Esforço concentrado e inútil









Esforço concentrado e inútil
Oposição acusa governo, que responsabiliza a oposição, e nada é votado na Câmara

BRASÍLIA - O esforço concentrado do Congresso não produziu resultados. Mesmo com quorum suficiente para deliberações, a Câmara dos Deputados não conseguiu superar o impasse em torno da medida provisória que trata do parcelamento de dívidas federais e está com prazo de tramitação vencido. Resultado: a pauta permanecerá trancada, conforme determina a nova regulamentação das MPs, por mais seis semanas, no mínimo. Isso porque só haverá sessão deliberativa após o primeiro turno da eleição.

O impasse era mais que previsível. Todos sabiam que as divergências não seriam superadas, porque não interessa nem ao governo nem à oposição destrancar a pauta. ''Isso aqui é uma farsa, um pacto da mediocridade muito bem ensaiado: o governo finge que quer votar e os parlamentares fingem que têm divergências'', afirmou o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP).

O governo não quer destrancar a pauta antes da eleição porque teme a votação de emendas e projetos caça-votos. Uma possível aprovação dessas matérias poderia aumentar a instabilidade, já que eles aumentam as despesas ou diminuem as receitas públicas, comprometendo o ajuste fiscal com que o governo se comprometeu junto ao FMI.

A oposição, por sua vez, teme que os candidatos governistas capitalizem na campanha eleitoral a aprovação de projetos com apelo popular. ''O PFL não vota esse projeto da cumulatividade do PIS, que vai aumentar a carga tributária e só beneficia as indústrias de São Paulo e o Serra, prejudicando os outros setores da economia'', afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE). Ele disse que a pressa do governo, que pode baixar uma MP para acabar com a cumulatividade do PIS, tem o objetivo de dar ao candidato tucano José Serra o crédito pelo início da reforma tributária.

Ao mesmo tempo em que não querem votar, os parlamentares tentar empurrar o ônus da paralisia do Congresso para os adversários. A oposição afirma que não houve empenho do presidente da Câmara Aécio Neves (PSDB-MG) e do governo para solucionar o impasse.

O governo diz que a oposição é que impede a votação com recursos regimentais. A oposição responde que não tem maioria no Congresso para evitar as votações. O governo replica que ela tem dificuldades para votar matérias que se choquem com interesses corporativos do funcionalismo público em período pré-eleitoral. E por aí vai.

O ritmo do Congresso só foi acelerado ontem para votar um projeto de resolução do Senado que facilita a rolagem das dívidas de Alagoas com a União. Uma articulação dos senadores que apóiam a reeleição do governador Ronaldo Lessa (PSB) permitiu que o projeto apresentado ontem à tarde fosse votado na Comissão de Assuntos Econômicos três horas depois. Ainda falta a votação em plenário.


Sensus confirma tendências
BRASÍLIA - A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem confirma a tendência de queda do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, e o crescimento da candidatura de José Serra (PSDB). De acordo com o Sensus, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, tem 34% das intenções de voto, Ciro tem 25,5%, Serra, 14,7% e o candidato do PSB, Anthony Garotinho, 10,4%. Os eleitores indecisos e os que pensam votar em branco ou nulo somam 14,4%. A margem de erro da pesquisa é de 3%.

Nos confrontos de segundo turno, Ciro aparece com 44,7% contra 43,3% de Lula. Mas o petista venceria Serra (49,2% contra 36,3%) e Garotinho (51,5% contra 33%).

Apesar de confirmar a tendência apresentada pelo Ibope e Vox Populi, as variações de Serra e Ciro na pesquisa Sensus não foram tão bruscas quanto as apresentadas pelos outros institutos. Ciro caiu de 28,6% para 25,5% e Serra subiu de 13,4% para 14,7%. Pela Vox Populi, Ciro passou de 32% para 25% e Serra, de 10% para 15%. Já no Ibope, sai de 26% para 21% e Serra cresce de 11% para 17%.

