida desde que não atrapalhe o tráfego.

Estão proibidas as inscrições a tinta e a colagem de cartazes em bens públicos ou de uso comum, como postes, viadutos, pontes e passarelas.

Nas árvores e jardins localizados em áreas públicas, também não é permitida a colocação de propaganda.
O TRE disponibilizou um site (www.tre-sp.gov.br) para denúncias de irregularidades.

Números de 1998
Na campanha passada, Paulo Maluf havia estabelecido como teto R$ 10 milhões. Mário Covas (PSDB) tinha o limite de R$ 20 milhões.

O então candidato do PMDB, Orestes Quércia, poderia gastar até R$ 10 milhões, e Marta Suplicy não poderia ultrapassar R$ 4,7 milhões. Os valores não estão atualizados.

A comparação entre os limites previstos nas duas campanhas deve levar em conta ainda as diferentes coligações formadas.


Serra diz que dengue foi sua "frustração pessoal"
Candidato quer baixar juros e fazer governo "para as pessoas"

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, declarou ontem que o combate à dengue foi sua "maior frustração pessoal", enquanto ocupou o cargo de ministro da Saúde (1998-2002). A afirmação foi feita durante entrevista ao "Jornal Nacional". De acordo com Serra, o governo errou no controle da aplicação dos recursos ao combate à dengue destinados aos Estados e municípios. "O nosso erro foi não levarmos a público a questão", afirmou o candidato.

Serra disse também que, caso eleito, criará condições para a redu ção dos juros, sem especificar de que modo pretende fazê-la.

Mais tarde, em entrevista veiculada pela GloboNews, Serra disse que o aumento da entrada de dólares no país, por meio do incremento das exportações, pode levar à redução dos juros. A expansão de setores como turismo e a agricultura, segundo Serra, contribuirá para o crescimento e geração de emprego.

Para o tucano, apesar de a estabilidade ter sido um dos méritos do governo FHC, o próximo presidente deve se preocupar com o crescimento econômico. "Vamos pisar no acelerador", disse.

Serra afirmou também que, caso eleito presidente, deve fazer um governo "para as pessoas". "Quero que as oportunidades no Brasil sejam para todos", disse.

Na avaliação do presidenciável tucano, as turbulências na economia brasileira, como a alta do dólar e a disparada do risco Brasil, são passageiras.

Vítima
O tucano disse que é "tititi" dos adversários a acusação de que estaria por trás de episódios envolvendo espionagem na campanha.

"É uma questão eleitoral. O sujeito fala sem prova", disse o candidato. Serra afirmou já ter sido "vítima" de espionagem. Citou como exemplo o caso do dossiê Caribe -conjunto de papéis cujas principais partes se mostraram falsas sobre suposta conta secreta da cúpula tucana em um paraíso fiscal do Caribe.

O tucano declarou também que não teve participação na indicação de Ricardo Sérgio de Oliveira para a direção do Banco do Brasil.

Ex-arrecadador de recursos para campanhas de Serra, Ricardo Sérgio é acusado de cobrar propina para intervir na participação de fundos de pensão no processo de privatizações.

Ibope
Durante a entrevista com Serra, a audiência do "Jornal Nacional" caiu um ponto, segundo dados preliminares do Ibope. Cada ponto equivale a 47.600 domicílios na Grande São Paulo.

O telejornal tinha mais de 36 pontos de audiência. Baixou para 35 logo que Serra entrou no ar. Até agora foi a menor audiência das entrevistas, das quais já participaram Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). Na entrevista, que durou 10min19s, Serra falou por 8min03s (78% do tempo). Hoje, será a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).


Artigos

Presidente piora sociólogo
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - À medida que seu mandato se aproxima do fim, o presidente Fernando Henrique Cardoso se torna um sociólogo pior.

Sua frase de anteontem sobre a pobreza, pronunciada na Associação Comercial do Rio de Janeiro, é a prova mais contundente. Disse o presidente que a estabilidade (de preços) trazida pelo Plano Real mudou a maneira de ver a pobreza.

