Especialistas discutem simplificação do novo acordo ortográfico




Alunos de Kuito, Angola: acordo não conseguiu unir países de língua portuguesa

O grupo de trabalho criado para propor a simplificação e o aperfeiçoamento do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa discutiu seu plano de trabalho nesta quinta-feira (17). A intenção é apresentar, até março de 2015, uma proposta à Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). O texto, então, será levado ao Executivo, que poderá discutir as mudanças com os outros países de Língua Portuguesa.

As regras do acordo foram discutidas pela primeira vez em 1975 e assinadas em 1990. Após um longo período de transição, a implementação no Brasil estava prevista para janeiro de 2013, mas o prazo foi prorrogado para janeiro de 2016 por meio de decreto da Casa Civil. A sugestão partiu dos professores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto, hoje coordenadores do grupo de trabalho, e teve o apoio de senadores integrantes da Comissão de Educação. Após o adiamento, a CE criou o grupo, com a aprovação de requerimento dos senadores Cyro Miranda (PSDB-GO) e Ana Amélia (PP-RS).

Assim como no Brasil, o adiamento da adoção das regras do novo acordo vem sendo uma prática nos outros países signatários. Levantamento feito pelo jornalista e escritor português Pedro Correia, citado por Ernani Pimentel, mostra que somente Brasil e Portugal definiram prazo para pôr em prática as normas. Há, ainda, países que ratificaram o acordo, mas não definiram prazo para levá-lo a efeito. Outros, no entanto, sequer ratificaram o documento, que completa 23 anos.

A demora reflete a dificuldade de cumprir o objetivo inicial do acordo, que, segundo os coordenadores do grupo, era unificar a grafia nos países de Língua Portuguesa. Na opinião dos professores, a unificação não é possível, mas uma aproximação das grafias pode ser buscada.

- Unificar a grafia, como prevê o acordo, seria um pouco irreal. Mas é possível aproximar as grafias. É preciso que, a partir de agora, as discussões sejam mais abertas – sugeriu Pimentel.

Na opinião de Pimentel, a padronização prevista no acordo é "um pouco irreal". Ele acredita na possibilidade de aproximar as grafias, mas para isso seria preciso discutir mais.

O coordenadores do grupo pretendem formar uma rede de contribuição com academias de letras, universidades e especialistas de todo o Brasil. Além disso, devem viajar a Portugal para debater com especialistas portugueses as propostas de simplificação. O intuito é discutir, igualmente, com especialistas dos outros países por meio do sistema de videoconferência do Programa Interlegis do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), órgão educacional do Senado.

Temas

Além da dificuldade de unificar a grafia, Pasquale Cipro Neto criticou a inclusão, no acordo, de temas que não deveriam ser tratados por esse instrumento, como as regras para o uso do hífen. Na entender do professor, o texto traz “aberrações e idiossincrasias” que impedem o cumprimento do objetivo básico do acordo.

- É muito mal costurado, muito mal redigido. Do jeito que o foi engendrado, era melhor que não tivesse acontecido – criticou o professor após se referir ao ajuste ortográfico como “desacordo”.

Ernani Pimentel lembrou que, em todos os países de Língua Portuguesa, a população e os professores não conhecem as regras da grafia. Segundo o professor, entre o ensino fundamental e o médio, são gastas 400 horas de aula com o ensino da ortografia. Com a simplificação das normas, esse tempo poderia ser reduzido a menos da metade.

- A gente pode simplificar essas regras para serem dadas em 150 horas-aula e as pessoas saírem com muito mais eficiência na hora de escrever - afirmou.

A definição dos temas que serão abordados pelo grupo e o plano de trabalho devem ser divulgados dentro de poucos dias pela comissão.



17/10/2013

Agência Senado


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