''Não sou especialista em metodologia, mas as variações nas pesquisas têm a ver com as suas amostras e abrangências'', explicou o analista político Paulo Kramer. Ele reconhece que os números vão dar combustível para discussões. ''Os resultados das pesquisas Ibope e Vox geraram luta interna na campanha de Ciro''.

O cientista político David Fleischer afirma que, neste momento da campanha, a volatilidade das pesquisas é muito grande. ''Levantamentos feitos com três ou quatro, dias de diferença podem trazer mudanças substanciais'', garante Fleischer. Mesmo assim, ele ressalta a importância das pesquisas de intenção de voto. ''Nesse momento, elas são o único instrumento para se medir a temperatura da campanha''.

O analista Murilo Aragão afirmou que as variações, principalmente em relação à queda de Ciro, eram esperadas. ''Ele passou a encontrar resistências, principalmente entre os formadores de opinião e precisa enfrentar esses obstáculos''.

O vice na chapa de Ciro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também disse que a queda de Ciro era prevista, depois dos ataques que sofreu. Já o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) não esconde sua opinião: os resultados das pesquisas mostram a necessidade de mudanças na campanha.


Sensus confirma tendências
BRASÍLIA - A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem confirma a tendência de queda do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, e o crescimento da candidatura de José Serra (PSDB). De acordo com o Sensus, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, tem 34% das intenções de voto, Ciro tem 25,5%, Serra, 14,7% e o candidato do PSB, Anthony Garotinho, 10,4%. Os eleitores indecisos e os que pensam votar em branco ou nulo somam 14,4%. A margem de erro da pesquisa é de 3%.

Nos confrontos de segundo turno, Ciro aparece com 44,7% contra 43,3% de Lula. Mas o petista venceria Serra (49,2% contra 36,3%) e Garotinho (51,5% contra 33%).

Apesar de confirmar a tendência apresentada pelo Ibope e Vox Populi, as variações de Serra e Ciro na pesquisa Sensus não foram tão bruscas quanto as apresentadas pelos outros institutos. Ciro caiu de 28,6% para 25,5% e Serra subiu de 13,4% para 14,7%. Pela Vox Populi, Ciro passou de 32% para 25% e Serra, de 10% para 15%. Já no Ibope, sai de 26% para 21% e Serra cresce de 11% para 17%.

''Não sou especialista em metodologia, mas as variações nas pesquisas têm a ver com as suas amostras e abrangências'', explicou o analista político Paulo Kramer. Ele reconhece que os números vão dar combustível para discussões. ''Os resultados das pesquisas Ibope e Vox geraram luta interna na campanha de Ciro''.

O cientista político David Fleischer afirma que, neste momento da campanha, a volatilidade das pesquisas é muito grande. ''Levantamentos feitos com três ou quatro, dias de diferença podem trazer mudanças substanciais'', garante Fleischer. Mesmo assim, ele ressalta a importância das pesquisas de intenção de voto. ''Nesse momento, elas são o único instrumento para se medir a temperatura da campanha''.

O analista Murilo Aragão afirmou que as variações, principalmente em relação à queda de Ciro, eram esperadas. ''Ele passou a encontrar resistências, principalmente entre os formadores de opinião e precisa enfrentar esses obstáculos''.

O vice na chapa de Ciro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também disse que a queda de Ciro era prevista, depois dos ataques que sofreu. Já o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) não esconde sua opinião: os resultados das pesquisas mostram a necessidade de mudanças na campanha.


Frente desdenha Ibope
Líderes minimizam resultado, após a divulgação da pesquisa CBT/Sensus

BRASÍLIA - Integrantes da Frente Trabalhista passaram o dia ontem minimizando o resultado da pesquisa Ibope, que apo ntou queda nas números de Ciro Gomes e crescimento nos do tucano José Serra. O desdém começou logo que foi divulgada a pesquisa CBT/Sensus, com uma diferença de 10,8% entre os dois candidatos.