"Vivemos como se a desigualdade tivesse sido descoberta agora. O que acontece é que, sem inflação, com mais democracia e liberdade, a desigualdade passou a ser intolerável."

Perdão, presidente, mas o senhor mesmo é a prova viva do contrário. Em 1975, durante a ditadura e durante o período inflacionário (não tão feroz, mas inflação de todo modo), o senhor participou de um livro chamado "São Paulo - Crescimento e Pobreza".

Editado pela igreja comandada por dom Paulo Evaristo Arns, era um grito de alerta sobre a pobreza e a desigualdade em uma São Paulo um pouco mais habitável do que a de hoje, pelo menos para o cidadão comum (para os engajados politicamente, era o inferno, sim).

Portanto achar que o Plano Real provocou a descoberta da pobreza é, definitivamente, esquecer o que o senhor mesmo escreveu.

Sem contar o fato de que os oposicionistas ao regime militar sempre o atacaram não só pela violência institucional que todo arbítrio representa mas também por, suposta ou realmente, fazer aumentar as desigualdades. Portanto não foi preciso redemocratizar o país para descobrir a "intolerável" desigualdade.
O que é de fato "intolerável" é a permanência de níveis obscenos de desigualdade mesmo depois de o senhor ter prometido, no discurso da primeira posse, enfrentá-la como prioridade um.


Colunistas

PAINEL

Socorro político
Motivo não declarado de Itamar Franco para se reaproximar de FHC: a crise financeira de Minas. Itamar precisa da ajuda do governo federal para fechar as contas da sua administração.

Conta bilionária
Com um déficit mensal de R$ 80 mi no caixa de Minas, Itamar reivindica de Pedro Malan (Fazenda) a liberação de alegados créditos financeiros do Estado que somariam R$ 2 bilhões.

Avanço oportuno
A negociação é feita entre a Secretaria de Tesouro Nacional e o secretário de Fazenda de Itamar, José Trópia. Nos últimos dias houve muitos avanços, segundo Itamar, que enfrenta dificuldade todo mês até para quitar a folha de pagamento. Aécio Neves tem dado empurrão na negociação.

Sinal eloquente
Depois de mais de uma semana tentando obter a logomarca de José Serra para divulgá-la na Paraíba, Estado em que o tucano estará amanhã, o candidato do PSDB ao governo, Cássio Cunha Lima concluiu: "Tem alguma coisa errada nessa campanha".

Refazer a conta
O PFL de Goiás, controlado pelo deputado Ronaldo Caiado, ao contrário do que espalham os partidários de Ciro, está, em sua maioria, com Serra, e não com o presidenciável do PPS.

A volta do sotaque
O filósofo Mangabeira Unger voltará dos Estados Unidos na próxima semana, a fim de assumir a coordenação do plano de governo de Ciro Gomes.

Condições de palanque
Roseana Sarney disse a Ciro que quer apoiá-lo na eleição presidencial. Mas, para isso, o presidenciável precisa convencer Jackson Lago (PDT), candidato ao governo do MA pela Frente Trabalhista, a não atacá-la mais na campanha.

Sem compromisso
Se Lago não parar de atacá-la, Roseana ficará neutra na sucessão. O irmão Sarney Filho defende o apoio a José Serra.

Manter a influência
O candidato de Itanor Carneiro à sua sucessão no comando da Polícia Federal é o delegado Armando de Assis Possa, diretor de Polícia Judiciária e segundo homem na hierarquia da PF.

Sete vidas
Maluf perdeu o tempo de TV do PFL-SP, mas não desistiu dos pefelistas. Tem procurado parlamentares da sigla tentando convencê-los a declarar apoio a ele na eleição, e não a Alckmin.

Promessa aliancista
Alckmin (PSDB) deve reunir-se hoje com a bancada do PFL paulista. Dirá que os pefelistas terão na campanha o mesmo tratamento dado aos tucanos.

Duas verdades
Genoino diz que nem ele nem o PT estão preocupados com seu baixo índice no Datafolha (9%). E que, historicamente, os petistas aparecem com índice semelhante nas eleições ao governo de SP. Pequeno detalhe: nenhum venceu a disputa.

