Expedição analisa áreas bem conservadas da caatinga



Pesquisadores da Floresta Nacional (Flona) da Restinga de Cabedelo (PB), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) participaram da expedição Catingueira 2014, que percorreu quase quatro mil quilômetros entre o oeste de Pernambuco, o sul do Piauí e o norte da Bahia.

A atividade, realizada de 23 a 30 de janeiro e custeada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com apoio logístico da Flona da Restinga de Cabedelo, buscou analisar o impacto humano sobre a Caatinga e identificar áreas bem conservadas deste bioma no semiárido nordestino.

"Queríamos ver as caatingas em seu estado mais conservado, nas regiões menos densamente povoadas, para ter uma impressão geral de como esse ecossistema difere das zonas mais povoadas (próximas às capitais) que conhecemos e das zonas mais distantes", explica Felipe Melo, pesquisador do Laboratório de Ecologia Aplicada da UFPE.

Descoberta e necessidade de conservação

Entre as descobertas da prospecção estão as próprias áreas de Caatinga bem conservada nessas regiões, como Boqueirão da Onça, em Sento Sé (BA), onde os pesquisadores encontraram a terceira população de Discocactus bahiensis – cacto endêmico da Caatinga – de que se tem conhecimento no Brasil.

"Esta área é um testemunho biológico e histórico do sertão, da Caatinga. Lugar de valor inestimável à conservação da biodiversidade, cheio de nascentes e riquezas paleontológicas e arqueológicas, mas também por onde passou a Coluna Prestes por duas vezes", avalia Felipe, ressaltando a necessidade de conservação do local. "Precisamos criar mais unidades de conservação para proteger as últimas porções verdadeiramente conservadas de Caatinga."

Além de Boqueirão da Onça, outra área conservada identificada pelos pesquisadores como prioritária para criação de UC está no oeste pernambucano, para a qual José Alves, da Univasf, propõe a criação do Parque do Tatu-Bola, que seria dedicado ao animal símbolo da Copa do Mundo deste ano, abrangendo os municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista.

Para entender e conservar a Caatinga

De acordo com Felipe, a expedição Catingueira 2014 agrega valor ao Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD) aprovado por diversos pesquisadores, entre os quais os envolvidos na expedição, junto ao CNPq com o objetivo de entender como as mudanças climáticas e de uso de solo estão afetando a biodiversidade das caatingas. Segundo ele, os locais identificados na prospecção serão alvo de novas expedições e estudos contínuos em Ecologia, Botânica, Zoologia e Socioecologia.

"Essa atividade conjunta", enfatiza Orione Álvares, analista ambiental da Flona da Restinga de Cabedelo, "marca uma aproximação definitiva entre as linhas de pesquisa dos pesquisadores envolvidos, unindo o Projeto Extremo Oriental das Américas – iniciativa conservacionista regional idealizada pela Flona –, a UFPB, a UFPE e a Univasf para o intercâmbio de conhecimentos e competências em prol da conservação da Caatinga".

Nesse sentido, Bráulio Santos, do Departamento de Ecologia e Sistemática da UFPB, destaca que a mobilização de esforços para o estudo do referido bioma auxiliará na análise do impacto das perturbações crônicas que atingem a Caatinga. "Diferentemente do desmatamento, estas são perturbações humanas dificilmente captadas por imagens de satélite, porém muito frequentes e com grandes danos ao ambiente, como o lixo, a extração de lenha e a criação extensiva de caprinos e bovinos", explica.

Artigo científico

Ante as conclusões obtidas através da última expedição, o grupo de pesquisadores também deverá elaborar um artigo científico que se pretenderá "uma síntese provocativa sobre a Caatinga", segundo Felipe.
"Queremos mostrar que temos um fértil ambiente de questões de fronteira científica e de conservação que podem ser respondidas usando as caatingas como modelo. Afinal, o outro ecossistema que tem uma presença humana tão intensa e antiga é a Mata Atlântica, mas esta foi totalmente modificada e devastada, enquanto as caatingas ainda estão em grande quantidade – a maioria modificada, mas prestando serviços ambientais e abrigando biodiversidade", pondera.

No blog do Laboratório de Ecologia Aplicada da UFPE, os pesquisadores têm publicado a série de relatos "Os ensinamentos das Caatingas", elucidando as motivações e conclusões da expedição Catingueira 2014. Para saber mais, acesse aqui.

Fonte:
ICMBio



21/02/2014 17:05


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