Especialistas alertam para incerteza no Norte da África



Três meses depois do início das revoltas populares no Norte da África e no Oriente Médio, o otimismo gerado pelas reivindicações por mais liberdade e democracia no mundo árabe começa a ceder espaço à incerteza política. Esta foi uma das conclusões dos participantes da primeira audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) dentro do painel intitulado Cenário Estratégico Internacional e Perspectivas, nesta segunda-feira (11).

Aberta pelo presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), a audiência teve como tema a atual situação política do Egito e da Líbia, dois países que foram palco de manifestações populares que se espalharam nos últimos meses pela região. Na abertura dos trabalhos, Collor afirmou que o objetivo das audiências é o de ajudar a comissão a "ter uma melhor visão dos temas internacionais".

Egípcio de nascimento, o professor Mohamed Habib, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) disse que, para o Brasil, o debate sobre o que vem ocorrendo na Líbia e no Egito fornece a possibilidade de um "momento de reflexão antecipada", uma vez que o Brasil tem um grande potencial na produção de petróleo. Ele sugeriu aos integrantes da comissão que analisem os últimos cem anos do mundo árabe para extrair lições que venham a ser úteis ao país.

Dos dez países que têm maiores gastos militares em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), ressaltou, sete estão no mundo árabe. Ao mesmo tempo, 42% da população do Egito encontram-se abaixo da linha de pobreza, em um "ambiente de corrupção, nepotismo e falta de liberdade", o que levou, a seu ver, ao levante de 25 de janeiro no Cairo.

- Como egípcio que vive há 39 anos no Brasil, não gostaria de ver aqui o que vi no Egito. Por isso deve-se levar a sério a questão da política energética brasileira - recomendou. 

Velocidade dos acontecimentos 

O embaixador Luis Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores, observou que o "mundo se surpreendeu com a velocidade" dos acontecimentos no Norte da África e no Oriente Médio. Ele recordou que o movimento começou na Tunísia de "forma inesperada" e rapidamente se propagou ao Egito. Nesse país, recordou, tentaram identificar o movimento com a "força libertária dos jovens". Ele ressaltou, porém, o papel dos militares do Egito, já descontentes com o então presidente Hosni Mubarak.

Na opinião do embaixador, a Líbia teria menos importância estratégica que o Egito, pela menor população e menor produção de petróleo. A seu ver, a reação das forças do líder líbio Muamar Kadafi aos ataques militares dos rebeldes pode levar a situação a um impasse.

- Creio que o mais provável é que o interesse dos países ocidentais seja o de restabelecer um mínimo de normalidade, com a retomada da produção de petróleo. Já há quem pense que o melhor seria a partição da Líbia - disse o embaixador.

A menor importância relativa da Líbia também foi ressaltada pelo professor Samuel Feldberg, das Faculdades Integradas Rio Branco. Trata-se, na sua opinião, de um "pais relativamente insignificante, que produz menos petróleo que o Brasil e exporta basicamente para a Europa". Ele observou que a Arábia Saudita "quase imediatamente" aumentou sua produção em 2 milhões de barris de petróleo por dia e "acalmou os mercados". 

Intervencionismo 

Por sua vez, o professor Pio Penna Filho, da Universidade de Brasília, chamou atenção para o que chamou de "recrudescimento de politica intervencionista sob o manto do humanitarismo". Ele alertou ainda para o movimento de deslocamento de interesses dos grandes países ocidentais, do Oriente Médio para outras regiões.

- Esta pode ser uma perspectiva de longo prazo para o Brasil e para a zona do Atlântico Sul. Vários países estão deixando o Oriente Médio ou focando outras regiões, como se pode ver na atuação da China na África - observou.

Presente à audiência, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu esforços no sentido de se promover a igualdade e a redução da pobreza no Norte da África e no Oriente Médio. Por sua vez, a senadora Ana Amélia (PP-RS) observou que, apesar de viverem realidades "totalmente distintas", países como Egito, Tunísia e Líbia experimentam "tensão social idêntica".



11/04/2011

Agência Senado


Artigos Relacionados


Especialistas alertam para ameaças potenciais ao Brasil

Especialistas alertam para grave crise de mobilidade urbana

Especialistas alertam para gravidade da situação da dengue no país

No Dia de Combate às Hepatites Virais, especialistas alertam para o diagnóstico precoce

Especialistas alertam para aumento de doenças respiratórias em períodos chuvosos

Solução para guerra fiscal não pode ser brusca, alertam especialistas