Fapesp investe em pesquisas contra esquistossomose e mal de Chagas



Estudos podem representar alternativa para o combate às doenças até então esquecidas, apesar de atingirem milhões de pessoas no mundo

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) investe mais de R$ 1,4 milhão para ajudar pesquisadores da Universidade de Franca (Uni­fran), no interior paulista, a desenvolver medicamentos contra esquistossomose e mal de Chagas. O estudo também conta com parceria da JP Indústria Farma­cêutica, que injeta R$ 400 mil. Após os testes pré-clínicos (em roedores e não roedores) e clínicos (em humanos), a expectativa é que as novas fórmulas cheguem ao mercado em 2015.

Apesar de atingirem milhões de pessoas no mundo, as doenças eram até então negligenciadas pelos laboratórios e institutos de pesquisa. Só no Brasil, afetam mais de 20 milhões de pessoas. "Para esquistossomose, hoje só existe um remédio no planeta, ao passo que há o registro de 300 milhões de infectados em todas as nações e 600 milhões de pessoas vivendo em 72 países considerados áreas de risco", frisa o farmacêutico Márcio Luís Andrade e Silva, docente de Química da Unifran. Para os dois novos medicamentos, há pedidos de patentes depositados no Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa e Japão.

O trabalho começou em 2000, quando a Fapesp aprovou o projeto Jovem Pesquisador em Centros Emergentes para ser desenvolvido na Unifran. A ideia foi estudar sementes da Piper cubeba, condimento alimentar importado da Índia. Descobriu-se que derivados semissintéticos obtidos de cubebina (substância majoritária isolada da pimenta) apresentam ações esquistossomicida (impede a postura de ovos do parasita Schistosoma mansoni no organismo humano) e combate a instalação do Tripanossoma cruzi, causador do mal de Chagas.

Fontes naturais 

"No caso do mal de Chagas, fizemos alguns ensaios em camundongos, realizados nos laboratórios da Universidade de Franca, que comparavam a aplicação dos nossos fármacos com os disponíveis no mercado. Detectamos que os animais vivem mais tempo com nosso medicamento", conta o farmacêutico e também coordenador da pesquisa.

Os medicamentos contra essas doenças, atualmente disponíveis no mercado, apresentam limitações de uso, graças aos efeitos colaterais e à ação tóxica que causam no organismo, sendo inclusive contraindicados nos casos mais graves. "Já as drogas que estamos desenvolvendo são geradas de fontes naturais. E os estudos de toxicidade em animais revelaram que não há efeitos colaterais", frisa o docente.

O próximo passo dos estudos é obter investimento de R$ 4 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para aprimorar a composição dos medicamentos e chegar a 100% de eficácia. Os recursos também serão empregados para realizar ensaios pré-clínicos de toxicidade em animais em laboratórios especializados. Posteriormente, planeja-se executar testes clínicos em humanos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Da Agência Imprensa Oficial



02/02/2012


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