Engenheiro da Petrobras diz que desestruturação da empresa pode ter causado acidente



A desestruturação do antigo sistema Petrobras por meio de sua divisão em 40 unidades de negócios e a excessiva terceirização do corpo técnico foram apontadas pelo presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, como as possíveis responsáveis pelo acidente com a plataforma P-36, ocorrido em 15 de março e que matou 11 empregados.

- Por que a Petrobras, que ganhou em 1992 o prêmio máximo do setor por sua competência tecnológica, está passando por sucessivos desastres ? - indagou o engenheiro ao levantar várias possibilidades para o acidente.

Segundo Siqueira, acidentes como o ocorrido com a P-36, apesar de resultarem da conjugação de vários fatores, estão vinculados à aplicação da Lei do Petróleo (aprovada em 1997), considerada por ele como inconstitucional. O representante dos engenheiros acredita que as mudanças da lei estão produzindo a desestruturação da empresa, em um esquema calculado pelo governo, no sentido de privatizar todo o sistema Petrobras.

Ele criticou o fato de a empresa estar sendo objeto de mudanças radicais, como o corte de pessoal (de cerca de 60 mil para 34 mil funcionários); a contratação de funcionários terceirizados (somente na Bacia de Campos há 30 mil nessa condição para seis mil empregados da empresa); a contratação de terceirizados vindos do exterior e sem o devido treinamento; a acentuada rotatividade de pessoal; a existência de uma pressão constante para que os funcionários elevem a produtividade e o desmonte de diversos setores com a conseqüente pulverização dos técnicos, entre outros. Esses pontos, considerou, podem reforçar os riscos de acidentes.

Para o engenheiro, a busca ansiosa pelo crescimento da produção aliada a uma política de "cooptação dos gerentes" e de salários muito diferenciados também provocam o sucateamento das operações. Ele contou que, caso um gerente discorde da posição da diretoria, pode perder a função e com isso ter o salário reduzido em três quartos (de R$ 20 mil para R$ 5 mil).

- O nível de cooptação é muito grande e a política salarial praticada por essa direção é predatória. Administrativamente isso é um perigo, pois proliferam os empregados que não contestam nenhuma ordem, mesmo que tecnicamente questionáveis. O clima organizacional está péssimo, a insegurança é gritante - denunciou o engenheiro.

Especificamente sobre o acidente, Fernando Siqueira também protestou contra a tentativa da diretoria da empresa ao tentar imputar a culpa pelo acidente a falhas de escalões inferiores sem que nenhum laudo tivesse sido concluído.

27/03/2001

Agência Senado


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