Estudantes, professores e técnicos relatam situação precária da Uergs



Durante o seminário sobre os problemas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Uergs), estudantes, professores e técnicos da instituição levaram aos presentes um resumo das dificuldades enfrentadas pela instituição. Foi inclusive exibido um vídeo sobre a situação da universidade, feito pelo Movimento Pró-Uergs, capitaneado pelos estudantes. O seminário foi promovido conjuntamente pelas comissões de Educação (CE) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal, nesta segunda-feira (4), em Porto Alegre.

No vídeo, os estudantes ressaltam o "descaso dos governantes" com a Uergs e enumeram diversos problemas da instituição: falta de professores, equipamentos sucateados, diminuição das vagas no vestibular, ausência de eleições para reitor, e até "descarga quebrada" e "infiltrações nas paredes" de salas de aula e laboratórios. Mais de dez alunos puderam usar da palavra para complementar as reivindicações do movimento. Também foram ouvidos representantes dos professores, dos servidores técnicos e da sociedade civil organizada.

Rafael Simões, representando a União Nacional dos Estudantes (UNE) destacou o bom desempenho dos estudantes da Uergs no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), resultado esse que ele atribuiu ao empenho dos estudantes, servidores técnico-administrativos e professores. Ele também criticou e lamentou a ausência da secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Mariza Abreu, que representaria o governo estadual no seminário mas não compareceu.

Um dos professores presentes, Marcelo Christoff, disse que, no início de 2007, foram demitidos e afastados vários professores, sobrando apenas os 80 professores concursados da Uergs, Christoff entre eles. Ele também cobrou a necessidade de eleições para escolher o reitor da universidade. O atual reitor, Carlos Alberto Martins Callegaro, escolhido pelo governo estadual, reconheceu que a Uergs "está em crise de crescimento" e disse que a reitoria está compromissada em consolidar a instituição.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que presidiu o seminário, informou que 82% das crianças brasileiras não conseguem ingressar no ensino superior. Ele disse que no Brasil ainda existem 15 milhões de analfabetos e lamentou que as estatísticas apontem que 30 milhões de jovens não conseguirão concluir o ensino médio.

- Estamos no século do conhecimento e não teremos futuro se as instituições educacionais do país não forem de excelente qualidade. As universidades, como todos os setores da sociedade, precisam reformular seus conceitos e concepções. A educação é a matéria-prima para o desenvolvimento do país - disse Cristovam.

A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) disse que o governo federal já anunciou a implantação de dez novas universidades no Brasil, incluída a Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Ela também reclamou da diminuição de vagas na Uergs nos últimos anos (cerca de 40%) e cobrou responsabilidade da governadora, senadores, deputados federais e estaduais, e de toda a população do Rio Grande do Sul frente aos problemas da Uergs. A presidenta da Comissão de Educação e Cultura da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputada Marisa Formolo (PT), criticou a ausência dos secretários de Educação e da Fazenda do estado.

- Nós queremos a Uergs renascendo - sentenciou Marisa Formolo.

O estudante Márcio, representante do Movimento Pró-Uergs lembrou que a Uergs foi criada com o caráter de alavancar o desenvolvimento sustentável do estado. Ele clamou por ajuda dos senadores e deputados federais e estaduais. O estudante também acusou a reitoria de não promover diálogo satisfatório com os alunos e pediu que os estudantes tenham representantes em todas as instâncias de discussão dos problemas da universidade.

O senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) disse que a Uergs realmente precisa ser reestruturada e declarou "voto de confiança" ao reitor. Ele elogiou o vídeo "inteligente e sensível" apresentado pelos estudantes. Zambiasi também disse que a criação e implantação da Unipampa devem ser debatidas amplamente. O senador defendeu ainda a criação da Universidade do Mercosul, que aproximaria os países sul-americanos em sua opinião.

- O Brasil tem fronteiras amplas com a Argentina e o Uruguai, e a Universidade do Mercosul poderá trabalhar em parceria com a Uergs e com outras universidades da região, como as futuras Unipampa e Universidade Federal da Fronteira Oeste - afirmou Zambiasi.

Já o senador Paulo Paim (PT-RS) elogiou a mobilização de alunos, professores e técnicos em prol da Uergs e cobrou do governo estadual verbas para a universidade. Paim também destacou a necessidade da Uergs ter uma "gestão democrática" e disse que já apresentou uma emenda de bancada em favor da Uergs, "pólo fundamental para o desenvolvimento da economia do Rio Grande do Sul".

- Aquela não será a última formatura! Faremos milhares de outras! - disse Paim sobre recente formatura de estudantes de Pedagogia da Uergs que, devido às dificuldades da universidade, poderia ser a última formatura em Pedagogia da instituição

O deputado estadual Raul Carrion (PCdoB) afirmou que a Uergs está em "crise de definhamento". Ele lembrou que, no mês passado, estudantes da Uergs fizeram manifestação em frente ao Palácio Piratini, sede do governo estadual, quando promoveram um "enterro simbólico da Uergs" com um caixão de papelão. Já o deputado estadual Adão Villaverde (PT) ressaltou que a universidade é uma instituição estratégica para o ensino superior do estado e do Brasil.

O professor Fernando Molinos, representante do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), ressaltou que "a crise não é só da Uergs, é de todo o sistema nacional de ensino superior". Ele disse ser indispensável que a Uergs mantenha o tripé pesquisa, ensino e extensão em seus princípios. A deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) disse que a universidade precisa "dos recursos necessários para manutenção" e acrescentou que Uergs foi criada com a intenção de promover "acesso democratizado" ao ensino superior. A vice-presidente da Associação de Educadores Populares de Porto Alegre, Leonice de Deus, disse que a Uergs precisa auxiliar na capacitação e aperfeiçoamento dos mais de 2.500 educadores populares da capital gaúcha, que atendem mais de 80 mil crianças.



04/06/2007

Agência Senado


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