Entrevista do governador Mário Covas antes da entrevista concedida à Rádio Bandeirantes AM
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Tropa de Choque Repórter: Governador, o sr. chegou a ver as imagens, o que o sr. achou da ação da tropa de choque? Covas: A tropa de choque de São Paulo tem operado com extremo critério ao longo do tempo. Estou há cinco anos no governo. Nós já tivemos episódios muito difíceis. Decisões da Justiça para reintegração de posse, às vezes de duas mil famílias. Problemas recentemente como do Movimento Sem-Terra, que invadiu o prédio da Fazenda, sem que tenha havido vítimas. A polícia tem tido critérios para atuar, como teve ontem. Repórter: O senhor acha que não houve exageros ontem? Covas: Não. Não houve exageros, não. É evidente que se você pedir para as pessoas saírem da rua: “Você quer fazer o favor de sair da rua”? Ninguém sai. Até porque pediram antes. Depois, o que a gente sabe é o que combinaram com a secretaria: de que ocupariam apenas uma via da Paulista. Não devia nem ocupar nenhuma. Repórter: Então por que foi autorizada a manifestação naquele local? Covas: Ela não foi autorizada naquele local. Ela foi feita naquele local. Repórter: Mas houve um acordo. O secretário disse que houve até um acordo. Porque, por exemplo, se não fosse autorizado, bastava a CET fechar, não deixar os caminhões chegarem lá e não seria feito. Covas: Mas escuta, você tem uma relação de lugares na cidade onde é permitido fazer. Repórter: Não se deveria entrar com uma ação para proibir a entrada dos caminhões... Covas: Sei. Fazer a briga nas esquinas, né? Porque a briga sairia do mesmo jeito. Ou você acha que aquele pessoal que foi lá, não a maioria, mas o pessoal que foi lá para fazer política? Você acha que aquele pessoal foi para lá com outra razão que não fosse para arrumar encrenca com a polícia? Repórter: O sr. acha que alguém vai preparado para isto? Covas: Não. Tinha mais de um grupo. Tinha grupos partidários, inclusive fazendo isto. Eu sou muito cuidadoso nesta colocação de que o problema é político. Todo problema é político. A própria reivindicação salarial é política, mas não é condenável. Repórter: Mas, governador, uma ação como aquela, o sr. não acha que é perigosa, quer dizer, poderia ter acontecido uma tragédia. As pessoas estavam num lugar autorizado, pelo menos dizem. Covas: Não estava nada autorizado. Repórter: O secretário disse que havia autorizado o uso de uma pista. Covas: Mas não ficaram na pista. Repórter: Mas as bombas eram jogadas inclusive naquela pista que estava sendo ocupada. Não é perigoso isso? Covas: Espera aí. Não vamos jogar isso nas costas da polícia, não. Isso é muito fácil. O que vocês querem que eu faça? Que deixe fazer lá? Porque eu cansei de ler editorial de todos os jornais dizendo que lá tinha 12 hospitais. Quem vê o filme daqui vê as ambulâncias paradas sem poder passar. Tem lugar, tanto tem que eles foram terminar na praça em frente ao Caetano de Campos na Praça da República, onde é um lugar permitido. Me telefonaram, ora vão para um lugar onde pode. Se quiserem o Parque Villa Lobos, cabem 100 mil pessoas lá. Falar mal de mim pode falar à vontade, ninguém vai ser punido por isso. Agora, não dá para fechar a passagem. Parou a cidade inteira. Repórter: Mas na verdade o que aconteceu ali, eu estava lá, eles tentaram desobstruir um tanto durante a pancadaria ficou desobstruída (...) aparentemente a ação não adiantou nada. Covas: Desobstruíram sim. Todo mundo viu o carro passando, o caminhão passando lá. É que não desobstruíram mais depressa e não houve pancadaria não. O que a polícia fez o tempo todo foi jogar bomba de gás, usar o pimentinha. Repórter: Bombas de efeito moral também. Covas: De efeito moral. É feita para isso mesmo. Repórter: Não é perigoso? Covas: O perigoso é você fazer de uma cidade uma propriedade sua. Olha, a polícia é feita para fazer cumprir a lei. Não se está pedindo ao pessoal que não faça a manifestação. Está até se indicando um lugar dentro da cidade onde, não atrapalhando o trânsito, pode ser feita. Por que querer fazer na Paulista? É porque na realidade é mais importante impedir o trânsito do que fazer a manifestação? A manifestação em si é perfeitamente legítima, pode fazer onde quiser. Repórter: O senhor disse agora pouco que assume a