Campanha aderente
Adesivos em circulação em Alagoas, terra de Fernando Collor: "Não melle o seu voto".

Risca de giz
Miguel Reale Júnior não suporta a versão de que é aliado de Serra e que teria sido indicado ao Ministério da Justiça pelo presidenciável. Os dois estão estremecidos há um bom tempo.

Fio do bigode
Reale, segundo suplente de Serra no Senado, alega que o tucano não cumpriu a promessa de permitir que ele assumisse o cargo em metade do mandato. Pedro Piva, primeiro suplente, ficou todo o tempo no cargo.

Visita à Folha
Paulo Rabello de Castro, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA) e vice-presidente do Instituto Atlântico (RJ), visitou ontem a Folha, a convite, onde foi recebido em almoço.

TIROTEIO

De Damásio de Jesus, professor de direito penal, sobre a não intervenção no ES:
- Reale Júnior fazia um ótimo trabalho. No entanto, nem tudo que é juridicamente correto é politicamente correto.

CONTRAPONTO

Otimismo à distância
José Alencar (PL) concedia entrevista coletiva à imprensa, na última sexta-feira em seu escritório na empresa Coteminas , quando Lula (PT) telefonou.
O senador falava aos repórteres sobre a crise na aliança PT-PL em Minas. Resolveu atender ao telefonema na frente dos jornalistas. Após trocar amenidades com o líder do PT, explicou:
- Lula, foi até bom você ter ligado. Estou dizendo aqui para um grupo de jornalistas que a aliança está indo muito bem, que cada partido registrou sua chapa conforme o combinado.
Logo depois, o empresário desligou o aparelho. Uma jornalista quis saber:
- E então, o Lula disse que o senhor é um grande otimista?
Alencar revelou, entre risadas:
- Não. Disse que eu só estava falando aquilo porque estava na frente de vocês...
Anteontem, o PT fez intervenção branca em Minas.


Editorial

TELESQUELETOS?

Preocupa a afirmação do ministro das Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, a esta Folha. No momento em que o modelo de competição do setor sofre questionamentos na Justiça, o ministro admite que o conjunto de regras em que esse modelo foi assentado pode conter fragilidades. Em questão: bilhões de dólares em investimentos feitos por empresas que esperavam contar com um ambiente regulatório definido.

A "tribunalização" da disputa entre concessionárias de serviço de telecomunicações está em evidência. A Embratel obteve liminar que impede a Telefonica (controladora da telefonia fixa paulista) de atuar no mercado de interurbanos para todo o território nacional. Pelas regras estabelecidas em 98, a liberdade de atuação nesse mercado seria um bônus para a empresa que antecipasse suas metas de universalização de dezembro de 2003 para dezembro de 2001. Pensando em desfrutar desse prêmio, empresas investiram mais do que estavam contratualmente obrigadas no período 1998-2001. Mas a Justiça, provocada por uma empresa interessada, bloqueou esse passo.

Não é preciso ser especialista para divisar o efeito, nefasto para o país, que esse tipo de notícia provoca em quem pensa em investir no Brasil. E nem se culpe diretamente a Justiça por isso. O fato de a questão regulatória nas telecomunicações ter chegado às barras dos tribunais é apenas um sintoma de uma derrota importante do modelo que o governo federal se propôs a implantar no setor.

Estratégias empresariais malsucedidas e uma crise mundial no setor contribuíram para o refluxo das expectativas acerca do mercado brasileiro de telecomunicações. Mas o mais lamentável foi a insegurança regulatória que se criou por aqui, refletida na não-afirmação do poder da Anatel, o que, por sua vez, adveio seja de suas próprias idiossincrasias, seja de atitudes do Executivo que minaram a autonomia da agência.
É urgente que o poder público retome as rédeas do processo e reverta a tendência de mudança furtiva, caótica e, no limite, paralisadora que o setor vem sofrendo no dia-a-dia.


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07/11/2002


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