''É preciso que esse instituto ( o Ibope) tenha cuidado ou perderá sua credibilidade'', advertiu o vice na chapa da Frente, Paulo Pereira da Silva. O deputado Emerson Kapaz também criticou a pesquisa Ibope. Segundo ele, os números estão ''um pouco exagerados''.

Em estúdio ontem, Ciro, Paulinho e Patrícia Pillar gravaram os próximos programas eleitorais. A resposta à Serra não virá em forma de acusações diretas.

Paulinho apresentará uma série de programas sobre emprego. No principal deles fará uma ironia com o programa de emprego ''Segunda-feira'' de José Serra. A equipe de Ciro irá para a rua filmar o desemprego e a miséria de uma segunda-feira de cerca de 7,5% da população ativa do país.

''Vamos mostrar para o eleitor como é o início de semana daqui de baixo, sem Elba Ramalho, Chitãozinho e Xororó'', afirma Paulinho. ''Não é tão fácil e bonito como na televisão''. Na campanha de reeleição de Fernando Henrique, Paulinho também defendeu o programa de empregos nos programas de TV. ''Acreditei em FH'', reconhece Paulinho.

O ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) aconselhou Ciro Gomes a aperfeiçoar a imagem do programa. ''Precisamos melhorar o cenário e colocar mais vezes a Patrícia Pillar para pedir votos'', afirmou. O papel da mulher de Ciro será mais amplo. Terá a missão de acabar com a imagem ''satanizada'' do candidato.
Quando Serra atacar o temperamento e a honestidade de Ciro, Patrícia aparecerá dizendo como é, de verdade, a personalidade marido.

Nos intervalos da gravação, na sede da Força Sindical em São Paulo, Ciro reuniu-se com o coordenador da campanha, deputado Walfrido Mares Guia e o senador Geraldo Althoff (SC), responsável pela ponte do PFL com o candidato da Frente Trabalhista. Althoff cancelou a viagem para Tocantins, onde tentaria conseguir votos da família Siqueira Campos, para um dia de reuniões. No fim do dia, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, esteve com Althoff e Walfrido.

Bornhausen telefonou ontem para Antonio Carlos Magalhães. O político baiano reiterou a necessidade de bater no governo Fernando Henrique e no ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio, caixa de campanha de Serra e envolvido em denúncias de irregularidades. ''A resposta tem que vir com urgência. Temos de trazer os problemas do governo e as denúncias envolvendo Serra'', diz o ex-senador.


Niemeyer recebe Ciro
Arquiteto reúne artistas em torno do candidato

O candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, disse ontem à noite, durante encontro com artistas e empresários no escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, em Copacabana, que, ''no Brasil de hoje, versões se produzem com o despudor que já passou do limite do razoável'' - uma referência às críticas de seus adversários, em especial do presidenciável tucano José Serra.

''As últimas versões tentam rasgar uma vida inteira, de uma pessoa como eu, que tenho uma militância de vinte anos na vida política brasileira'', destacou o trabalhista, para 50 convidados de Niemeyer, como o ator Marco Nanini, a diretora de teatro Adriana Falcão e o cantor Fagner. Em outra referência às críticas de Serra, o candidato do PPS disse ainda que ''confia na inteligência do povo brasileiro, que será capaz de, por detrás da deseducação política'', descobrir quem pode ser o melhor candidato.

Ciro chegou acompanhado da mulher, Patrícia Pillar, e o humorista Renato Aragão. Fez elogios ao anfitrião e apresentou um currículo, destacando seu comportamento ético. Niemeyer devolveu os elogios descrevendo Ciro como alguém que ''tem altivez e coragem de dizer as coisas e combater tudo o que ofende a nossa soberania''. Patrícia, que deve estar hoje no programa do PPS, afirmou que Ciro é ''uma pessoa que nem a gente. Não é um político frio'', explicando que o marido é uma pessoa indignada com as desigualdades do país.

