Febraban diz que crédito não voltará mais aos níveis dos últimos anos



O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Colletti Barbosa, afirmou nesta quinta-feira (26) aos senadores que o crédito no mundo não voltará aos elevados níveis anteriores à crise financeira por um motivo simples: "Foi exatamente o excesso de crédito fácil que levou à crise. O crédito vai voltar, mas essa situação não se repetirá". Barbosa não acredita que o Brasil voltará a ter elevado crescimento antes de uma retomada da economia norte-americana.

Ele foi questionado por mais de duas horas pelos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e da Comissão de Acompanhamento da Crise Financeira e da Empregabilidade, presididas respectivamente pelos senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Francisco Dornelles (PP-RJ).

Barbosa apresentou números para provar que o crédito no Brasil continua nos mesmos níveis do ano passado, ao contrário do que ocorreu nos países ricos. O problema é que muitas grandes empresas brasileiras, que perderam crédito no exterior, se voltaram ao sistema financeiro brasileiro, disputando os recursos com as pequenas e médias empresas. Para ele, "o crédito está voltando, mas não ainda não chegou a todas as áreas".

Vários senadores questionaram os elevados lucros do sistema bancário nos últimos dez anos, contrastando com os elevados spreads que os bancos cobram no país. Spread é a diferença entre o juro recebido por quem aplica no banco e o juro cobrado pelo banco ao financiar seus clientes.

Depois de lembrar que os bancos alegam que 37,3% do spread bancário se deve à inadimplência, Francisco Dornelles quis saber em quanto cairiam as taxas de juros se a inadimplência fosse de zero. Fábio Barbosa não soube precisar um percentual, mas ponderou que cairia bastante. Disse que nos empréstimos onde há garantia, como no caso de automóveis, a taxa de juros brasileira se aproxima da taxa de países ricos. Isso porque o banco pode retomar o carro se o comprador não pagar o financiamento.

Conforme o presidente da Febrabam, o spread é aumentado por vários fatores, além da inadimplência. Os impostos são responsáveis por 18,3% do custo do dinheiro, os custos administrativos, por 13,5%, a inadimplência, por 37,4% e o compulsório depositado obrigatoriamente no Banco Central é responsável por 3,5%. Explicou que o lucro bancário representa 26,9% do spread.

Ele apontou o cadastro positivo de bons pagadores, em discussão no Congresso, como um dos caminhos para se reduzir os juros cobrados dos consumidores. Fábio Barbosa admitiu que a ausência de informações confiáveis na feitura de cadastros das pessoas contribui para a elevada inadimplência.

O senador Jayme Campos (DEM-MT) mostrou-se inconformado com os elevados juros cobrados dos consumidores, especialmente no cheque especial. Para ele, "banco é o melhor negócio do mundo". O presidente da Febraban afirmou que banco que não tem boa lucratividade corre risco de morrer, pois ninguém tem coragem de colocar dinheiro em uma instituição que não seja lucrativa.

Tasso Jereissati (PSDB-CE) opinou que há baixa concorrência no sistema bancário brasileiro e isso contribui para os altos juros cobrados nos empréstimos. O senador manifestou ainda que os bancos dão preferência a aplicar em títulos da dívida do governo federal, em vez de emprestar para o setor produtivo. Ele foi contestado pelo presidente da Febraban, para quem "banco que hoje tentar viver de título público é banco que corre risco", por causa da baixa dos juros.

Também criticaram os elevados spreads os senadores Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e João Tenório (PSDB-AL).



26/03/2009

Agência Senado


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