Empresas ganham espaço nas COPs e contribuem para soluções



A economista Marina Grossi,presidente-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), assistiu nas duas últimas décadas a uma reviravolta na participação do setor privado frente às decisões dos governos sobre sustentabilidade e mudanças climáticas. De reativo o empresariado passou a proativo, atuando juntamente com os negociadores e o terceiro setor em busca das soluções que, em grande parte, serão adotadas pelo próprio setor privado. Na entrevista a seguir, Marina Grossi fala sobre a importância desse novo cenário.

Para as empresas, que tipo de oportunidade surge em uma conferência da relevância da COP 17?
Durante a Rio-92, quando foram elaborados os documentos que até hoje norteiam as discussões multilaterais sobre desenvolvimento sustentável e que acabou por balizar todas as demais conferências posteriores, como as COPs, a representação empresarial tinha apenas um delegado, o empresário suíço Stephan Schmidheiny, que fundou o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), organização que o CEBDS faz parte. Atualmente e na COP-17, esse número não só é imensamente maior, como vários espaços e eventos paralelos são reservados para os representantes das empresas. Se antes o setor privado era reativo ao que era acordado pelas nações, hoje ele se posiciona de forma proativa tanto nas negociações, quanto para suas conclusões e aplicações, antecipando-se às mudanças e adotando previamente e de forma voluntária estratégias de sustentabilidade, antes de se tornarem obrigatórias como ocorreu, por exemplo, com o GHG Protocol. Muitos países, inclusive, têm consultado seu empresariado para se posicionar nos encontros. No entanto, ainda é preciso trabalhar para aproximar e tornar mais fluido o diálogo entre o universo governamental e o setor privado. O WBCSD iniciou uma parceria com a UNFCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) que busca gerar uma confluência entre as linguagens do setor privado e governamental.

Qual a contribuição direta do setor privado brasileiro na redução das emissões de gases de efeito estufa?
Uma realidade que a sociedade deve entender é que quando um Estado se compromete a reduzir suas emissões, essa redução terá de ser feita, em grande parte, ou quase totalidade, pelo setor empresarial. São as empresas que, voluntariamente ou respondendo a leis ou compromissos do poder público, irão, de fato, reestruturar seus processos, repensar sua eficiência, reduzir seu desperdício etc. No caso brasileiro, essa contribuição acaba sendo proporcionalmente menor dada que a contribuição percentual da indústria na emissão de GEEs ainda é menor que a do desmatamento. Mas a parcela de emissões da indústria ainda é bastante significativa. Em 2005, por exemplo, o setor correspondia a 10% da emissão de CO2.No que tange às metas de redução voluntárias apresentadas pelo governo brasileiro durante a COP 15, o empresariado participa ativamente de conversações com o Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e Ministério da Fazenda sobre a atuação do setor empresarial em favor dessas metas. Mais do que a meta em si, uma preocupação essencial do setor empresarial é a necessidade de especificação de metas relativas, e não absolutas, de redução de gases de efeito estufa. Nesse sentido, o setor empresarial tem agido de forma proativa com relação ao governo, sugerindo, inclusive, estratégias para tornar todo o processo mais efetivo e eficiente.

Você poderia citar alguns exemplos dessas ações?
Começaria com a participação cada vez maior do empresariado no Protocolo GHG, a mais eficaz metodologia de inventário de emissões. Em 2008, a iniciativa contava com a participação de apenas 23 empresas brasileiras, número que chegou a 77 em 2010, que representam, somadas, mais de 20% das emissões brasileiras (excluindo o desflorestamento) -, a despeito do caráter voluntário da redução das emissões brasileiras e, principalmente, da ausência de qualquer legislação que as obrigasse a tal. O mesmo pode ser falado também sobre a participação brasileira em relatórios de sustentabilidade com a metodologia GRI. Das quase 2.000 empresas ao redor do mundo que se utilizaram dos modelos GRI em 2010, 135 eram brasileiras. O Brasil também foi o país que experimentou o maior crescimento (68%) de empresas que aderiram a esse relatório, se comparado ao ano de 2009, de acordo com dados da própria organização. Outro exemplo são os projetos de MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo) que foram desenvolvidos, em grande parte pelo setor empresarial, e implicam atividade direta de aplicação de tecnologia e ações para redução de emissões nas empresas. O Brasil é o terceiro país em número de projetos de MDL no mundo, já tendo reduzido mais de 400 milhões de toneladas de CO2 (5% do total mundial). Do total, a contribuição empresarial é de cerca de 60%, majoritariamente em energia renovável, mas também em eficiência energética e processos industriais.