Questionado sobre as últimas pesquisas de intenção de voto, cujo resultado indicam queda de Ciro, Leonel Brizola, candidato ao Senado pela Frente, disse que ''as pesquisas estão cartelizadas''. Segundo ele, ''já começou a se preparar o temporal da fraude''. Depois do discurso, Ciro Gomes recebeu das mãos dos coordenadores da Ação da Cidadania, contra a Miséria e pela Vida, o projeto Brasil sem fome, que pretende destinar, em um ano, uma cota única de feijão para os 50 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza. O candidato disse que, ainda ontem, iria ler o programa.


Garotinho promete mais casas
SÃO PAULO - O presidenciável Anthony Garotinho (PSB) reuniu-se ontem com representantes do Movimento dos Sem-Terra Urbanos (MSTU), em Itaquaquecetuba (SP), e anunciou que, se eleito, pretende criar o Fundo Nacional de Habitação, para promover um amplo programa de construção de casas populares em todo o País. O candidato citou sua experiência como governador. ''No Rio, construí mais casas populares do que as três gestões anteriores à minha. Agora, quero fazer o mesmo no nível federal'', disse o candidato, que planeja erguer 500 mil casas populares por ano.

Garotinho disse que direcionará para esse fundo um terço do volume anual de depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que totalizam cerca de R$ 18 bilhões. Com isso, só do FGTS, R$ 6 bilhões serão destinados ao financiamento de casas populares, que também contariam com outros recursos do governo.

O candidato voltou a criticar o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao dizer que ''estranha'' o apoio dado ao petista pelo ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP). ''Vejam só o Lula, que sempre chamou Sarney de grileiro, apertando a mão dele, como está nos jornais. Não sei quem mudou. Será que o Sarney devolveu as terras ou é o Lula que, agora, está convivendo com um grileiro?'', questionou, sendo aplaudido.
Garotinho disse, mais uma vez, que sua candidatura é a única que se mantém independente na disputa presidencial. 'Sou o único candidato que tem se colocado frontalmente contra o sistema financeiro, o candidato que os banqueiros não querem'', declarou.


Artigos

Carta aberta a Lula
Alfredo J. Gonçalves

Religioso
Amigo Lula, leio declaração sua segundo a qual ''o PT está a poucos dias de ganhar o governo e não pode ficar brincando de fazer plebiscito''.

Sou padre da Igreja Católica e milito no Partido dos Trabalhadores desde sua origem. Lamentavelmente não voto, pois, embora brasileiro de coração, nasci do outro lado do mar. Entretanto, no nascimento do PT, eu estava lá. Como tantos outros cristãos e militantes, contribuí na construção dos milhares de núcleos que, por todo o Brasil, viriam a fortalecer e consolidar o que hoje é o partido.

Estava lá e não estava brincando! Não estava brincando quando participei ativamente, desde os anos 70, de numerosos grupos de apoio às greves dos metalúrgicos no ABC paulista.

Não estava brincando quando ajudei na organização dos movimentos populares em suas lutas pela terra e na terra, pela moradia, por melhores condições de saúde, de educação e de transporte, enfim, pelos direitos básicos de uma cidadania digna.

Não estava brincando quando, a partir de 1995, com numerosos movimentos sociais, organizações e entidades, vimos promovendo o Grito dos Excluídos, como forma de levar às ruas o clamor e a indignação popular, apontando, ao mesmo tempo, caminhos alternativos ao sistema neoliberal, concentrador e excludente.

Não estava brincando quando, em 2000, já como assessor do Setor Pastoral Social da CNBB, integrei a coordenação da Campanha Jubileu Sul na organização d o Plebiscito da Dívida Externa, do qual o próprio PT fez parte, e que levou às urnas mais de 6 milhões de brasileiros e brasileiras, exigindo uma imediata auditoria da dívida.

