Exposição reúne fotos de trabalhadores para carteira profissional



Quando instituiu, por decreto, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943, o então presidente Getúlio Vargas não esperava que a nova legislação, que assegurava direitos aos trabalhadores brasileiros, fosse despertar na classe operária o gosto por ser fotografado. É o que mostra a exposição "Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico através da CLT", que fica em cartaz no Palácio do Planalto de 3 de dezembro a 8 de janeiro de 2014.

Além de tornar obrigatória a Carteira de Trabalho e Previdência Social para o exercício de qualquer emprego, a CLT, em seu artigo 16, determinava que todas carteiras profissionais tivessem um fotografia do trabalhador, onde deveria constar a data em que foi tirada. Isso fez com que muitos trabalhadores fossem fotografados pela primeira vez na vida. “Eles tiravam a foto para o documento e gostavam, aí voltavam para tirar foto com a família, de corpo inteiro, como faziam os mais ricos na época”, conta o fotógrafo Assis Horta, de 95 anos, que entre as décadas de 40 e 70 do século passado manteve, na cidade de Diamantina (MG), o estúdio Photo Assis.

Alguns não tinham terno ou chapéu, indumentária que fazia parte do protocolo fotográfico da época. “Eu deixava uns ternos meus e uns chapéus no estúdio, para quem não tinha”, conta o fotógrafo, ao explicar porque um dos retratados da exposição está com os dedos exatamente sobre o botão mais alto do terno. “Esse não tinha o botão, aí disse a ele para colocar a mão, como se estivesse abotoando”, lembra o nonagenário.

Outros insistiam em ser fotografados com as roupas do dia a dia, algo incomum numa época em que as famílias abastadas vestiam as melhores roupas para serem eternizados nas chapas de vidro sensibilizadas com iodeto de potássio e nitrato de prata, a técnica usada naqueles tempos. “Esse aqui quis sair assim na foto, não quis trocar nem a calça rasgada”, conta, referindo-se ao retratado que está quase em andrajos, segurando uma cesta e um cajado.

A descoberta do acervo de Assis Horta aconteceu por acaso, quando o também fotógrafo e designer Guilherme Horta, que tem um estúdio de digitalização de imagens em Belo Horizonte, foi contratado pelo Museu do Diamante, de Diamantina, para digitalizar fotos de construções
históricas da cidade, que tinham sido feitas por Assis Horta. “Quando cheguei no estúdio dele, vi estas fotos de pessoas, eram milhares de placas, e quase todas com datas próximas e foi aí que ele me explicou a razão”, explica Guilherme Horta, que decidiu mergulhar naquele acervo e apresentar um projeto que acabou sendo contemplado com o XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 2012, promovido pela Funarte/MinC.

O resultado são 200 fotos dos primeiros trabalhadores dimantinenses a conquistar um emprego com carteira assinada. Os mesmos que depois voltaram para tirar fotos com suas “roupas de domingo”, muitos acompanhados da família. O material foi antes exposto na cidade de Ouro Preto, em maio deste ano, para marcar os 70 anos da CLT. Também como parte da mostra, uma instalação reproduz um estúdio fotográfico da época, com uma cadeira, um tapete e, na parede, um pôster com sugestões de poses para os fotografados.

Fonte:

Portal Brasil

Instituto Brasileiro de Museus



02/12/2013 18:58


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