Quais as principais expectativas do setor privado brasileiro sobre a COP 17?
Na COP 17 na África do Sul os maiores ganhos esperados virão de temas como o acordo final do Fundo Climático Verde, maior transparência e padronização dos MRV (Mensurable, Reportable and Verificable), ou mesmo da apresentação dos NAMAs (Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas). E são nesses tópicos que o Brasil pode e deve fazer a diferença, protagonizando em seu usual papel de "ponte" entre europeus, EUA, BASIC e G77.

A crise financeira mundial poderá servir de justificativa para os países desenvolvidos rejeitarem acordos que supostamente comprometam a recuperação das suas economias?
Sim, menos do ponto-de-vista de um acordo de metas de redução pós-2012, que já tem outros motivos anteriores que não a atual crise para não ser concretizado, mas principalmente no que tange ao Fundo Climático Verde. No que diz respeito à forma como esse fundo será constituído - por taxação de transações marítimas, imposto de grandes fortunas, doação voluntária entre outras -, pode ser vetado justamente pelo desequilíbrio das contas de um grande número de países desenvolvidos, além dos altos índices de desemprego e da aparente lenta recuperação econômica mundial. Os países europeus, contudo, já sinalizaram seu apoio à constituição do fundo, apontando para uma grande possibilidade de concretização do acordo.

Na sua opinião, quais as chances de o encontro em Durban avançar para o segundo período do Protocolo de Kyoto?
É difícil mensurar agora. As expectativas não são as melhores, mas há sempre uma possibilidade de surpresas. Mesmo em Copenhague, quando tudo parecia acabar em acordo nenhum, desenhou-se os primórdios do Fundo Climático. Mais impressionante ainda foi o posicionamento brasileiro na própria COP-15 que passou de negativas veementes para qualquer meta de redução compulsória para países não-Anexo I (formado por países em desenvolvimento), para uma meta voluntária de redução bastante ambiciosa, o que motivou, inclusive, respostas no mesmo sentido da China e da Índia. Nesta COP, os NAMAs apresentam mais uma possibilidade de liderança para o Brasil: sendo um país não-Anexo I com metas de redução voluntárias ambiciosas, acaba por influenciar os demais países a apresentar suas propostas de redução, a despeito de serem ou não Anexo I.

Como será a participação do CEBDS na COP 17?
A preparação para a COP 17 durante todo o ano que passou e seus resultados posteriores, já em preparação para a COP 18, são momentos não só adequados, mas essenciais para que haja tal aproximação. A possibilidade de contato com representantes públicos ou privados de todo o mundo, o acompanhamento das negociações in loco e o espaço para divulgar suas ações em sustentabilidade são ocasiões excepcionais e deveriam ser chamariz a todo o empresariado brasileiro, que tem aumentado sua participação ao longo dos anos. É importante que o setor empresarial esteja presente na África do Sul, durante a COP-17, por isso o CEBDS organiza eventos paralelos, para garantir a participação e o envolvimento das empresas. Na COP-17 estaremos organizando o evento “As Vantagens Comparativas das Companhias Brasileiras Rumo a uma Economia de Baixo Carbono” (The comparative advantages of Brazilian companies towards a low carbon economy) e através da coalizão Iniciativas Empresariais em Clima estaremos promovendo o evento “Iniciativas Empresarias na Gestão de Carbono no Brasil”(Business Initiatives For Carbon Management in Brazil).

 



28/11/2011 10:14


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