Estudo analisa contaminantes emergentes no Brasil
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) concluiu um estudo que aponta a utilização de cerca de 800 contaminantes emergentes no Brasil. A questão preocupante é que eles podem interferir no sistema endócrino humano e alterar a formação e composição da biodiversidade.
Recentemente, o vice-coordenador do INCTAA, Wilson Jardim, esteve representando o Brasil em um encontro do Programa Abordagem Estratégica para a Gestão Internacional de Produtos Químicos (SAICM), realizado na Cidade do México, em agosto. O evento teve como objetivo debater o cenário na América Central e América do Sul, sendo que Jardim foi convidado para apresentar o trabalho desenvolvido sobre os contaminantes emergentes no Brasil.
Um relatório publicado no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), já havia alertado sobre a necessidade do controle dos níveis globais destes compostos que causam interferência endócrina. Devido ao número elevado de produtos considerados interferentes, os responsáveis pelas iniciativas acima citadas decidiram incluir o tema definitivamente como prioritário.
O documento apontou, ainda, para o crescente número de evidências relacionadas a desordens na saúde humana associadas ao sistema endócrino, bem como seus efeitos na vida selvagem. A conclusão aponta que os riscos da exposição a estes compostos pode estar sendo subestimado. “Se um composto exógeno ou estranho no organismo confunde nosso sistema hormonal, seja por inibição ou por estímulo, então temos um desequilíbrio. Este desequilíbrio pode se manifestar de várias formas, dependendo de qual glândula e quais hormônios estão sendo afetados”, explica Jardim.
Como consequência, o ser humano pode manifestar doenças como diabetes, obesidade, câncer de tireoide, de testículo, de ovário, antecipação da menarca, indefinição sexual, entre outros. Na biodiversidade, entre as consequências apontadas pelo pesquisador, estão a feminilização dos machos já observados em peixes, o imposex em bivalves, o declínio da população de crocodilos na Flórida (EUA) e uma série de outros efeitos similares já documentados em aves, roedores e mamíferos.
Os contaminantes emergentes podem ser encontrados em itens utilizados no cotidiano da sociedade, como em nanomateriais, produtos de higiene pessoal como os protetores solares, hormônios sintéticos, pesticidas, inseticidas e retardantes de chama.
O pesquisador alerta que os efeitos na saúde humana podem levar décadas para serem manifestados, por conta disso, é difícil identificar a influência destes compostos no organismo e atrelar a eles os efeitos, desta forma, os governos podem estar subestimando suas consequências. “Como são muitos os compostos, cada região do globo tem basicamente seu problema. Os compostos estão intimamente relacionados com o desenvolvimento econômico”, diz. “Países em desenvolvimento, geralmente, tem problemas com os pesticidas, pela vocação agrícola, e com hormônios, pela falta de saneamento”, ressalta.
Ele afirma também que existem poucos dados sobre os verdadeiros efeitos destes compostos na biodiversidade, em especial na América Latina. “Os inventários de concentrações medidas nas diversas matrizes ambientais também são escassos”, observa Jardim.
Em sua opinião, algumas medidas poderiam ser consideradas pelos governos destas regiões efetivamente. “Primeiro seria necessário identificar claramente quais os compostos que podem comprometer a saúde do ambiente e do ser humano. Esse tipo de inventário ainda é incipiente no Brasil, por exemplo. Uma vez diagnosticado, procurar substitutos para estes compostos ou minimizar suas aplicações”.
O pesquisador lembrou que o encontro do SAICM incluiu o tema entre os assuntos preocupantes para os governantes, responsáveis pela tomada de decisão na América Latina. “Por ser um assunto novo para os governos foram delineadas as primeiras ações, que serão tomadas para conhecer o problema em cada um destes países”, informou.
Sistema Endócrino - É responsável por vários processos no corpo humano, incluindo o crescimento e desenvolvimento sexual, sendo que para isso são produzidos hormônios que atuam nas mais diversas partes do corpo, em quantidades muito pequenas. As principais glândulas produtoras de hormônios são a hipófise, a tireóide, as paratireóides, as supra-renais, o pâncreas, ovários e testículos e o timo. Os hormônios são substâncias consideradas vitais para o equilíbrio do organismo.
Para mapear o cenário brasileiro, além do estudo sobre os contaminantes emergentes utilizados, o INCTAA vem desenvolvendo um projeto de pesquisa destinado a produzir uma radiografia da situação dos mananciais e da qualidade da água de abastecimento fornecida à população brasileira, bem como para subsidiar políticas públicas referentes ao assunto.
Fonte:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
14/10/2013 17:01
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