E não estou brincando neste exato momento, quando, representando a Pastoral Social da CNBB, continuo na coordenação do Plebiscito Nacional sobre a Alca. É público e notório que, se for assinado, o tratado acarretará sérias implicações para a vida da população, a qual tem o direito e o dever de participar no debate, hoje oculto e reservado aos gabinetes de alguns tecnocratas do governo.

Por tudo isso, registro minha surpresa pela sua frase infeliz ao insinuar que o plebiscito é uma ''brincadeira''. Você nos deve explicações: ou um desmentido oficial ou um esclarecimento, em respeito aos milhões de cidadãos e cidadãs que hão de votar no plebiscito de setembro, como também nas eleições de outubro.
Continuo lutando e torcendo pela vitória do Partido dos Trabalhadores.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Atenção aos conselheiros
A exposição de divergências internas não chega a ser novidade na aliança que sustenta a candidatura de Ciro Gomes nem mesmo configura-se problema grave para os respectivos defensores das teses divergentes.

Não faz muito, o senador Roberto Freire dizia que seria mais fácil ele retirar de Ciro a legenda do PPS do que aceitar a companhia do PFL no palanque. Hoje, Antonio Carlos Magalhães já integra o alto comando da campanha e Freire parece completamente confortável em partilhar com ele a mesa de decisões. Quase sempre em posição de franca desvantagem como convém à correlação de forças entre os dois partidos.

Portanto, a divisão de posições estabelecida a respeito da melhor estratégia para enfrentar o adversário José Serra merece atenção, sobretudo naquilo que ela significa em termos de intenções futuras.

Roberto Jefferson, Antonio Carlos Magalhães e Paulo Pereira da Silva acham que o caminho correto para a recuperação do terreno perdido é o da força bruta. Nos casos de Jefferson e Pereira literalmente, pois, enquanto um considera que o candidato tucano precisa ''apanhar'', o outro avisa que ''já estão sendo programados os pescoções''.

Já o ex-senador pela Bahia apela para os clássicos dossiês, defendendo a tese de que Serra deve ser alvo de toda sorte de acusações ainda que sem provas. Como vemos, novidade alguma a acrescentar ao cenário de atuação costumeira desses personagens.

Cumpre ao candidato Ciro, que certamente não abre mão da voz ativa em seu próprio terreiro, cotejar fatos passados e observar a eficácia dos métodos. O baiano, por exemplo, passou anos aos gritos com a nação e terminou prisioneiro do ódio, sem entender que interesse e servidão não significam afeição.

Aliou-se a Ciro determinado a executar sua vingança contra aquele que o venceu usando como arma a tolerância. Portanto, importa-lhe menos a biografia e o destino do candidato que a oportunidade de dar vazão ao que traz no peito represado. É uma forma de conduzir as coisas.

Já a outra é aquela defendida por Roberto Freire, Walfrido Mares Guia e Emerson Kapaz. Nenhum deles é partidário da tese da apatia nem considera que Ciro se deixe abater sem reação ante a ofensiva do adversário.
A questão é que tipo de ofensiva será essa. Esse grupo parece compreender que Ciro não foi vítima de conspirações ou ilações. Tanto é que vários deles, bem antes da pesquisa, já o aconselhavam a domesticar os modos.

Os partidários do vale qualquer coisa até as vias de fato não enxergam além do próprio desconforto caso Serra ou Lula venham a ganhar a eleição. Já os outros, um tanto mais compromissados com o futuro - inclusive por mais bem relacionados com o passado -, sabem que o Brasil não acaba em outubro próximo nem vislumbram de perto o fim das próprias carreiras.

