Estudo aponta maior incidência de perseguição e preconceito em escolas com baixo rendimento



Escolas em que se observaram mais atitudes agressivas entre os alunos estão no rol das que apresentaram as avaliações mais baixas em Português e Matemática na Prova Brasil de 2007. A relação foi identificada pelo cruzamento de pesquisa que examinou a compreensão do tema "Diversidade na Comunidade Escolar do País" com os resultados do teste que afere anualmente a evolução da qualidade do ensino básico.

O tema foi abordado pelo pesquisador José Batista de Albuquerque em audiência desta quarta-feira (4) na Comissão de Educação, Cultura e Esportes (CE). Da lista de comportamentos agressivos constam os diversos modos de perseguição conhecidos atualmente como bullying e a manifestação de preconceitos

O pesquisador esclareceu, após a audiência, que os dados não permitem estabelecer uma relação de causa e efeito entre os dois problemas - ou seja, não é possível dizer que o preconceito é a causa determinante do baixo desempenho. No entanto, mesmo isolando outros elementos, ele disse ser ainda possível atribuir as variações dos resultados em provas a atitudes, crenças e valores dos atores do ambiente escolar. Da mesma forma, influem aspectos como a distância social e o conhecimento de situações de bullying em que professores e funcionários são vítimas.

- Essa pesquisa consegue apreender esse fenômeno, quantificando estatisticamente um desempenho negativo influenciado por esses elementos - destacou.

Ainda em fase de tratamento de resultados, a pesquisa envolveu consulta a mais de 15 mil estudantes do ensino básico em todo o país, além de significativo número de professores, funcionários de escolas, diretores e pais envolvidos nos conselhos escolares. O objetivo foi levantar atitudes em relação a questões de gênero, raça e etnia, orientação sexual e deficiência física, entre outros temas.

Seminário

A audiência em que o estudo foi apresentado correspondeu ao terceiro painel do seminário Diversidade nas Escolas: Preconceito e Inclusão, organizado com o objetivo de colher subsídios para o novo Plano Nacional de Educação. Os trabalhos foram coordenados pela presidente da CE, senadora Fátima Cleide (PT-RO).

Para a coordenadora Denise Carreira, da organização Ação Educativa, ainda predomina no país um discurso apoiado na idéia de que "todos são iguais", sem a valorização das diferentes identidades, em meio a "silêncio e omissão" diante de discriminações e violações diárias. Como assinalou, situações desse tipo aparecem de forma intensa no ambiente escolar, como visto em pesquisa também realizada em 2007 pela organização, na qual ela coordena o programa Diversidade e Raça.

- Essas situações têm um impacto terrível na aprendizagem e no desenvolvimento das pessoas negras, contribuindo ainda para manter, no ambiente escolar, culturas discriminatórias presentes na sociedade - observou Denise, cobrando ousadia e instrumentos eficazes no futuro Plano Nacional de Educação para o enfrentamento do problema.

Especialista em educação da Unesco, órgão da ONU para a área da educação, Thimoty Denis Ireland destacou ações que a entidade vem promovendo no país para promover a diversidade e contra o racismo. Entre outras iniciativas, ele citou o apoio para tornar efetiva a lei que, desde 2003, tornou obrigatória a inclusão de conteúdos relativos à contribuição africana para a história e a cultura nacionais. A UNESCO patrocinou a tradução e entrega de material didático para a formação de professores nesses temas - livros, conteúdos em mídia interativa, jogos africanos e atlas geográfico, entre outros.

- Como se diz aqui no país, há leis que pegam e outras não. Essa está demorando em pegar - comentou.

Outro expositor foi o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Luiz de Figueiredo Lázaro, que representou o Ministério da Educação. Entre outros pontos, ele destacou a importância da valorização do professor para a qualificação da educação no país.

O seminário promovido pela CE resultou de proposta apoiada por Fátima Cleide e mais quatro senadores: Paulo Paim (PT-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Flávio Arns (PSDB-PR) e Ideli Salvati (PT-SC).



04/08/2010

Agência Senado


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