ação da tropa de choque, é isso? Covas: É, sim senhor. E se acontecer de novo vai acontecer de novo. Repórter: O senhor acompanhou as imagens. Elas são chocantes, a violência é muito grande. Covas: De quem? Repórter: Tanto da tropa de choque... O confronto foi com imagens chocantes. Covas: Mas é muito natural. Quando você recebe um policial o que você faz? Você confronta com ele ou atende o que ele determinou? Se você não atende o que ele determinou estabelece-se o confronto. O que não se justifica é você fazer a violência contra a polícia. Repórter: O sr. acha que a violência utilizada do lado da polícia é justificável? Covas: Não, mas a polícia não cometeu nenhum tipo de violência que excedesse os limites. Olha eu ontem vi na televisão, durante à noite, acontecimentos como este que aconteceu em São Paulo, em três países no mundo. Nos países mais desenvolvidos, nos três a ação da polícia era igual à daqui. Reivindicações Repórter: E as reivindicações dos funcionários públicos, o sr. acha que é possível atender? Covas: Nos termos que elas foram feitas de jeito nenhum. Porque elas somam R$ 4,9 bilhões que é a receita só para pagar a diferença do que está sendo pedido, que é aquilo que corresponde a arrecadação do ICMS em três meses. Então durante três meses deveria ser feita a arrecadação do ICMS só para pagar a diferença do que está sendo pedido, não é para pagar o salário todo, é só para pagar o aumento. Repórter: A negociação então esperada por eles por parte do governo não vai sair? Covas: Ela pode até sair como negociação. Você pode dizer “não” e estar fazendo uma negociação. A verdade é que as margens colocadas são tão acima de propósito, sobretudo porque todos eles já receberam durante esses cinco anos, mais aumento de salário real acima da inflação. Todos eles. Repórter: Por que eles dizem que há cinco anos não recebem? Covas: Porque mentem. Porque eu te dou os números das leis pelas quais estes aumentos foram dados. Repórter: Então a reivindicação de reajuste não é justa? Covas: Não, reivindicação de reajuste é sempre justa. O que não é justo é dizer que não recebem há cinco anos. Porque não é verdade. Acabei de ler lá em cima os números das leis. Tanto na Saúde quanto na Educação. Pega o metrô. O metrô já teve 25% de aumento real em cinco anos. Salário médio do metrô hoje é R$ 1.800,00 e estão lá querendo fazer greve de novo. Não dá para fazer assim. A não ser que o povo de São Paulo me diga: “Não, pode dar que nós garantimos. Nós pagamos mais imposto”, aí tudo bem. Mas eu não pego o meu dinheiro, eu pego o dinheiro do povo. Ou o povo está disposto a pagar mais e na minha opinião não está, ou então eu não posso atender uma reivindicação deste tipo, nem vou atender. Maluf Repórter: Paulo Maluf está lançando a candidatura dele agora de manhã. O que o sr. acha disto? Covas: É o fim da picada. É um desastre para São Paulo mais uma vez. É uma pena depois de tudo que aconteceu, faz você pensar no país em que você vive. Em tudo que aconteceu, em tudo o que já se provou, de tudo que já se disse, esse cara ainda esteja discutindo e a gente dando importância ao fato de ele ser candidato ou não ser candidato. Repórter: Ele está em terceiro lugar nas pesquisas, o sr. acredita que ele possa chegar em primeiro lugar e vencer a eleição? Covas: Eu acho que ele nem vai ser candidato. Essa é uma opinião pessoal. Ele não vai ser candidato por uma razão muito simples: não é a derrota que acerta o Maluf. Ele perdeu seis eleições para ganhar uma. De forma que não é a derrota. Mas, se ele perder para uma das duas senhoras, ele vai se sentir muito pouco à vontade. Repórter: Por quê? Covas: Por várias razões. Primeiro porque ele fixou a tese do invencível e, em segundo lugar, porque numa discussão eleitoral quando se disputa com uma mulher, o problema é complicado. Mulher briga com você como se ela fosse homem mas quer que você briga com ela como se ela fosse mulher. Então, você leva uma desvantagem danada e ele sabe disso. E para ele perder essa eleição e perder nessas condições vai ser uma coisa que ele não vai aturar. Repórter: O sr. acha que ele tem chance de ganhar? Covas: Não. Não acho que ele tenha chances de ganhar mas de repente, ué? O que que a gente vai fazer? Já ganhou05/19/2000
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