Estudo avalia impactos do ecoturismo no Vale do Ribeira



Pesquisa foi conduzida por pesquisador da Unicamp

As atividades voltadas para o ecoturismo no Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, têm sido defendidas por muitos como uma fórmula capaz de proporcionar crescimento econômico e de manter preservada a diversidade local. Para o ecólogo Jaime Nogueira Mendes Júnior, no entanto, há questões a serem consideradas neste contexto.

Em estudo desenvolvido para fundamentar sua tese de doutorado, defendida no Instituto de Geociências (IG), Mendes Júnior critica a forma como a agenda de ecoturismo está sendo encaminhada no Vale. “A região possui uma diversidade cultural incrível. Temos os quilombos, as comunidades caipiras, os caiçaras e os indígenas, além da biodiversidade da Mata Atlântica. Neste sentido, é importante estar atento ao processo de ‘pasteurização’ das comunidades locais em razão de um ecoturismo essencialmente mercadológico, e aos prejuízos culturais e ambientais que essas atividades poderão causar na região”, argumenta.

O ecólogo, que foi orientado pelo professor Marcos César Ferreira, lembra que outras iniciativas no passado trouxeram um custo social e ambiental elevado por meio de estratégias de dominação. Os ciclos do arroz e do ouro, por exemplo, beneficiaram determinados segmentos e causaram grande prejuízo sócio-ambiental.

Mendes Júnior acredita que, da forma como o ecoturismo está sendo proposto, o Vale corre o risco de reproduzir as mesmas relações de produção dos ciclos econômicos do passado. “Seus principais elementos pode ser descaracterizados”.

As referências adotadas pela agenda de ecoturismo sobre a qualidade dos serviços de acomodação, diz o pesquisador, são um caso típico. A adoção como modelo, por exemplo, de uma publicação – guia turístico –, cujo sistema de pontuação valoriza estabelecimentos com sauna, garagem e toboáguas, impõe novos valores às comunidades locais, ao passo que sinaliza para um processo de expropriação dos meios de produção. “Tudo isso introduz elementos estranhos ao universo cultural das comunidades. Eles são incoerentes com a definição oficial de ecoturismo”, exemplifica.

Outra referência seriam as iniciativas para manter os jovens na região com o objetivo de evitar as altas taxas de migração. Uma dessas iniciativas, um curso para monitores ambientais, traz justamente o conhecimento científico produzido a partir de uma lógica urbano-industrial para os jovens das comunidades locais que, por sua vez, relegam ao esquecimento o conhecimento tradicional e a própria identidade cultural. “O respeito à cultura local fica no discurso. Na prática, os órgãos envolvidos com a implementação do ecoturismo no Vale desenvolvem programas que colocam em risco o patrimônio cultural e ambiental na região”, observa.

Para Mendes Júnior, um modelo eficiente de ecoturismo deve respeitar a cultura da região com as suas especificidades e não obrigar as comunidades se adaptarem a uma lógica estranha ao lugar turístico. Os esquemas de certificação do ecoturismo para aquisição de selos de qualidade, segundo o ecólogo, são exemplos de medidas com resultados contraditórios. “Os custos das auditorias num sistema de certificação são sempre muito altos. Isso acaba operando como uma barreira para o pequeno produtor ou empresário”, alerta.

O pesquisador passou anos colhendo depoimentos da população do Vale do Ribeira, e analisando os documentos oficiais sobre o ecoturismo na região. “Procurei me introduzir na vida cotidiana da população. Fiz questão de não ser apenas um pesquisador, mas, essencialmente, um turista observador”, destaca.

Antes de sua aproximação com o Vale, o ecólogo tinha uma idéia completamente equivocada do lugar. Ele imaginava, pelos relatos que recebia, que se tratava simplesmente de uma região miserável, cuja produção se limitava apenas ao chá e à banana. O que observou, no entanto, foi uma diversidade enorme. “O Vale é um lugar que, além de sua beleza peculiar, apresenta uma alta complexidade”, finaliza.

Do Jornal da Unicamp

(I.P.)



11/17/2007


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