Especial D.O.: Espécies do Zôo de São Paulo recebem tratamento exclusivo no inverno
Répteis, como sucuris e iguanas, diversos tipos de aves e até mamíferos necessitam de cuidados especiais nesta época do ano
Quase não existem no Brasil registros de nascimento em cativeiro do araçari-banana e araçaripoca, espécies que se assemelham ao tucano. No Zoológico de São Paulo, os pioneiros vieram à luz no final de 2005. Por se tratar do primeiro inverno que enfrentam, os dois animais são mantidos numa sala do setor de aves onde a temperatura é controlada por aquecedores. Mas esse tipo de cuidado não se restringe a essas espécies. Répteis como sucuris, jabutis e cágados, muitas aves e até mesmo alguns mamíferos (principalmente filhotes) necessitam também de atenção especial nesta época do ano.
No recinto das serpentes gigantes, por exemplo, onde estão dez sucuris (leia o boxe), há nove aquecedores (distantes meio metro do solo, por meio de fio que pende do teto) para manter a temperatura do local entre 23º e 25ºC. Ectotérmicas (em vez de animais de sangue frio, como são erroneamente chamadas), essas serpentes dependem do aquecimento do ambiente para controlar a sua temperatura corporal.
Por isso, até mesmo o pequeno lago no interior do recinto dispõe do equipamento, que mantém a água entre 25 e 26 graus. Uma resistência (colocada no interior de um recipiente) é mergulhada nesse tanque econtrolada por termostato. Abaixo de 22 graus, o aparelho é acionado, e, acima de 25 graus, desligado. Outro controlador das condições do recinto é o termo-hidrômetro, que fornece as temperaturas mínimas e máximas, especialmente à noite, além da umidade relativa do ar.
Inalação
Nascidos no Zôo de São Paulo, os filhotes de jacaré-de-papo-amarelo, embora num espaço a céu aberto, também dispõem de pequeno lago com água aquecida. O mesmo ocorre no tanque que concentra tartarugas da Amazônia, tracajás (espécie de cágados), jacarés-paguá e jacarés-coroa. Mas, nesse lugar, por ser um lago mais amplo, o aquecimento não tem capacidade de abranger todo o ambiente. No local que abriga a iguana (do nordeste do Brasil), o cágado e o jabuti, o controle da temperatura é feito por aquecedor comum. Outro apetrecho utilizado para proporcionar calor a esses animais – especialmente à iguana – é uma pedra artificial (com resistência interna), comprada em lojas de aquarismo, sobre a qual elas podem ficar.
Do mesmo modo que o frio, o vento pode ser prejudicial a algumas espécies. Para contê-lo, são utilizadas proteções plásticas ou madeira recobrindo as paredes dos recintos. No caso das aves, além desses recursos e do uso de aquecedores de ambiente para evitar o frio, há cuidados com a alimentação. Para os psitacídeos (araras, papagaios, periquitos e similares), por exemplo, é fornecida, em algumas situações, dieta mais rica em gordura, composta de coco e sementes de girassol.
Problemas respiratórios (especialmente pneumonia) são os mais comuns em répteis, aves e mamíferos: sagüis e micos-leão, durante os meses menos quentes. Mas, em razão do trabalho preventivo, não há registros dessas doenças decorrentes do inverno no Zôo de São Paulo, afirma Juliana Russo, bióloga trainee do setor de aves. Inalação e vaporização são as terapias utilizadas nesses casos. Na inalação, por exemplo, o aparelho (semelhante ao de uso humano) é acoplado diretamente a uma caixa acrílica ou gaiola coberta, para que o vapor seja aspirado pelo animal.
O tratador, pelo contato constante, é quem geralmente identifica se determinado animal precisa de cuidados. Quando isso ocorre, o setor de veterinária é acionado para diagnosticar o problema. O tratamento pode compreender desde o aquecimento até a indicação de medicamento para o bicho.
Pingüins
Enquanto répteis e algumas aves e mamíferos têm problemas com o frio, outros animais sentem-se mais à vontade nessa época, como pingüim, tigre siberiano e leopardo-das-neves. Os pingüins do Zôo são todos da mesma espécie, a de Magalhães, região no extremo sul do continente sul-americano. Animais migratórios estão acostumados a variações de até 30 graus de temperatura na natureza. Apesar disso, o Zoológico dispõe de sala com ar-condicionado e pode, em casos extremos, adicionar gelo ao tanque dos animais, para que enfrentem o calor, conforme explica Emerson Costa, biólogo trainee da Divisão de Ensino e Divulgação.
Oscilação de temperatura compromete alimentação dos répteis
Das dez sucuris expostas no Zôo de São Paulo, oito são da espécie Eunectes murinus (de cor cinzento-esverdeada) e duas da Eunectes notaeus (de cor amarelada). A maior delas mede 4,5 metros. As primeiras crescem mais, chegando a atingir de 8,5 m a 9 m, e são encontradas em todo o Brasil. As de cor amarelada (sucuris-amarelas) são do Pantanal mato-grossense. Esses animais alimentam-se uma vez por semana de ratos e cobaias e “comem o equivalente a 10% do seu peso”, informa Edvaldo dos Santos, auxiliar de Biologia que há 20 anos trabalha no setor de répteis do Zôo paulista. O animal de 4,5 metros, por exemplo, que pesa aproximadamente 30 quilos, come cerca de três quilos por semana.
“Nesta época do ano, por conta das temperaturas mais baixas, as sucuris não se alimentam tão bem como no calor. Chegam a ficar dois meses sem se alimentar”, observa Edvaldo. “Mas não que a gente deixe”, explica. “Em compensação, no calor essas serpentes comem muito.” Oscilações de temperatura e umidade (que devem ficar entre 60% e 80%) podem comprometer a alimentação desses répteis, ocasionando problemas com a troca de peles. “Se a pele não sai, vem nova troca, o que causa desconforto ao animal”. Os adultos – a partir de 3,5 metros – trocam de pele de cinco a seis vezes ao ano. Nos filhotes, esse processo se dá com maior intensidade. Pedras e galhos são importantes no ambiente onde vivem esses animais, pois auxiliam a troca.
SERVIÇO
Zoológico de São Paulo
Av. Miguel Stéfano, 4.241 – Água Funda – capital
Aberto de terça-feira a domingo, das 9 às 17 horas
Mais informações, pelo tel. (11) 5073-0811
07/27/2006
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