São táticos também. Quando Emerson Kapaz aponta a inutilidade da ressurreição do caso Ricardo Sérgio, e aponta o risco da abertura de flanco para o contra-ataque, sabe o que diz. Ex-diretor do Banco do Brasil, arrecadador de dinheiro para as campanhas de Serra, Ricardo Sérgio aparece em histórias até hoje não muito bem explicadas sobre o processo de privatização do setor de telecomunicações.

Nesse jogo de suspeições, verídicas ou inverídicas, cruzou caminhos nas páginas de jornais e revistas com Carlos Jereissati, irmão de Tasso e um dos empresários engajados na campanha de Ciro. É possível que Kapaz, ao defender a opção pela prudência, esteja querendo evitar que o candidato se deixe levar pelo ressentimento alheio e, por uma dessas armadilhas do destino, se veja obrigado a, no mínimo, compartilhar explicações.

Lição de Mangabeira
Idealizador pioneiro dos fundamentos da campanha de Ciro Gomes à Presidência da República, o professor Mangabeira Unger escreveu artigo na Folha de S.Paulo falando sobre suas descobertas pessoais a respeito do processo político eleitoral.

Uma delas: ''A vivência da campanha me mostrou que nenhum de nós pode cumprir tarefa transformadora sem transformar-se a si mesmo. Descobri antes tarde do que nunca que não posso fazer o que preciso fazer sem tentar mudar meu jeito de ser. É mais fácil mudar um país que mudar uma pessoa.''

Acrescenta o professor, em surpreendente intimidade com a lógica dos fatos: ''A autotransformação acontece devagar e custa caro. Traz, contudo, vida e força. É, ao mesmo tempo, sacrifício e libertação. Ter de mudar para ser fiel a si mesmo é uma das melhores razões para entregar-se a uma grande luta.''
Exato. Há inimigos que não se combate olhando para fora.


Editorial

A MORTE DAS FLORESTAS

O incêndio, iniciado sábado, na Reserva Biológica de Poço das Antas, em Silva Jardim (Norte do Estado do Rio de Janeiro), e que já consumiu mais de um quinto de sua extensão, é bem o exemplo do que acontece quando as autoridades não tomam providências para proteger o meio ambiente.

No momento em que a maioria dos países do mundo se reúne em Joanesburgo, na Cúpula da Terra (ou Rio+10), para apresentar soluções globais aos problemas do planeta, é lamentável que o Brasil, cuja atuação na reunião vem merecendo elogios, ofereça o espetáculo da devastação de suas reservas naturais.

As áreas de risco na época de estiagem são sempre as mesmas. Os responsáveis se queixam da falta de equipamento, mas é fácil observar que a questão é menos de tecnologia e de dinheiro do que de gente. Os países mais adiantados (EUA, Austrália, Nova Zelândia, Rússia, os europeus e até a Argentina) formaram seus batalhões de combate a incêndios. Podem tranqüilamente repassar seu know-how ao Brasil.

Hoje em dia, com os satélites, é fácil localizar qualquer incêndio florestal, logo na primeira fagulha, sem necessidade de correr depois atrás do prejuízo. Basta contar com brigadas especializadas, bem treinadas e equipadas.

O incêndio da Reserva Biológica de Poço das Antas ocorre ironicamente no Estado onde há 10 anos se realizou a Rio-92, acontecimento que mudou a maneira como as pessoas falavam do meio ambiente.

No ritmo desenfreado do desmatamento que aflige várias regiões brasileiras, o Rio foi o mais afetado. Perdeu 13% de suas florestas na primeira metade dos anos 90. Foram altíssimos os índices dos focos de queimadas e incêndios florestais a partir de meados da década. Manteve-se a média anual acima de 110 mil focos.

Os brasileiros e os habitantes de outras partes estão exaurindo os recursos naturais do planeta num ritmo mais rápido do que qualquer geração anterior. Isso não devia acontecer num mundo que pode resolver boa parte dos problemas com tecnologias aptas a evitar desperdício.


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08/29/2002


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