Especialistas da Unesp alertam sobre contato com águas-vivas
Aumento na ocorrência desses animais na costa do Estado causou grande número de acidentes
Os feriados de Natal e de Ano Novo no litoral do Estado foram marcados por grande ocorrência de acidentes de banhistas com águas-vivas. Houve registros de mais de 900 casos de queimaduras ocasionadas pelo contato com o animal, só na região que compreende os municípios de Praia Grande e Mongaguá. Também aconteceram vários casos em Peruíbe, Santos, São Vicente e Guarujá. “Trata-se de um perfil bem acima do que costuma ocorrer na região”, afirma o médico dermatologista Vidal Haddad Jr., da Faculdade de Medicina da Unesp, câmpus de Botucatu, especialista em acidentes com animais aquáticos.
Segundo ele, a maioria se deu pelas chamadas caravelas, espécies com grandes tentáculos que secretam substâncias adesivas e urticantes. O quadro clínico apresenta sintomas de dor intensa e queimação imediatamente após o contato. Raramente podem surgir dispnéia, mal-estar, hipotensão arterial e arritmias cardíacas.
Por isso, a maior preocupação do médico perante o aumento de acidentes na Praia Grande foi, juntamente à Secretaria de Saúde do município, padronizar o tratamento. “Baseado em meus dez anos de experiência na área, orientamos os banhistas a usar compressas de água do mar gelada, que tem potente efeito analgésico, nos primeiros socorros. Banhos de vinagre no local comprometido também são úteis”, recomenda Haddad Jr. “Adotamos esses procedimentos com excelentes resultados, já que felizmente lidamos com ferimentos leves, pois não ocorreu nenhum acidente com risco de morte”.
Haddad explica que procedimentos de aplicação imediata, como o uso de urina, corticóides, álcool ou Coca-Cola não têm apoio científico e não devem ser utilizados, sob pena de agravamento do quadro. “Casos com hipotensão arterial e arritmias cardíacas devem ser encaminhados com urgência para um hospital. A providência é essencial também se a dor persistir após as medidas de primeiros socorros”, aconselha o médico.
O especialista ativou uma rede de colaboradores em Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba, além da Praia Grande, para se manter atualizado sobe as ocorrências de caravelas. Pretende fazer uma análise dos dados recolhidos e levar informações para a população no evento Universidade de Verão, que a Universidade Estadual Paulista (Unesp) realizará na Praia do Boqueirão, na Praia Grande, no período de 23 a 30 deste mês. O Dr. Haddad Jr. estará presente na iniciativa, que ocorrerá numa grande tenda na areia da praia, com palestras e exposições sobre o ambiente marinho. As caravelas causam, normalmente, cerca de 25% dos acidentes por animais do mar no Brasil.Situação anormal – De acordo com o professor de zoologia Marcelo Antônio Amaro Pinheiro, da Unesp, o fenômeno incomum teve cinco dias de pico e foi causado pela chegada de fortes correntes marítimas frias à costa do Estado. O especialista, coordenador executivo do câmpus experimental do litoral paulista (CLP) da Unesp, informa que as caravelas vivem principalmente em águas frias, no alto mar, e como sua capacidade de locomoção (por contração) é limitada, não migram. “Elas se deslocam de acordo com a dinâmica dos oceanos, dos ventos. Por isso, quando aparecem nas praias é porque foram carregadas pelas correntes”, explica.
Pinheiro conta que dois alunos do câmpus (que abriga cursos de Biologia Marinha e Gerenciamento Costeiro), em pesquisa na Antártida, observaram que no ano passado o inverno nos pólos foi mais rigoroso. “Isso acaba se refletindo em correntes frias mais fortes no verão, o que pode ter levado a esse deslocamento de maior número de animais”, sugere. O verão, normalmente, é a estação em que ocorrem mais acidentes com águas-vivas, não só porque há muito mais banhistas nessa época. É, também, o período em que elas costumam aparecer por aqui, porque as massas de água mais frias se aproximam da costa.
Água-viva, nem morta
As águas-vivas não atacam as pessoas. Elas produzem as toxinas para se defender dos seus predadores e paralisar suas presas. O contato com banhistas ocorre por acidente. Por isso, os especialistas recomendam o deslocamento lento em áreas onde pode ser observada a ocorrência desses animais, além de vestir roupas escuras. Isso porque algumas águas-vivas conseguem evitar objetos grandes e escuros quando têm oportunidade. Outra orientação para evitar queimaduras é não mexer nelas nem quando mortas, já que seus tentáculos podem grudar na pele e causar ferimento mesmo assim. “O sistema de defesa é involuntário e continua em ação por algum tempo”, avisa Pinheiro.
Da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
01/22/2008
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